A invisibilização dos indígenas e dos negros nas histórias das fortalezas catarinenses e o Ensino de História

  • Pedro Mülbersted Pereira UFSC
  • Jéssica Lícia da Assumpção Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Resumo

Este artigo aborda a invisibilização da população indígena e negra na história da Fortaleza de Anhatomirim, através de uma leitura de uma dada historiografia catarinense, e traz a discussão referente às práticas educativas dos projetos envolvendo esta fortaleza e o ensino de história. Dessa forma, apresentaremos o processo de patrimonialização, compreendido em três movimentos: discursos, restauro e usos. Dentre os discursos, elencamos as narrativas provenientes de uma dada historiografia catarinense, marcadamente eurocêntrica, que privilegia as contribuições dos colonizadores europeus em detrimento dos povos indígenas, africanos e afrodescendentes para a formação social, econômica e cultural de Santa Catarina. Além invizibilização da história, a construção do patrimônio nacional foi pautada em uma identidade nacional universal. Mostrarem a possibilidade de um diálogo intercultural, abordando a dimensão imaterial do patrimônio material, a fim de trazer outras histórias, outras memórias de outros sujeitos a partir da relação entre ensino de História, educação patrimonial crítica e emancipadora e o patrimônio cultural pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e ampliadas pelas leis 10.639/03 e 11.465/08 para discutir as questões étnico-raciais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jéssica Lícia da Assumpção, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Mestranda do Programa de Pós-graduação em História Global - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na linha de pesquisa: História Indígena, Etnohistória e Arqueologia, Bolsista Capes. Integrante do Laboratório de História Indígena- UFSC. Bacharela e licenciada em História pela UFSC.

Referências

ACHINTE, Adolfo Albán. Pedagogías de la re-existencia. Artistas indígenas y afrocolombianos. In: WALSH, Catherine (Ed.). Pedagogías decoloniales: prácticas insurgentes de resistir, (re) existir y (re)vivir. Tomo I. Quito, Ecuador: Ediciones Abya-Yala, 2013, pp. 443-469.

AMARAL, João Paulo Pereira do. Da colonialidade do patrimônio ao patrimônio decolonial. 2015. 158 f. Dissertação (Mestrado) – Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 2015.

BARTOLOMEU MÈLIA, s.j. Teko porã: formas do bom viver guarani, memória e futuro. In: SILVEIRA, Nádia Heusi; MELO, Clarissa Rocha; JESUS, Suzana Cavalheiro de. Dialógos com os Guarani: articulando compreensões antropológicas e indígenas. Florianópolis: Editora UFSC, 2016. pp. 23-30.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: História, Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Lei nº 9.3944/1996 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília.

BRANDÃO, Jefté. A História das Fortalezas Catarinenses no século XIX. Revista Ágora, Vitória, n. 17, p. 32-48. 2013.

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. In.: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012 (Obras Escolhidas v. 1)

CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo & escravidão no Brasil meridional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

CARDOSO, Fernando Henrique; IANNI, Octávio. Cor e mobilidade social em Florianópolis: aspectos das relações entre negros e brancos numa comunidade do Brasil meridional. São Paulo: Ed. Nacional, 1960.

CARDOSO, Salete Rodrigues; FEITOSA, Diane Mendes Pereira. O Ensino da história e cultura afro-braseileira nos currículos oficiais: desafios da formação de docente. Revista Fundamentos, v. 2, n.1,2015. P.82-97.

DE MELO, Luciara Azevedo. Entrevista concedida a Pedro Mülbersted Pereira. Governador Celso Ramos, 26 de outubro de 2017. [Gravação digital transcrita, acervo do autor].

GALZERANI, Maria Carolina Bovério; FORTUNA, Cláudia Prado. Práticas de memória, tempo e ensino de História. In.: ZAMBONI, E., GALZERANI, M.C.B.; PACIEVITCH, C. (Orgs). Memória, sensibilidades e saberes. Campinas: Editora Alínea, 2015.

GALZERANI, Maria Carolina Bovério. Memória Tempo e História: perspectivas teóricometodológicas para pesquisa em ensino de história. Cadernos do CEOM (UNOESC), Chapecó, v. 28, p. 15-30, 2008.

GUIMARÃES, Maria de Fátima. Patrimônio Cultural e Ensino de História. In.: ZAMBONI, E., GALZERANI, M.C.B.; PACIEVITCH, C. (Orgs). Memória, sensibilidades e saberes. Campinas: Editora Alínea, 2015.

MACHADO, Rosangela Maria de Melo. Fortalezas da Ilha de Santa Catarina: um panorama. Florianópolis: Gráfica Editora Pallotti, 1992.

