DAS DISCÓRDIAS CIVIS ÀS VIAS EXTRAORDINÁRIAS, DO DESEJO DO POVO À IMPOSTURA DO PODER
Resumo
São bem conhecidos os elogios que faz Maquiavel à divisão social e ao conflito. Dirá, por exemplo, que “quem condena o tumulto entre os nobres e a plebe parece censurar as coisas que foram a causa primeira da liberdade de Roma”. Mas que os tumultos sejam a causa da liberdade, há muitas formas de compreendê-lo. Se é Maquiavel um louvador do conflito, seria-o apenas, para muitos, desde que ele se expresse por meio do ordenamento legal e das vias institucionais. Trataremos, aqui, de outro Maquiavel: autor atento às formas como a opressão se traveste de democracia, ao modo como a República, mesmo sem promover o rompimento da ordem legal, pode interverter-se em autoritarismo – e que, para romper as amarras deste legalismo autoritário, convoca-nos à transgressão e à conspiração. Eis o Maquiavel de Claude Lefort.