MOVIMENTOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS E A DEMOCRACIA PARA ALÉM DO ESTADO: HIPÓTESES PARA O DEBATE
Resumo
Ao longo das últimas décadas, os Estados de intenção democrática vem experimentando um desafio de grande magnitude que tem, nas bandeiras levantadas por um novo conjunto de movimentos sociais, o seu mais notável sintoma: em especial, a crise do estatuto da representação política. Esta crise estaria a afetar, de modo radical, os nexos de vinculação entre as instituições do Estado e o restante da vida social, e, no limite, poderia condenar a validade do desenho que atualmente dá cores e contornos aos dispositivos de inspiração democrática das poliarquias contemporâneas. Nesse artigo apresentamos duas hipóteses para pensar a crise da representação diante das interfaces entre movimentos sociais e democracia. Além do mais, ancorando nossas reflexões no atual circuito da indignação global, nos propomos a identificar os significados e desdobramentos de um duplo problema: de um lado, as condições de possibilidade de constituição de um horizonte democrático erigido para além das fronteiras normativas e institucionais da forma-Estado e da forma-Capital, de outro, o sentido de alguns entraves epistemológicos que operam com o poder de mantra na imaginação sociológica e política moderna, prisioneira do estadocentrismo enquanto princípio ontológico de construção da ordem social.