A Educação Escolar e as Ciências Sociais: o estudo sobre os problemas socioambientais na cidade

School education and social sciences: the study on socio-environmental problems in the city

Educación escolar y ciencias sociales: el estudio sobre los problemas socioambientales en la ciudad

 

Cláudia Eliane Ilgenfritz (claudia.ilgenfritz@hotmail.com)

Escola Básica da Uri, Brasil

https://orcid.org/0000-0001-5431-1064

 

Helena Copetti Callai (copetti.callai@gmail.com)

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Brasil

https://orcid.org/0000-0001-8043-659X

 

 

Resumo

Os conteúdos curriculares das disciplinas de história e geografia possibilitam abordar aspectos do cotidiano nos anos iniciais, considerando os conhecimentos do mundo da ciência para isso. Estudar o lugar de vida dos sujeitos é a possibilidade de contextualizar situações vivenciadas em espaços e tempos relativamente complexos. Realizamos a proposição a partir da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, articulando entre o que é visível nas paisagens e o que elas expressam na sua materialidade e na imaterialidade. Partimos da delimitação dos conteúdos, habilidades e competências, e buscamos, por meio do trabalho com imagens, orientar as discussões e construir argumentos. O trabalho é realizado tendo o cartão-postal como provocador para necessidade do conhecimento, considerando que esse gênero pode contribuir para a leitura do mundo. O objetivo é refletir sobre a possibilidade de ampliar a perspectiva do aluno em relação ao local e ao mundo em que vive, observando o espaço representado, bem como a forma como as pessoas do local vivem, quais os problemas socioambientais estão presentes nele. Ao interpretar a realidade, é possível que os alunos se posicionem diante de todas essas questões e se responsabilizem pela cidade e pela forma como ela é construída.

Palavras-chave: Ciências Sociais; Cidade; Problemas socioambientais

 

Abstract

The curricular contents of the disciplines of history and geography make it possible to address aspects of daily life in the initial years, considering the proposals of science for this. Studying the place of life of the subjects is the possibility of contextualizing situations introduced in relatively complex spaces a times. Having defined the curricular scope based on the proposals of the National Base Comum Curricular – BNCC, we seek the articulation between what is visible in the landscapes and what they express in their materiality and in the intangible perspective. It starts from the delimitation with contents, skills and competencies, and seeks, through work with images, to guide the discussions and build the arguments. The work is carried out with the postcard as a motivator for access to information, considering that this genre can contribute to reading the world. The objective is to reflect on the possibility of broadening the student's perspective in relation to the place and the world in which they live, observing the space represented, as well as the way in which the people of the place live, what socio-environmental problems are present; By interpreting reality, it is possible for students to position themselves in front of all these issues and take responsibility for the city and the way it is built.

Keywords: Social Sciences; City; Socio-environmental problems.

 

Resumen

Los contenidos curriculares de las disciplinas de historia y de geografía, posibilitan abordar en los años iniciales aspectos de la vida cotidiana considerando las propuestas de la ciencia para esto. Estudiar el lugar de vida de los sujetos es la posibilidad de contextualizar situaciones introducidas en espacios y tiempos relativamente complejos. Definido el ámbito curricular con sustentación en las propuestas de la Base Nacional Comum Curricular – BNCC, buscamos la articulación entre lo que es visible en los paisajes y lo que ellos expresan en su materialidad y en la perspectiva intangible. Se parte de la delimitación con contenidos, habilidades y competencias, y se busca, mediante el trabajo con imágenes encaminar las discusiones y construir los argumentos. El trabajo se realiza con la tarjeta postal como motivador de acceso a información, considerando que ese género puede contribuir en la lectura de mundo. El objetivo es reflexionar sobre la posibilidad de ampliar la mirada del alumno con relación al lugar y el mundo en que vive, observando el espacio representado, bien como la forma en que viven las personas del lugar, qué problemas socioambientales se hacen presentes; interpretando la realidad es posible que los estudiantes se posicionen frente a todas esas cuestiones y tomen para sí, la responsabilidad por la ciudad y la forma como ella es construida.

Palabras-clave: Ciencias Sociales; Ciudad; Problemas socioambientales.

 

 

INTRODUÇÃO

Discutir o currículo das Ciências Sociais a partir da perspectiva do ensino-aprendizagem relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nos leva a refletir sobre o tratamento de questões sociais significativas para a vida humana. Nesse contexto, apresentamos uma proposta didática e uma experiência realizada com estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental.

O objetivo foi provocar os alunos a realizar reflexões sobre questões do cotidiano, promovendo ações que valorizem o estudo do local onde vivem os sujeitos, como forma de contextualizar situações inseridas em ambientes e tempos relativamente complexos. Além disso, buscou-se analisar a realidade do espaço vivido, considerando tanto aspectos singulares quanto universais das questões abordadas.

