CIDADES, GLOBALIZAÇÃO E DETERMINISMO ECONÔMICO

  • Marcelo Lopes de Souza Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Palavras-chave: Globalização, Empresarialismo urbano, Reforma urbana, Movimentos sociais

Resumo

No que se refere às cidades, uma interpretação que se difunde rapidamente pelo mundo é aquela associada ao chamado “empresarialismo urbano”. Os seus adeptos tendem a ver com nítido otimismo a globalização e os seus efeitos sobre as cidades. Argumentam, tipicamente, que o Estado-nação teria se tornado “pequeno demais" em face do grande capita! transnacional, ao passo que, para a promoção ágil do desenvolvimento econômico e do bem-estar dos cidadãos, mostrar-se-la “grande demais”. Para eles, uma cidade deveria funcionar tal qual uma empresa, concorrendo com outras cidades para atrair capitais, cabendo ao Estado o papel de costurar “consensos” e ajudar a criar um bom “ambiente de negócios”. Uma interpretação concorrente, notadamente no Brasil, é a representada pelo ideário da reforma urbana. Aqueles que com esta posição se identificam tendem a assumir uma postura crítica em face da globalização capitalista. Recusam a atração de investimentos a qualquer preço, priorizando a meta da redução de desigualdades. Mesmo quando admitem um certo encolhimento da margem de manobra do Estado, rejeitam qualquer determinismo, e tampouco concordam com a idéia de que o Estado local deveria concentrar-se em “criar um clima de negócios favorável”. Reconhecer a relevância e algum tipo de papel positivo para o Estado, em matéria de políticas públicas, entretanto, não pressupõe que o papel da sociedade civil deva ser circunscrito a esquemas participativos tutelados pelo Estado. Acentuar isso, seja direta ou indiretamente, parece ser justamente a contribuição de certos movimentos sociais da atualidade para uma renovação do ideário da reforma urbana — urgentemente necessária em face da marcha avassaladora do “empresarialismo urbano”.

Publicado
12-01-2022
Seção
Artigos