Escrita da História e sexualidade

Cassandra Rios, ausência e invisibilidade

  • Flávia Mantovani Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita FIlho - Unesp
Palavras-chave: Escrita da História, Cassandra Rios, Literatura e censura, Sexualidade e política, Literatura lésbica

Resumo

Repensar a escrita da História é tarefa que vem ocupando um lugar considerável na produção de historiadores, sobretudo, ao longo do século XX. Considerando outros sujeitos, objetos e olhares, o campo historiográfico abre-se para novos problemas. Este texto apresenta possibilidades de escrita da História na interface com a sexualidade a partir da produção literária de Cassandra Rios (1932-2002), escritora conhecida como a “mais proibida do Brasil”, a julgar por seus mais de trinta livros vetados pela censura vigente, também, na Ditadura Militar. A partir de alguns questionamentos colocados pelo campo da História das Mulheres, apresenta-se uma possibilidade de escrita da História por meio da perspectiva de mulheres lésbicas, haja vista a temática abordada por Rios em grande parte de sua escrita, voltada para histórias de desejo entre mulheres. Ao final, apontam-se perspectivas em Cassandra Rios de visibilizar tais sujeitos, geralmente ausentes na historiografia, e a potencialidade de sua produção literária como fonte pertinente na (re)escrita da história de sujeitos com sexualidades dissidentes. 

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Publicado
28-07-2021
Como Citar
MANTOVANI, F. Escrita da História e sexualidade. Fronteiras: Revista Catarinense de História, n. 37, p. 156-178, 28 jul. 2021.