Ações afirmativas, negacionismo e doutrinação ideológica

as decorrências políticas e éticas da historiografia escrita e ensinada

Palavras-chave: Negacionismo, Ações afirmativas, Historiografia, Ensino de História

Resumo

Este artigo analisa os argumentos e estratégias discursivas mobilizadas por historiadores que se posicionaram contra ações afirmativas de forma pública, evidenciando que se estruturam nas seguintes bases: uso recorrente de negacionismos (negando, minimizando e falseando conhecimentos consensuados pela historiografia acadêmica), empenho em identificar esses negacionismos como conhecimentos científicos destituídos de comprometimento ideológico, e desqualificação de posicionamentos contrários por meio de acusações de doutrinação ideológica. Ao defender a hipótese que negacionismos e acusações de doutrinação ideológica também são práticas correntes entre historiadores acadêmicos, se discute, nesse texto, as decorrências políticas e o lugar da ética no ensino e na pesquisa histórica.

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Biografia do Autor

Juliana Teixeira Souza, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Doutora em História Social pela UNICAMP. Professora do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do Programa de Pós-Graduação Profissional em Ensino de História (PROFHISTÓRIA)

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Publicado
24-01-2023
Como Citar
TEIXEIRA SOUZA, J. Ações afirmativas, negacionismo e doutrinação ideológica. Fronteiras: Revista Catarinense de História, n. 41, p. 69-96, 24 jan. 2023.