Consideramos importante nos referir aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, pois eles são, segundo as Nações Unidas, um apelo global que tem como intuito acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima, e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e prosperidade. Estes são um compromisso das Nações Unidas em viabilizar a Agenda 2030, um plano global para assegurar um desenvolvimento sustentável em todas as dimensões.

No Brasil, a implementação dos ODS nas escolas pode ser vista como uma estratégia fundamental para educar e sensibilizar as novas gerações sobre os desafios sociais, econômicos e ambientais que enfrentamos. Nesse sentido, o trabalho aqui apresentado se alinha a esse propósito, buscando integrar os ODS às práticas pedagógicas por meio de abordagens interdisciplinares e reflexivas.

Para além dos ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, recorremos às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que incluem conteúdos, habilidades e competências para propormos um trabalho a ser desenvolvido com alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, mas que também pode ser adaptado para a Educação Infantil. Os documentos oficiais normatizam o que deve ser desenvolvido na educação básica brasileira e consequentemente orientam as avaliações que são realizadas.

Nesse sentido, o texto está estruturado da seguinte forma: incialmente apresentamos o percurso metodológico da pesquisa e da proposta didática; na sequência, os resultados e discussão, considerando a referência teórica acerca dos temas abordados; as estratégias de planejamento para o estudo da cidade e dos problemas socioambientais; as crianças e a cidade: explorando e compreendendo o lugar e o mundo; e por fim, as considerações finais.

PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA E DA PROPOSTA DIDÁTICA

Uma das características marcantes da ciência moderna é a objetividade, frequentemente acompanhada pela busca de neutralidade. Essa abordagem está presente em diversos discursos que influenciam as práticas investigativas, incluindo aquelas desenvolvidas no século XX, refletindo as influências do método cartesiano. Segundo Berticelli (2006, p. 18), “...Quanto maior a ausência do sujeito pesquisador, tanto mais objetiva a investigação. Quanto mais objetividade, tanto mais confiável o conhecimento. Quanto mais ausência do sujeito, tanto mais presença do objeto. Esta é a lógica do método moderno de investigação e de produção do conhecimento”.

O problema não reside no rigor científico nem na objetividade em si, mas na negação das influências dos sujeitos e de suas histórias. A ciência moderna promove a ideia de uma ciência neutra, na qual os pesquisadores seriam capazes de se desvencilhar de suas concepções pessoais e produzir um conhecimento supostamente imparcial e não questionável. Embora o rigor científico seja indispensável no contexto da ciência, do método e da pesquisa, é fundamental questionar o discurso que sustenta a ideia de uma verdade única e de neutralidade, aspectos centrais na ciência moderna.

Para o desenvolvimento deste trabalho adotamos a perspectiva crítico-hermenêutica como metodologia, o que orientará tanto as escolhas teóricas quanto as metodológicas. Essa abordagem nos acompanha enquanto pesquisadoras há mais de duas décadas e define a forma como as categorias serão interpretadas, traduzidas e compreendidas no conjunto do quadro teórico. O objetivo é construir um percurso crítico e interpretativo, assumindo plenamente as implicações decorrentes das traduções realizadas ao longo do processo.

Recorremos a Mario Osorio Marques que escreve que

Não se pode ocupar a docência com a mera transmissão de conhecimentos. Ensinar não é repetir; é reconstruir as aprendizagens. Trata-se de realizar a tradução dos conceitos reconhecidos no estado atual das ciências para o nível das práticas sociais contextualizadas e conjunturais e traduzir aqui significa realizar uma inversão do plano da idealidade do conhecimento abstrato para o terreno em que firmam os pés as práticas cotidianas e concretas dos sujeitos/atores em presença (2000, p. 117-118).

 

E é a escola nosso campo de atuação, com pesquisas, proposições de trabalhos em conjunto e planejamento de atividades e situações de aprendizagens que possam fazer a diferença no cotidiano escolar. Ao longo de sua trajetória, a escola tem desempenhado a função de acolher os estudantes, oferecendo-lhes acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade e servindo como uma ponte entre crianças e jovens e os avanços que marcam a história da experiência humana.

Miguel Arroyo destaca que a escola “é uma instituição, são práticas, valores, condutas, modos de relacionamento e convívio, são rituais, hábitos e símbolos institucionalizados” (2012, p. 206). Para ele, a escola é um espaço-tempo com uma cultura própria, a chamada cultura escolar, que se manifesta por meio de práticas e elementos institucionais e reflete, de certa forma, os componentes da sociedade.

Essa cultura é construída pelas relações vividas e estabelecidas entre os sujeitos e o contexto social. Arroyo (2012) também discute como a escola é um ambiente onde se vive e se constrói uma cultura, e os sujeitos se constituem a partir dela. Segundo ele, mestres e alunos “viverão por horas e anos imersos na cultura escolar instituída. Terminarão conformando formas de pensar, hábitos, valores e condutas. Poderão ou não sair conformados ou formados até nas alternativas de reação a essa cultura e organização” (2012, p. 206).

