Histórico

A revista científica CIDADES tem sua origem associada à constituição do Grupo de Estudos Urbanos (GEU), ideia de Ana Fani Alessandri Carlos (USP). Este grupo reunia, no começo da primeira década dos anos 2000, docentes de várias universidades: Jan Bitoun (UFPE), Maria Encarnação Beltrão Sposito (Unesp), Maurício de Almeida Abreu (UFRJ), Pedro de Almeida Vasconcelos (UFBA), Roberto Lobato Corrêa (UFRJ) e Silvana Maria Pintaudi (Unesp). Logo depois juntou-se a estes Marcelo Lopes de Souza (UFRJ).

Algumas ideias estimulavam, então, a composição do grupo. A construção de um ambiente de debate e crítica, focado na leitura dos processos de urbanização e transformação das cidades, foi o leitmotiv principal. Ainda que houvesse clareza sobre diferenças teórico-metodológicas entre os membros do grupo, prevalecia a compreensão de que o debate enriqueceria a construção das ideias de cada um, animando o grupo a expor ideias, auscultar, divergir e transformar-se por meio do diálogo.

A esse objetivo associou-se o da criação da revista CIDADES como um meio de divulgação de reflexões e de pesquisas, para o que as primeiras conversas ocorreram em 2002. Alguns princípios associavam-se a essa publicação: autonomia, razão pela qual não se vinculava a nenhuma instituição em particular; financiamento próprio, por meio de doações, principalmente de seus criadores, de forma a que a autonomia fosse resguardada; espírito crítico, como caminho para a construção do novo, em termos científicos e sociais; diálogo entre as diferenças, de maneira que, entre os seus fundadores e entre eles e os autores de textos, houvesse a possibilidade de mudança; interdisciplinaridade, o que se considerava indispensável para a leitura do urbano contemporâneo.

Outros fatores provavelmente estimularam a realização de um trabalho em torno desse projeto coletivo e público, mas foram os citados aqueles que tiveram maior peso na condução das decisões e das ações que se consubstanciaram na publicação desta revista. A amizade, a camaradagem e o respeito mútuo animavam a realização do trabalho. As conversas entre os membros do GEU fluíam tanto nos encontros em que os textos produzidos eram objeto de debate como nos bastidores das reuniões da Comissão de Geografia da CAPES para o processo de Avaliação da pós-graduação, da qual faziam parte três membros no começo dos anos 2000.

Vários nomes foram pensados para batizar o projeto e houve muita dúvida entre as duas propostas que angariavam mais simpatia – Cidades e Urbanicidade. Se a segunda nomenclatura era mais sofisticada, ao brincar com a combinação de mais de um conceito que interessa à pesquisa urbana, a primeira pareceu mais adequada pela forma singela como favorece a comunicação sobre os processos em análise. O primeiro número foi lançado cerca de dois anos após o nascimento da ideia, em 2004, em Recife, na UFPE, durante a realização do Simpósio Nacional de Geografia Urbana. Maria Encarnação Beltrão Sposito assumiu a coordenação editorial e exerceu esse papel até 2014. Ali estava o resultado de um trabalho coletivo que era, ao mesmo tempo, bastante artesanal. A chegada de textos; a avaliação deles; a comunicação entre a comissão editorial, os membros do conselho científico1 e os autores de textos; bem como depois a distribuição das ideias impressas na revista; tudo isso se fazia ainda pelo correio (não o eletrônico), o que demandava apoio. Assim, a revista não teria se concretizado não fosse o apoio de muitos2, que simultaneamente faziam a revista e aprendiam a fazê-la, já que é uma expertise associada ao mundo editorial que, em princípio, ninguém do grupo dominava.

Aos poucos, a revista foi se transformando tecnicamente: novos leiautes, maior cuidado na indexação e na observação das normas da ABNT; deixou de ser impressa em gráficas e passou a ser cuidada pela Editora Expressão Popular; na sequência, começou a ser divulgada digitalmente, além do suporte em papel já existente; tornou-se exclusivamente digital de forma a alcançar um número muito maior de leitores; ampliou o número de autores interessados na divulgação de suas ideias; ampliou seu papel na formulação de linhas de pesquisa por meio de números temáticos etc.

Entre os avanços, o mais importante foi ter se tornado uma das publicações mais prestigiosas da área, constando em posições de destaque nos sistemas de avaliação vigentes no Brasil.

No início de 2015, a editoração passou a outro grupo de editores, sob a coordenação de Silvana Maria Pintaudi (Unesp), organizados pelo trabalho de Carlos Henrique Costa da Silva (UFSCar). Até o final de 2017, foram cinco números publicados, dos quais apenas um contém artigos submetidos em fluxo contínuo.

