TRANSFORMAÇÃO NA ORDEM SOCIOMETABÓLICA DO CAPITAL: TEORIA E PRÁXIS EXTENSIONISTA EM COMUNIDADES AGRÁRIAS DO MUNICÍPIO DE COLARES, PARÁ, AMAZÔNIA ORIENTAL

  • Manoel Malheiros Tourinho Professor Emérito da Universidade Federal Rural da Amazônia
  • Maria das Dores Correia Palha Professora do Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos da Universidade Federal Rural da Amazônia (ISARH/UFRA).
  • Luiz Cláudio Moreira Melo Júnior Doutorando pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB)
  • Jean Carlos Ramos da Silva Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Palavras-chave: vilas e povoados ribeirinhos, extensão universitária, falha metabólica

Resumo

O referencial teórico marxista é usado neste artigo para demonstrar o potencial das vilas e dos povoados da Amazônia em reverter a ordem atual da relação sociedade e natureza em favor de uma nova ordem que não perpetue a ‘falha metabólica’ devida ao irracionalismo do mercado, em detrimento da natureza. Um olhar diferenciado da extensão universitária para as comunidades tradicionais, agrárias e extrativas, é necessário, porque, periféricas ao fetiche do mercado, potencializam o estabelecimento de um novo marco de mediação com a natureza e os seus recursos. Colares, no estado do Pará, é um município que teve os seus recursos naturais quase todos exauridos, mas que ainda apresenta um forte contingente populacional vivendo no agrário-extrativista. Práxis de ruptura são exercidas pelos trabalhadores e moradores das vilas e povoados ribeirinhos de Colares com a finalidade de, segundo a teoria de Marx, corrigir a ‘falha metabólica’ resultante das relações entre trabalho e natureza, sob o controle do capital e do mercado. A experiência de extensão universitária aqui relatada levou à constatação da criação do frango ‘caipira’ como uma ação coletiva catalisadora dos meios necessários à transformação na ordem sociometabólica do capital. Essa nova ordem exige transferência do poder decisório dos intermediários da produção para as mãos dos trabalhadores, diretamente.

Palavras-chave: vilas e povoados ribeirinhos, extensão universitária, falha metabólica.

 

Transformation of capital's social metabolic order: theory and extensionist praxis in agricultural communities in the municipality of Colares, Pará, Eastern Amazon

 

Abstract: The Marxist theory is used in this article as a means to demonstrate the existing potential within Amazonian villages and settlements to revert the current relationship between society and nature in favor of a new order that does not perpetuate the ‘metabolic failure’ as a result of the irrationalism of market to the detriment of nature. A different perspective from university extension regarding traditional agrarian and extractive communities is necessary once, on the periphery of market fetishes, these communities can establish a new framework of mediation with nature and its available resources. Colares, State of Pará, is a municipality in which the natural resources are nearly completely exhausted, however, its population still presents a great contingent living in agrarian and extractive activities. According to Marx's theory, the praxis of rupture is exercised by the riverine workers and villagers of Colares aiming at correct the ‘metabolic failure’ resulting from the relationship between work and nature, which is under the control of capital and market. The university extension experience reported in this article describes the cage free chicken farming (‘caipira’ chicken) as a new direction for a collective action able to catalyze the necessary means for the transformation of the capital’s social-metabolic order. This new order demands transferring the decision-making power from the intermediaries of production directly to the hands of the workers.

Keywords: villages and riverine populace, university extended campus, metabolic failure.

 

Transformación en la orden metabólica social del capital: la teoría y la praxis de extensión en comunidades agrarias en el municipio de Colares, Pará, Amazonía Oriental

Resumen: Se utiliza el marco teórico marxista en este artículo para demonstrar el potencial de las villas y pueblos en Amazonia para invertir el orden actual de la relación entre la sociedad y la naturaleza a favor de un nuevo orden que no perpetúe la ‘brecha metabólica’ debida a la irracionalidad del mercado en perjuicio de la naturaleza. Un inquirir diferenciado de la extensión universitaria hacia las comunidades tradicionales agrarias y extractivas es necesario porque, periféricas a los mercados, potencian el establecimiento de un nuevo marco de la mediación con la naturaleza y sus recursos. Colares, estado de Pará, Brasil, es un municipio que tuvo sus recursos naturales casi agotados, pero todavía tiene un fuerte contingente de población que vive del trabajo agrario-extractivo. Praxis de ruptura son ejercidas por los trabajadores y habitantes de las villas y pueblos ribereños de Colares, con el fin de, según la teoría de Marx, corregir la ‘brecha metabólica’ resultante de las relaciones entre el trabajo y la naturaleza, bajo el control del capital y del mercado. La experiencia de la extensión universitaria relatada en este artículo llevó a la constatación de la crianza de pollo orgánico, o criado al estilo rústico, como una acción colectiva catalizadora de los medios necesarios a la transformación en el orden social metabólico del capital. Este nuevo orden requiere la transferencia de poder de decisión de los intermediarios de la producción directamente para las manos de los trabajadores.

Palabras-clave: villas y pueblos ribereños, extensión universitaria, brecha metabólica.

 

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Biografia do Autor

Manoel Malheiros Tourinho, Professor Emérito da Universidade Federal Rural da Amazônia

PhD em Sociologia Rural pela Universidade de Wisconsin, Madison (EUA)e Professor Emérito da Universidade Federal Rural da Amazônia.

Maria das Dores Correia Palha, Professora do Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos da Universidade Federal Rural da Amazônia (ISARH/UFRA).
Doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco e Professora da Universidade Federal Rural da Amazônia.
Luiz Cláudio Moreira Melo Júnior, Doutorando pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB)
Mestre em Planejamento do Desenvolvimento (NAEA/UFPA) e Doutorando em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília
Jean Carlos Ramos da Silva, Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Doutor em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo  e Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco

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Publicado
21-09-2014
Como Citar
TOURINHO, M.; PALHA, M. DAS D.; MELO JÚNIOR, L. C.; SILVA, J. C. TRANSFORMAÇÃO NA ORDEM SOCIOMETABÓLICA DO CAPITAL: TEORIA E PRÁXIS EXTENSIONISTA EM COMUNIDADES AGRÁRIAS DO MUNICÍPIO DE COLARES, PARÁ, AMAZÔNIA ORIENTAL. Revista Brasileira de Extensão Universitária, v. 5, n. 1, p. 27-36, 21 set. 2014.
Seção
Artigos