Assim, a cultura escolar exerce uma influência significativa na forma como nos posicionamos diante das questões do mundo, mesmo que nem sempre estejamos conscientes disso. O tempo que passamos nesse espaço contribui para nosso processo de formação; a questão central é se reconhecemos e compreendemos essa influência. As marcas desse espaço e tempo moldam quem somos, mesmo que raramente reflitamos sobre elas.

Segundo Libâneo (2005, p. 22), a “acumulação de conhecimentos científicos e técnicos produzidos pela modernidade” apresenta desafios, pois, com o avanço da disciplinarização e especialização, os “campos disciplinares [tornam-se] isolados, fragmentados, ignorando o conjunto de que faz parte e a perda de significação. Com isso, a própria sociedade reproduz essa fragmentação, dissociando a cultura, a economia, a política, o sistema de valores, a personalidade”. O problema não está na acumulação de conhecimentos, que é essencial para viabilizar transformações, mas sim na fragmentação, que pode simplificar os campos disciplinares ou esvaziá-los de sentido.

 Por isso, nossa opção por trabalhar a partir do campo das Ciências Sociais, buscando articulação com outros campos, especialmente na leitura dos dados produzidos durante a realização das pesquisas e nas proposições realizadas para e com as escolas, professores e alunos.

Na Geografia e na História, a cidade é um dos temas contemplados no currículo escolar. E este texto aponta alguns resultados de um projeto desenvolvido em uma escola, no qual a temática urbana foi abordada com foco nos problemas socioambientais, mas acima de tudo apresenta uma proposta metodológica, com orientações didáticas, para além de uma conexão entre conceitos teóricos, como grupo, espaço e tempo, embasados em autores de referência dessas disciplinas, e as vivências cotidianas dos estudantes.

A pesquisa bibliográfica foi utilizada como suporte para a análise e como guia para as práticas realizadas pelos professores com os alunos. No momento de realização da parte prática deste estudo não tivemos a preocupação em publicizar o que e como foi planejado o trabalho, pois o objetivo maior era levar as crianças a ler a cidade para além dos livros, ou mesmo, das imagens. Vivíamos um período de retorno às atividades presenciais, ainda em meio a pandemia da Covid-19. É importante ressaltar que a pandemia, que teve início no Brasil em 2020, causou um impacto significativo nas relações sociais e no funcionamento das estruturas essenciais em todo o mundo, afetando também as escolas (Cunha et al., 2023, p. 218). E foi nesse contexto que participaram da pesquisa, uma professora e alunos do 5º ano de uma escola pública estadual, na cidade de Santo Ângelo, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

REFERÊNCIA TEÓRICA ACERCA DOS TEMAS ABORDADOS

A sustentação teórica e metodológica da experiência proposta para os estudantes envolve a articulação dos conceitos abordados com documentos de políticas públicas, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) promovidos pela ONU. As reflexões giram em torno dos conceitos de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, Problemas socioambientais, Lugar, Grupo – Espaço – Tempo.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), representam um alerta e um desafio para que a humanidade reflita e enfrente os problemas que ela mesma gera, comprometendo sua sobrevivência. O ideal é garantir os direitos de todos, promovendo a superação das desigualdades em um ambiente pautado pela paz e prosperidade. Para isso, é essencial proteger o planeta Terra, nossa casa comum. Desde sua formulação em 2012, os ODS chamam atenção para os desafios ambientais, políticos e econômicos que afetam o mundo de maneira cada vez mais evidente.

O combate à pobreza e à fome, o reconhecimento da diversidade em suas múltiplas formas e o esforço global para prevenir crises maiores são metas centrais, sempre respeitando a natureza e assegurando que todas as crianças tenham acesso à educação. Questões como as mudanças climáticas evidenciam os desafios ambientais enfrentados globalmente; a desigualdade econômica revela a concentração de riqueza nas mãos de poucos, enquanto todos contribuem para sua produção; e problemas sanitários, como a pandemia da Covid-19, demonstram os impactos que essas crises têm na sobrevivência e no acesso a direitos fundamentais, como as vacinas.

Os 17 objetivos, embora tratem de questões específicas, são interligados, e atender a um deles implica considerar os demais. Assim, é necessário trabalhar com essa perspectiva integrada, reconhecendo que vivemos em um mundo complexo, onde as relações humanas afetam todos os aspectos da vida. Na interação entre sociedade e natureza, é crucial superar a exploração impulsionada pelos interesses de uma minoria, já que os problemas atingem a todos, especialmente os mais vulneráveis, de forma mais intensa e devastadora.

Os problemas socioambientais refletem como a sociedade contemporânea se organiza e interage com a natureza, resultado das relações estabelecidas entre os seres humanos em um contexto marcado por profundas desigualdades sociais, econômicas, culturais e educacionais, além da falta de reconhecimento do outro como sujeito detentor dos mesmos direitos humanos.