Os demais números publicados no período foram temáticos, cujos textos vieram da seleção de trabalhos apresentados no “III Seminário Internacional sobre Cidade, Comércio e Consumo”, realizado em 2012 em São Paulo, e no evento “Os processos extremos na constituição da cidade”, realizado em Sevilha, Espanha, em 2013, que contou com a editoria de Carlos Tapia (Universidad de Sevilla) e Manoel Rodrigues Alves (USP). A estes acrescentou-se um dossiê organizado por Maria Encarnação Beltrão Sposito com o tema “Urbanização difusa e cidade dispersa”. O último número publicado apresenta uma seleção de artigos do evento “Justiça espacial e direito à cidade”, realizado em 2015 em São Paulo. Após a publicação deste número, a editora decidiu suspender a públicação de novos números, situação que permaneceu até a mudança do corpo editorial.

A retomada da revista CIDADES configura-se numa nova etapa do trabalho coletivo que a caracterizou desde o começo e a uma vinculação institucional que pudesse garantir tanto o apoio técnico como algum recurso financeiro, necessários à longevidade do projeto. Isso não significa, entretanto, violação ao princípio da autonomia fundador da revista.

Igor Catalão assumiu a responsabilidade editorial para realizar a implantação da revista no Portal de Periódicos da UFFS e reiniciar o trabalho de recepção de submissões, contando com o apoio da bibliotecária Franciele Scaglioni da Cruz. A renovação do logotipo e demais componentes da nova identidade visual e da comunicação da revista ficaram sob responsabilidade da arquiteta e urbanista Amanda Rosin (USP). Também houve renovação no Conselho Editorial, agora formado por ex-integrantes de antigas equipes de apoio da revista: Igor Catalão (UFFS), Márcio José Catelan (Unesp), Oscar Sobarzo (UFS) e William Ribeiro da Silva (UFRJ), aos quais se uniu Catherine Chatel (Université Paris Cité). Também houve renovação no Conselho Científico3 e na Equipe de Apoio4.

A nova fase da revista significa, ao mesmo tempo, o compromisso com seus princípios fundadores (autonomia, espírito crítico, diálogo entre as diferenças e interdisciplinaridade) e com um novo: pluralidade.

Cidades renova-se então pela: disponibilização integralmente online, de maneira aberta e gratuita, de todos os textos já publicados; ampliação de sua visibilidade com a indexação em bases de dados bibliográficos e catálogos acadêmicos; vinculação de números de identificação (DOI) a todos os textos; e tradução de toda a interface da revista para os idiomas português, espanhol, francês e inglês.

Esperamos que este projeto tenha vida longa!

 

Maria Encarnação Beltrão Sposito (Presidente Prudente)

Carlos Henrique Costa da Silva (São Paulo)

Igor Catalão (Chapecó)

 

                                                                                                                     

Notas:

1 Amélia Luisa Damiani (USP), Arlete Moysés Rodrigues (Unicamp), Carles Carreras (Universitat de Barcelona), Horácio Capel (Universitat de Barcelona), José Alberto Rio Fernandes (Universidade do Porto), José Borzachiello da Silva (UFC), Marcelo Lopes de Souza (UFRJ), Maria Adélia Aparecida de Souza (USP), Odette Carvalho de Lima Seabra (USP), Paulo César da Costa Gomes (UFRJ) e Suzana Pasternak (USP).

2 Secretaria: Oscar Alfredo Sobarzo Miño; assinaturas e homepage: William Ribeiro da Silva: apoio: Rones Borges da Silva; capa: Caio Beltrão Sposito; revisão de língua portuguesa: Maria Luísa Santos Abreu; revisão de língua inglesa: Bárbara Stocker.

3 Alicia Lindón (Universidad Autónoma Metropolitana-Iztapalapa), Ana Fani Alessandri Carlos (USP) Angelo Serpa (UFBA), Aurélia Michel (Université Paris Cité), Carles Carreras (Universitat de Barcelona), Carme Bellet (Universitat de Lleida), Claudia Damasceno (École des Hautes Études en Sciences Sociales), Diana Lan (Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires), Doralice Sátyro Maia (UFPB), Federico Arenas (Pontificia Universidad Católica de Chile), Gabriel Silvestre (University of Sheffield), Horacio Capel (Universitat de Barcelona), Jan Bitoun (UFPE), José Borzachiello da Silva (UFC), Laurent Vidal (Université de La Rochelle), Leila Christina Dias (UFSC), Luciana Buffalo (Universidad Nacional de Córdoba), Luis Alberto Salinas Arreortua (Universidad Nacional Autónoma de México), Marcelo Lopes de Souza (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Maria Encarnação Beltrão Sposito (Unesp), María Laura Silveira (Conicet/Universidad de Buenos Aires), Odette Carvalho de Lima Seabra (USP), Paulo Roberto Rodrigues Soares (UFRGS), Pedro de Almeida Vasconcelos (UFBA), Roberto Lobato Corrêa (UFRJ), Rodrigo Hidalgo (Pontificia Universidad Católica de Chile), Saint-Clair Cordeiro da Trindade Junior (UFPA), Tatiana Schor (UFAM) e Vincent Berdoulay (Université de Pau et des Pays de l'Adour).

4 Carliana Grosselli (doutoranda em Geografia/Unioeste), João Henrique Zoehler Lemos (doutorando em Geografia/UFSC) e Vitor Hugo Batista (estudante de Letras/PUC-PR).