Husserl e Galileu
A matematização da natureza como ponto de partida da crise das ciências e da filosofia contemporâneas
DOI:
https://doi.org/10.36661/1983-4012.2024v17n2.14643Palavras-chave:
Husserl, Galileu, Fenomenologia, Crise, Ciência, TécnicaResumo
O presente artigo tem o objetivo de explorar a crítica husserliana sobre a crise das ciências e da filosofia contemporâneas a partir de uma análise fenomenológica da mudança de paradigma científico inaugurada por Galileu. Segundo Husserl, a perspectiva galilaica de que a natureza se expressa em linguagem matemática se tornou condição de possibilidade para uma nova compreensão de mundo. Isso porque se para os antigos gregos, aos dados empíricos correspondia uma ideia que, sendo acessada, se tornava o fundamento do conhecimento do mundo, com Galileu, para os fenômenos do mundo dado ou pré-científico, corresponde uma estrutura matemática passível de ser intuída a partir da qual se pode determinar esse mesmo mundo tornando-o científico, ou seja, delimitado pela previsibilidade e pela exatidão matemáticas. Desse modo, as pesquisas de Galileu impulsionaram as ciências positivas, ampliaram seu campo de atuação, lhes conferiram certa primazia em relação às demais racionalidades, e lhes garantiram maior eficiência técnica, inaugurando uma nova fase da humanidade na modernidade. Porém, segundo Husserl, se por um lado Galileu descobriu uma nova possibilidade para o progresso das ciências, por outro lado, ele encobriu, por assim dizer, seu horizonte filosófico genuíno, fator determinante para o sentimento de crise contemporâneo.