Nesse cenário, considerando que as aulas de História e Geografia abordam as questões relacionadas à cidade com base nos conceitos de grupo, espaço e tempo, apresentamos uma proposta didática e uma experiência pedagógica centrada nos problemas socioambientais visíveis e perceptíveis no ambiente urbano. Garcia Perez (2015, p. 3) destaca que trabalhar com essas questões pode promover uma educação voltada à participação cidadã, incentivando o envolvimento na gestão dos desafios atuais. Tal abordagem busca formar indivíduos comprometidos com a busca de soluções e preparados para enfrentar, no futuro, as incertezas que surgirem. Mas para que possamos compreender o porquê desta proposta, abordamos na sequência o conceito de lugar e de espaço-tempo-grupo.

O conceito de lugar é compreendido aqui como um recorte espacial que serve de suporte aos fenômenos localizados, inseridos em um contexto mais amplo. Cada lugar, portanto, apresenta formas e funções específicas que definem suas características, relacionadas ao seu sítio e à sua situação. Essas dinâmicas constituem, conforme Milton Santos (1996, p. 267), “uma razão global e uma razão local que em cada lugar se superpõem e, num processo dialético, tanto se associam quanto se contrariam”.

Baseando-nos nesses pressupostos, adotamos o conceito de “força do lugar” de Santos, que reconhece que os sujeitos, ao viverem suas vidas no lugar, constroem entendimentos a partir do senso comum e devem perceber que, como agentes, podem contribuir para a transformação do espaço onde estão inseridos. A consciência sobre os problemas locais é, assim, uma maneira de reivindicar interesses que ultrapassem as imposições externas, já que, segundo Santos (1996, p. 273), “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”.

Os conceitos de grupo, espaço e tempo possuem grande relevância no contexto das disciplinas de Geografia e História, sendo fundamentais para o estudo dos conteúdos curriculares na educação básica. Apesar da fragmentação entre as especificidades de cada disciplina, esses conceitos são abordados em sua complexidade, buscando proporcionar aos estudantes o acesso a conhecimentos que abarquem a totalidade das experiências humanas.

O conceito de grupo, essencial para a convivência humana, apresenta desafios, pois é nele que, segundo Freire (1993, p. 162), “aprendemos esse difícil processo de conviver com as divergências, os conflitos, as diferenças”. No cotidiano, o grupo desempenha um papel central, e sua relevância se estende aos grupos estudados nas disciplinas, que são analisados dentro de seus contextos temporais e espaciais. As ações humanas ocorrem em espaços que servem como suporte, materializando-se em lugares por meio de edificações, as quais carregam em si histórias e significados vinculados às motivações de seus acontecimentos.

O espaço, por sua vez, é construído pela interação entre sociedade e natureza, sendo influenciado pelas relações humanas. Seu estudo envolve elementos como localização, distribuição, orientação, distâncias e legendas, que ajudam a organizar o entendimento dos estudantes.

O conceito de tempo remete às ideias de mudança, continuidade e sucessão, com foco no tempo social, já que a história examina precisamente as transformações e permanências do processo histórico. Esses três conceitos interligados permitem compreender a cidade como um espaço habitado por grupos humanos que, em parte, descendem dos antigos povos das reduções jesuíticas, mas que também exibem características modernas da vida contemporânea.

Atualmente, a cidade ocupa um espaço físico delimitado, definido por sua estrutura e organização urbanas, ao mesmo tempo em que conserva marcas de seu patrimônio material e imaterial, testemunhando as histórias vividas ali. Os conceitos de grupo, espaço e tempo orientam nosso estudo, oferecendo aos estudantes oportunidades de organizar suas interpretações sobre a vida urbana. Além disso, essas abstrações permitem que eles desenvolvam os próprios conceitos, transformando-os em ferramentas intelectuais para analisar essa e outras realidades e temáticas.

 

ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO PARA O ESTUDO DA CIDADE E DOS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS

O planejamento educacional é uma etapa crucial para a organização e execução de atividades pedagógicas que buscam atingir objetivos de aprendizagens que sejam significativas para os alunos. Conforme Libâneo

Planejar é uma das condições essenciais para a eficácia do ensino, pois permite ao professor organizar e antecipar as ações pedagógicas, definindo objetivos, conteúdos, métodos e formas de avaliação, além de possibilitar uma reflexão constante sobre o processo de ensino-aprendizagem” (2022, p. 75).

            O professor ocupa um lugar fundamental na escola e tem responsabilidade com o processo educativo das diferentes gerações que passam por ele ao longo de sua vida enquanto docente. Por isso, o planejamento é tão importante. Saber o que pretende ensinar, porque ensinar, como ensinar e a quem vai ensinar orienta o professor no percurso de suas ações docentes e isso é viabilizado pelo planejamento intencional de cada situação ou atividade. Podemos citar como exemplo, o que escrevem Souza e Anic (2024), que nos estudos sobre a gestão da sala de aula na formação inicial de professores, destaca-se frequentemente a importância do planejamento pedagógico. A construção desse planejamento é essencial, assim como a utilização de estratégias metodológicas adequadas para a sala de aula.

