As Bacantes Contra a razão

Nietzsche e o Declínio da tragédia grega

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36661/1983-4012.2025v18n1.15175

Palavras-chave:

Vulnerabilidade ontológica, tragédia e sofrimento, resistência simbólica, Dioniso, Razão Trágica

Resumo

Este artigo propõe uma releitura do diagnóstico nietzschiano sobre o declínio da tragédia grega, focalizando o embate simbólico entre as Bacantes — figuras da embriaguez dionisíaca, da coletividade e do êxtase ritual — e a ascensão da razão socrática. A partir dessa tensão, discute-se a tragédia como forma simbólica de enfrentamento da vulnerabilidade ontológica do humano frente à dor e ao caos. A partir de O nascimento da tragédia e de comentadores como Roberto Machado, Jean Lefranc e Peter Szondi, examinamos como a tragédia antiga é substituída por um teatro moralizante e racional, no qual a música, o mito e o coro cedem espaço à lógica e à individualidade. A leitura nietzschiana não lamenta essa transformação apenas como perda estética, mas a compreende como sintoma de uma crise cultural e de uma repressão à vulnerabilidade humana. Ao retornar à figura das Bacantes — mesmo domesticadas por Eurípedes — Nietzsche recupera uma energia vital anterior à racionalidade, que se expressa no corpo, na música, na embriaguez coletiva. O coro trágico, que unificava a comunidade na celebração da dor, é dissolvido pela razão discursiva. Mas seu fantasma ressurge como símbolo de uma sabedoria outra: não aquela que busca o domínio do mundo, mas aquela que dança sobre o seu abismo. Com isso, o artigo articula estética, ontologia e crítica cultural para pensar a permanência do trágico na cultura contemporânea — como resistência à razão técnica e como afirmação simbólica da vulnerabilidade como parte constitutiva da experiência humana.

Biografia do Autor

  • Valéria Ceranto Ribeiro, UFSJ - Universidade Federal de São João del-Rei - MG

    Mini currículo do(a) autor(a)

    Possui graduação em Administração de Empresas (OGE) e bacharelado em Filosofia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

    É especialista em Gestão de Pessoas com Ênfase em Liderança Organizacional (UNISAL) e em Leitura e Produção Textual (UniCesumar). Desenvolve pesquisa autônoma nas fronteiras entre arte, pensamento e cultura.

    Seus interesses se concentram na filosofia de Nietzsche, na tragédia grega como forma simbólica de resistência e nas críticas contemporâneas à racionalidade ocidental.

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Publicado

02-12-2025

Como Citar

CERANTO RIBEIRO, Valéria. As Bacantes Contra a razão: Nietzsche e o Declínio da tragédia grega. Intuitio, Brasil, v. 18, n. 2, p. 1–22, 2025. DOI: 10.36661/1983-4012.2025v18n1.15175. Disponível em: https://periodicos.uffs.edu.br/index.php/intuitio/article/view/15175. Acesso em: 15 dez. 2025.