AUTONOMIA COMO FUNDAMENTO DA DEMOCRATIZAÇÃO DA DEMOCRACIA: ALGUMAS FERRAMENTAS TEÓRICAS DO SPINOZISMO
Resumo
Este trabalho pretende apresentar alguns elementos da teoria de Spinoza que possibilitem pensar a noção de autonomia, noção essa considerada indissociável, e mesmo constitutiva, da experiência de democracia, isto é, do processo contínuo de democratização ou radicalização da democracia. Como aponta Castoriadis, é por meio da compreensão da autonomia que se explicita a perspectiva de que as sociedades são normalmente edificadas sobre a base da ocultação de sua auto-instituição, compreensão essa que possibilita estabelecer a instauração de uma sociedade autônoma em seu movimento democrático. Além de constituir elementos teóricos em dissonância com teorias mais hegemônicas na tradição moderna (o kantismo, o liberalismo), o spinozismo fornece ferramentas para se pensar um projeto de autonomia não como um problema estritamente filosófico ou epistemológico, e sim, político e social. Entende-se que noções como razão afetiva e relacional, transindividualidade da multidão, sui juris, bem como de direito de guerra e de indignação (mecanismos autorreguladores do corpo social) apresentam ferramentas teóricas que sugerem uma subsunção da noção de autonomia. Concebida a partir de uma espécie de dependência originária, essa autonomia, ou melhor, autonomização/libertação não designa indivíduos autônomos como independentes.