 Segundo Veiga (2007), o planejamento deve seguir uma sequência de passos que envolvem desde a definição dos objetivos até a avaliação do processo, garantindo que o ensino seja consistente. O primeiro passo é a análise do contexto, considerando as características dos alunos e as condições da escola. O segundo passo envolve a definição dos objetivos de aprendizagem, ou seja, o que se espera que os alunos saibam ou sejam capazes de fazer ao final da atividade. O terceiro passo diz respeito à escolha das estratégias e metodologias de ensino que melhor atendem aos objetivos estabelecidos. O quarto passo é a organização dos conteúdos, que devem ser escolhidos de acordo com a relevância para o desenvolvimento das habilidades desejadas. O quinto passo é a execução das atividades, com a aplicação das estratégias e metodologias planejadas. Por fim, o último passo consiste na avaliação, que deve ser contínua e formativa, permitindo ajustes no planejamento e proporcionando feedback aos alunos sobre seu progresso. Ao seguir esses passos, o planejamento torna-se uma ferramenta fundamental para garantir que os objetivos de ensino sejam atingidos de maneira organizada e reflexiva.

E foi considerando essas questões que elaboramos a proposta didática sobre os problemas socioambientais na cidade para alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, mas que pode ser adaptado para os anos anteriores ou mesmo para a Educação Infantil. O desenvolvimento do trabalho foi pensado de maneira integrada entre as disciplinas de Geografia e História, com a interdisciplinaridade sendo um princípio fundamental para o estudo da temática. Essas questões, por estarem ligadas à vida cotidiana, não se apresentam de maneira isolada ou fragmentada.

A partir das unidades temáticas definidas, foram considerados os objetos de conhecimento e as habilidades a serem alcançadas. Dessa forma, os conceitos de espaço, tempo e grupo se entrelaçam, e podem ser construídos pelas crianças, permitindo que operem intelectualmente para compreender os problemas do mundo em que vivem.

Quadro 1 – Seleção Unidades temáticas, objetos de conhecimento e habilidades

Geografia – 5º ano

Unidade temática:

Objetos de conhecimento:

Habilidades:

Conexões e escalas

Território, redes e urbanização

 

(EF05GE03) Identificar as formas e funções das cidades e analisar as mudanças sociais, econômicas e ambientais provocadas pelo seu crescimento.

Formas de representação e pensamento espacial

Mapas e imagens de satélite

(EF05GE08) Analisar transformações de paisagens nas cidades, comparando sequência de fotografias, fotografias aéreas e imagens de satélite de épocas diferentes.

Natureza, ambientes e qualidade de vida

Diferentes tipos de poluição

(EF05GE11) Identificar e descrever problemas ambientais que ocorrem no entorno da escola e da residência (lixões, indústrias poluentes, destruição do patrimônio histórico etc.), propondo soluções (inclusive tecnológicas) para esses problemas.

História – 5º ano

Unidade temática:

Objetos de conhecimento:

Habilidades:

Povos e culturas: meu lugar no mundo e meu grupo social

Cidadania, diversidade cultural e respeito às diferenças sociais, culturais e históricas

(EF05HI04) Associar a noção de cidadania com os princípios de respeito à diversidade, à pluralidade e aos direitos humanos.

(EF05HI05) Associar o conceito de cidadania à conquista de direitos dos povos e das sociedades, compreendendo-o como conquista histórica.

Registros da história: linguagens e culturas

Os patrimônios materiais e imateriais da humanidade

(EF05HI10) Inventariar os patrimônios materiais e imateriais da humanidade e analisar mudanças e permanências desses patrimônios ao longo do tempo

Fonte: Base Nacional Comum Curricular, seleção das autoras.

 

Com base neste quadro, nos desafiamos a estabelecer interações entre as proposições da BNCC para História e Geografia, alinhando-as com a saída de campo e o contexto dos estudos disciplinares específicos. Embora essas unidades temáticas sejam fundamentadas em conceitos apresentados pela BNCC, na prática escolar elas são enriquecidas pelas informações dos livros didáticos, pelo conhecimento dos professores e pelas metodologias de ensino, sempre levando em conta os conhecimentos prévios dos alunos.

