Horizonte e Noema
em direção a um perspectivismo fenomenológico (segunda parte)
DOI:
https://doi.org/10.36661/1983-4012.2024v17n2.14642Palavras-chave:
Fenomenologia, Perspectivismo, Horizontalidade, Gurwitsch, Merleau - PontyResumo
Trata-se de estabelecer um perspectivismo fenomenológico em sentido forte, a partir do qual a noção de perspectiva vale como condição necessária, mas também suficiente da aparição. Isso será realizado por meio de um diálogo crítico com a tradição e com a elaboração de um novo ferramental teórico, que segue uma linha de pesquisa já aberta nos últimos anos. Primeiro, com o resgate da teoria da doação por perfis (Husserl) e posterior crítica da relação entre perfil e coisa mesma como fundada e dependente de uma noção fundante de “perspectiva”. Mostraremos que ela não atua mais como parte de um todo (pars pro toto), mas como parte total (pars totalis). Segundo, pela reconstrução do conceito de noema, junto do debate que enseja—Gurwitsch e Merleau-Ponty diante das leituras ditas “fregeanas” da noção — e posterior desconstrução de seu “núcleo” invariante a partir do qual as perspectivas se vinculariam. Se a coisa é ela também uma “perspectiva”, há que se vincular as perspectivas de outro modo, através das suas “margens” e não pelo “centro” daquilo que aparece. Nesta intencionalidade lateral e perspectivista, que propomos a partir da noção de “horizontalidade”, delineada no fim deste projeto, o horizonte pode ser compreendido como total: os fenômenos não “têm” horizontes, mas “são” horizontes. Estes dois passos permitirão passar da reabilitação da i) perspectiva ao ii) perspectivismo em chave fenomenológica. Por fim, interrogamos qual a “subjetividade” implicada nesta teoria, que faz da perspectiva propriamente “vivida” e distinta das versões nas quais a posição do sujeito é derivada de uma dinâmica inconsciente, pulsional ou afetiva da perspectiva (sobretudo contra o perspectivismo defendido por Deleuze).