MATRIZ ABISSAL E LUTAS DOS MOVIMENTOS INDÍGENAS NA AMÉRICA LATINA/ABYA YALA
Resumo
Intersecções entre relações de poder capitalistas, coloniais e patriarcais para a (re)produção de ordens desiguais e opressoras desafiam as ciências sociais como um todo. Proponho dois movimentos para lidar com esse desafio. O primeiro deles, de caráter histórico-historiográfico, tem a ver com uma releitura da formação e do desenvolvimento do capitalismo/colonialismo. Abundam interpretações que situam o sistema capitalista moderno como resultado e até como contraponto a “resquícios” supostamente tradicionais (coloniais e patriarcais). Em contraste, sustento – a partir da problematização da acumulação primitiva em Marx e de críticas como as de Silvia Federici – que capitalismo, colonialismo e patriarcado são intrínsecos em termos materiais (trabalho, recursos etc.) e simbólicos (hegemonia e domínio). O segundo movimento consiste na justaposição desta matriz abissal (em consonância com a linha abissal de Boaventura de Sousa Santos) forjada desde o século XVI (sistema-mundo moderno) com reflexões e processos de lutas contemporâneas levadas a cabo por movimentos indígenas na América Latina/Abya Yala no quadro analítico das chamadas epistemologias do Sul.