Examinando as unidades temáticas de Geografia, vemos que elas envolvem Conexões e Escalas, Formas de Representação e Pensamento Espacial, e Natureza, Ambientes e Qualidade de Vida. Na História, abordam-se os temas de Povos e Culturas: Meu Lugar no Mundo e Meu Grupo Social, e Registros da História: Linguagens e Culturas. A articulação entre as atividades realizadas para estudar os povos e culturas e fazer registros históricos está vinculada ao uso das conexões e escalas, que nos ajudam a compreender o passado e refletir sobre a realidade presente, reconhecendo as particularidades do local dentro de uma perspectiva nacional e global. As discussões sobre qualidade de vida e questões ambientais são centrais para entender a relação entre sociedade e natureza, especialmente considerando que os povos usavam a natureza conforme suas necessidades.

Quanto aos objetos de conhecimento em Geografia, eles incluem Território, Redes e Urbanização; Mapas e Imagens de Satélite; e Diferentes Tipos de Poluição. Na História, os temas são Cidadania, Diversidade Cultural e Respeito às Diferenças Sociais, Culturais e Históricas; e Os Patrimônios Materiais e Imateriais da Humanidade. Ao tratar dos problemas socioambientais na cidade, reconhecemos os conceitos de Espaço, Tempo e Grupo ao explorar o território e as redes de urbanização, a poluição em diferentes períodos, e ao refletir sobre cidadania, diversidade e diferenças sociais, considerando o direito dos indivíduos à dignidade. Além disso, o respeito ao patrimônio remete à cidadania, à história e ao cuidado na organização espacial das cidades, territórios e regiões. O conceito de Mapas e Imagens de Satélite, presente na Geografia, é mais prático, relacionado às formas de representação dos espaços, e é exemplificado no uso de cartões-postais como ferramenta para o estudo.

As habilidades sugeridas nos convidam a refletir sobre aspectos fundamentais da prática pedagógica: como reconhecer e analisar o que é concretizado no espaço, o significado dos objetos patrimoniais e a organização dos espaços na cidade contemporânea, comparando com as formas de organização territorial dos povos indígenas. A partir dessa análise, é possível desenvolver interpretações sobre as funções e estruturas da cidade e dos centros urbanos, com ênfase na identificação e compreensão dos problemas socioambientais, dos direitos das populações, e nas diferentes formas de organização urbana que respeitam as questões ambientais.

AS CRIANÇAS E A CIDADE: EXPLORANDO E COMPREENDENDO O LUGAR E O MUNDO

Acreditamos que entender o lugar é fundamental para que os indivíduos reconheçam as conexões entre o local e o global, compreendendo como as dinâmicas mundiais impactam diretamente sua realidade cotidiana (Callai, 2005, p. 19). O trabalho planejado e desenvolvido, considerou o município de Santo Ângelo, situado na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, fronteira com a Argentina. Santo Ângelo Custódio foi o último dos Sete Povos das Missões, fundado na área que hoje corresponde à região missioneira do Brasil, no início do século XVIII. Durante o período reducional, foram estabelecidos 30 povos, distribuídos pelos territórios que atualmente pertencem à Argentina, Brasil e ao Paraguai. Santo Ângelo atual é resultado do processo de ocupação portuguesa e espanhola, da colonização de imigrantes europeus e africanos, além dos remanescentes indígenas, especialmente os guarani.

 

Santo Ângelo – RS
 

 

 

 

 

 


Fonte: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=431750&search=rio-grande-do-sul|santo-%C3%82ngelo>

Figura 1 – Localização do município de Santo Ângelo no Estado do Rio Grande do Sul

 

Santo Ângelo possui uma rica história com patrimônios materiais e imateriais que registram a história do município e da região. Como exemplo podemos citar as janelas arqueológicas criadas durante as escavações realizadas na Praça Pinheiro Machado, no contexto de sua remodelação. Essa praça está localizada no local onde existia a antiga Redução Jesuítica de Santo Ângelo Custódio. As janelas permitem a observação das fundações da antiga igreja do período reducional e contam com painéis informativos que oferecem orientações e detalhes históricos para turistas e demais visitantes interessados em conhecer esse patrimônio.

Como realizamos trabalhos junto a escolas do município há mais de 20 anos e na formação de professores para os anos iniciais e educação infantil, nossas pesquisas mostram que muitas das crianças não conhecem boa parte da cidade, especialmente a parte central. Por isso, propomos a realização de uma sequência de atividades que podem contribuir com esse processo de interpretação e compreensão da realidade vivenciada pelas crianças na escola. Escolhemos como elemento provocador, o gênero textual Cartão-Postal, por ser este gênero diferente dos que os estudantes costumam ter contato, além de propiciar uma reflexão sobre como eles são produzidos e com que intenção cada imagem é selecionada para compô-lo. Todo o planejamento foi desenvolvido de forma coletiva. Primeiramente com a professora e posteriormente com os alunos. Hermann (2002, p. 68) nos ajuda a compreender a importância do diálogo, pois é “no dizer que o pensar se realiza, e por isso a palavra é o entregar-se do pensamento ao outro”, na busca por entendimentos que possam ser validados pelo mundo da ciência.