MOISÉS, Raquel. Porque e como Anhatomirim, ou a “toca pequena do diabo”, foi restaurada. A Construção: Região Sul, nº 177, 1983.

MORAES, Renata Figueiredo. O ensino de cultura e história Afro-brasileira e indígena na Educação Básica o desafio de professores, alunos e ações governamentais. História e Perspectivas, Uberlândia (53): 239-263, jan/jun. 2015.

MIGNOLO, Walter. Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Buenos Aires: Ediciones del Signo, 2010.

NÖTZOLD, Ana Lúcia Vulfe, ROSA, Helena Alpini. História e cultura Guarani: Escola Indígena de Educação Básica Whera Tupã Poty D’já. Florianópolis: Pandion, 2011, 62p.

PAIM, E. A. Para além das leis: o ensino de culturas e histórias africanas, afrodescendentes e indígenas como decolonização do ensino da história. In: MOLINA, A. H.; FERREIRA, C. A. L. F. (Org.). Entre Textos e Contextos: caminhos do ensino de História. 1ed.Curitiba: CRV, 2016, v. 1, p. 141-166.

PAIM, Elison Antonio; ARAÚJO, Helena Maria Marques. Memórias outras, patrimônios outros, e decolonialidades: Contribuições teórico-metodológicas para o estudo de história da África e dos afrodescendentes e de história dos Indígenas no Brasil. Archivos Analíticos De Políticas Educativas / Education Policy Analysis Archives, v. 26, p. 92-116, 2018.

PEREIRA, Júnia Sales. Ensino de História e Patrimônio na relação museu-escola. In.: ZAMBONI, E., GALZERANI, M.C.B.; PACIEVITCH, C. (Orgs). Memória, sensibilidades e saberes. Campinas: Editora Alínea, 2015.

PEREIRA, Leandro Balejos. Ensino de história e o ofício do historiador: a investigação do processo de patrimonialização do espaço físico da Escola Estadual Professor Olintho de oliveira (Porto Alegre/RS) com alunos e alunas do ensino fundamental. Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Ensino de História, Porto Alegre, BR-RS, 2016. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/156462

PEREIRA, Nilton Mullet. Ensino de História e resistência: notas sobre uma história menor. In.: PAIM, Elison Antonio (Org). Patrimônio cultural e escola: entretecendo saberes. Florianópolis: NUP/CED/UFSC, 2017.

PEREIRA, Pedro Mülbersted. O processo de patrimonialização de fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim: discursos, restauro, usos (1970-1992). 1 v. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de PósGraduação em Educação, Florianópolis, 2016. Disponível em: http://www.bu.ufsc.br/teses/PEED1227-D.pdf

PEREIRA, Pedro Mülbersted; PAIM, Elison Antonio. Prática educativas nas fortalezas catarinense: possiblidades de uma diálogo plural e intercultural. MÉTIS: história&cultura. V. 17, n.33, 08, 2018, p. 171-197.

ROSA, Paulo W. Vieira da. Anhatomirim: a ilha redimida. Florianópolis: Ed UFSC, 1983.

SALVADOR, Angela Sabrine do Nascimento. Entre Escritos e vasilhas cerâmicas: O indígena na sociedade colonial na Ilha de Santa Catarina (séculos XVIII e XIX). Dissertação de Mestrado em História da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianopólis, 2017, 358p.

TOLENTINO, Átila Bezerra. Educação patrimonial decolonial: perspectivas e entraves nas práticas de patrimonialização federal. Sillogés, v.1, n.1, 2018.

UCHÔA, Carlos Eduardo. Fortalezas catarinenses: a estória contada pelo povo. Florianópolis: Imprensa Universitária da UFSC, 1992.

WALSH, Catherine. Interculturalidade crítica e pedagogia decolonial: in-surgir, re-existir e re-viver. In.: CANDAU, Vera (org). Educação Intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009.

WALSH, Catherine. Interculturalidad, plurinacionalidad y decolonialidad: las insurgencias político-epistémicas de refundar el Estado. Tabula Rasa, Bogotá, n.9, p. 131-152, 2008.

WOLFF, Cristina Scheibe. Historiografia: uma introdução ao debate. Revista de Santa Catarina em História. Florianópolis- UFSC, v.1, n.1, 2009.

Publicado
18-12-2019
Como Citar
PEREIRA, P.; DA ASSUMPÇÃO, J. A invisibilização dos indígenas e dos negros nas histórias das fortalezas catarinenses e o Ensino de História. Fronteiras: Revista Catarinense de História, n. 34, p. 134-157, 18 dez. 2019.