A EXPLORAÇÃO DO TRABALHADOR ENTREGADOR MEDIADO POR APLICATIVO COMO UMA EXPRESSÃO DO CAPITALISMO GLOBAL E COLONIZADOR:
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Resumo
Em uma análise da condição de exploração do trabalhador por aplicativo, o presente trabalho tem o objetivo de traçar algumas reflexões iniciais acerca de dois elementos que conectam o capitalismo global, materializado nas empresas transnacionais, ao período de colonização das Américas: a expropriação de direitos do outro e o discurso de individualismo meritocrático. Para tanto, tendo por ponto de partida os conceitos de “Sistema-mundo” e “Modernidade”, serão caracterizados o capitalismo e a globalização como uma continuidade reformulada daquilo que foi estabelecido no período colonial, com reflexos diretos na atual Divisão Internacional do Trabalho. A hipótese é que a exploração colonial aos países periféricos permanece através da atuação das empresas transnacionais que se aproveitam da vasta mão-de-obra disponível para extrair lucro e direcionar a massa trabalhadora em sentido ao cumprimento dos seus objetivos. O caso dos
entregadores será utilizado como referencial para análise da expressão prática do capitalismo neoliberal no Sul-Global: encontram-se invisibilizados em seus direitos, ao mesmo tempo que estão inseridos em uma dinâmica de aparente autonomia, responsáveis pelo seu sucesso e fracasso. De outro lado, as empresas de aplicativo se colocam na retaguarda de uma narrativa de neutralidade da tecnologia e da globalização homogeneizadora. Sem pretensões de esgotamento do tema, o ponto principal é refletir como a permanente expropriação de direitos do outro e o discurso de individualismo meritocrático, que acompanham a dialética do centro e da periferia global, são características fundantes da criação do próprio capitalismo, germinado da relação entre colonizador e colonizado.
Copyright (c) 2021 Nicolle W. da Silva Gonçalves
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