A proposta realizada com os alunos se organiza em três momentos. Na atividade 1, depois de definir que os cartões-postais da cidade serão utilizados, é essencial promover uma discussão sobre o que caracteriza o gênero textual escolhido, além de explorar o sentido de seu uso em diversos contextos para os quais são produzidos. Problematização é palavra-chave nesse momento e deve considerar o que os alunos estão aprendendo sobre os temas que serão abordados. Em muitos casos, os estudantes já possuem um conhecimento sobre a história e podem utilizar desses conhecimentos na leitura e interpretação das imagens. Para além das reflexões sobre os cartões-postais organiza-se uma saída de campo, com o intuito de ir até os lugares que são representados nas imagens para observar como eles se apresentam no dia a dia. Durante a saída, os alunos analisam os espaços retratados nos cartões e fazem registros com o foco na seguinte questão: “Quais problemas identifico nesses lugares de memória e na cidade?”

Imagem de vídeo game

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

Fonte: Cartões-postais de Santo Ângelo/RS adquiridos pelas pesquisadoras.

Figura 2 – Cartões-postais

            A proposta de utilizar cartões-postais como recurso está relacionada ao fato de Santo Ângelo ser então uma cidade de relevância histórica, pertencente ao conjunto das sete reduções jesuíticas e, atualmente, a maior delas. Os conceitos trabalhados ganham relevância no contexto desse estudo: “Grupo”, representado pelos indígenas guarani e jesuítas que habitavam as reduções; “Tempo”, correspondendo aos séculos XVI a XVIII; e “Espaço”, considerando a área que, à época, fazia parte do domínio espanhol e integrava a Província Jesuítica do Paraguai.

Quando desenvolvida esta atividade, os estudantes demonstraram interesse e engajamento na aula, fazendo perguntas, compartilhando reflexões e conectando os conteúdos previamente estudados sobre a história das Missões às suas próprias experiências na cidade. Os registros feitos nos cadernos foram posteriormente utilizados para dar continuidade às atividades propostas na sequência pedagógica.

Atividade 2Planejamento e execução da saída de campo – a organização da saída de campo pode ser um processo coletivo que envolva os alunos em todas as etapas: o que observar, o que levar, quais conhecimentos pré-existentes são necessários, como se organizar e comportar durante a atividade, e como registrar as experiências ao longo da visita. Essa atividade requer preparação detalhada para que o trabalho fora do ambiente escolar seja alinhado aos objetivos pedagógicos. É fundamental definir os parâmetros das ações de observação, descrição, interpretação, análise, compreensão e representação, garantindo que as crianças entendam a saída de campo como uma prática de aprendizagem que exige postura teórica e metodológica.

Durante a saída, espera-se que os alunos participem de maneira engajada, aproveitando o momento como uma oportunidade significativa de aprendizagem e interação. A curiosidade e o entusiasmo das crianças são fundamentais para explorar novos conhecimentos fora do espaço escolar.

 

Pode ser uma imagem de 14 pessoas, pessoas em pé e ao ar livre

Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=311620840964856&set=pb.100063508279226.-2207520000..&type=3

Figura 3 – Saída de Campo

Ao realizar a saída de campo no âmbito do estudo realizado na escola em Santo Ângelo foi necessário seguir as normas de segurança rigorosamente, tanto em relação ao deslocamento pela cidade quanto às medidas sanitárias necessárias devido à pandemia da Covid-19. A primeira parada foi junto ao Monumento ao Índio Sepé, onde os alunos observaram e registraram suas impressões, com destaque para registros fotográficos feitos com celulares. É importante ressaltar que os estudantes abordaram o tema do vandalismo ao patrimônio cultural, pois o monumento está cercado por grades para evitar depredações. Muitos disseram sentir vergonha da forma como algumas pessoas tratam o patrimônio. Esse fato poderá ser explorado em discussões sobre cidadania e cuidado com o patrimônio, já que muitos alunos poderão expressar indignação e reflexões sobre a responsabilidade coletiva.

Na sequência foi a vez de visitar o Museu Municipal e a Catedral Angelopolitana e as janelas arqueológicas com vestígios da Igreja do período missioneiro. Nos dois espaços os alunos implicaram-se e fizeram muitas perguntas sobre aspectos históricos e geográficos, especialmente sobre a relação entre padres e indígenas e, mesmo, sobre os modos de vida do povo guarani. As observações e questionamentos dos alunos nesses espaços reforçam a conexão entre teoria e prática, ampliando a compreensão sobre o passado e sua relação com o presente.

É importante organizar com os alunos a saída de campo (O que observar, o que levar, que conhecimentos precisamos ter, como devemos nos organizar e comportar durante a saída, como faremos o registro do que veremos durante a saída). Esta é uma atividade dirigida que requer desde a preparação da organização do trabalho fora do espaço escolar como os elementos necessários para o que se pretende com a saída de campo. Cabe estabelecer os parâmetros do que interessa nas atividades de observar, descrever, interpretar, analisar compreender e representar.  São ações que precisam estar entendidas pelas crianças de modo a considerar a saída de campo uma atividade pedagógica que requer postura teórica e metodológica para aprender. A problemática inicial era constantemente relembrada: “Quais problemas identifico nesses lugares de memória e na cidade?”, enquanto era realizada a observação dos espaços percorridos.

Atividade 3: Sistematização da experiência vivenciada – Esta etapa é dedicada à sistematização do aprendizado, utilizando os materiais coletados pelos alunos durante a saída de campo, como fotografias, registros das conversas realizadas entre eles e com outras pessoas. Para organizar e registrar as experiências vividas, os alunos preenchem uma Ficha Didática, elaborada para provocar reflexões sobre a saída de campo. Um dos exercícios propostos pode ser a comparação das imagens dos cartões-postais com os locais visitados, identificando semelhanças e diferenças. Isso permite que as crianças articulem suas observações com o que foi discutido previamente em sala de aula, especialmente para compreender se o que as imagens apresentam realmente representa a realidade vivenciada. As ruas estão limpas, o lixo é recolhido, as pessoas cuidam da cidade quando circulam pelos espaços públicos, existem moradores de rua, há preocupação com a preservação ambiental e patrimonial?

Ao desenvolver o trabalho com os alunos do 5º ano podemos dizer que o retorno à escola foi repleto de entusiasmo, com as crianças compartilhando animadamente suas impressões e descobertas. Apesar do fácil acesso ao centro histórico da cidade e da gratuidade da entrada no Museu, muitos alunos relataram que nunca haviam explorado esses espaços antes. Ao responder à questão: “Que problemas identifico nesses lugares de memória e na cidade?”, os alunos demonstraram um senso crítico aguçado. Entre os tópicos abordados, destacou-se a preocupação com a forma como os espaços públicos são cuidados. Quando questionados sobre o estado de conservação das ruas e a presença de lixo, a opinião foi unânime: as ruas estavam limpas. Além disso, o comportamento dos motoristas foi destacado positivamente, pois respeitaram as faixas de pedestres, especialmente ao notar o grupo uniformizado.

No entanto, a questão da conservação do patrimônio cultural foi o ponto mais debatido. As crianças registraram, por meio de fotografias e observações, evidências de pichações e depredações em diversos locais visitados. Esses problemas foram discutidos com os professores, promovendo reflexões sobre a importância do cuidado com os espaços históricos e públicos. Essa atividade final proporciona uma visão mais ampla sobre cidadania e responsabilidade coletiva, consolidando os aprendizados adquiridos durante todo o processo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Refletir sobre questões sociais que impactam diretamente a vida de cada sujeito nos impulsiona sobre a necessidade de se pensar em como podemos contribuir com o processo de produção e construção de conhecimentos, especialmente na Escola Básica Brasileira. Nossa investigação se fundamenta na possibilidade de integrar o conhecimento científico à vivência cotidiana. Com esse propósito, buscamos instigar as crianças a analisar criticamente os espaços da cidade e criar condições para que apliquem os conhecimentos adquiridos, em uma abordagem construída em parceria com a escola, professores e equipe diretiva.

Com base nas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), selecionamos conteúdos, habilidades e competências para planejar, de forma coletiva, um trabalho que possa ter sentido e significativo para os estudantes. Como ponto de partida, propomos o uso do gênero textual Cartão-Postal, desconhecido por muitos estudantes, com o objetivo de enriquecer seus repertórios culturais. Essa abordagem possibilita refletir sobre a realidade local e relacioná-la às imagens representadas nos cartões.

A saída de campo ao ser cuidadosamente planejada com um propósito pedagógico claro, rompe com a ideia de um simples passeio. As crianças são desafiadas a questionar seus conhecimentos, demonstrando curiosidade e engajamento. Agindo como pequenos pesquisadores, levantam perguntas, buscam respostas e coletam informações. Mesmo que alguns já conheçam os espaços visitados, a mediação de professores e especialistas no local possibilita uma compreensão mais profunda sobre a história e os processos de construção daquele ambiente. 

Ao apresentar parte de uma experiência desenvolvida com alunos do 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública de Santo Ângelo, localizada no sul do Brasil é possível visualizar como na prática essa proposta aconteceu, mas a intenção é que ela sirva de provocação para o planejamento dos professores, tanto da educação infantil quanto dos anos iniciais. Assim é possível adaptar o planejamento de acordo com as peculiaridades de cada turma e realidade.

Os alunos que participaram do trabalho, ao registrarem suas observações e aprendizagens, demonstraram uma preocupação significativa com a maneira como as pessoas costumam lidar com o patrimônio da região das Missões. A análise dos vestígios da antiga redução jesuítica de Santo Ângelo Custódio suscitou reflexões sobre a falta de conhecimento acerca da história local e das disputas que marcaram a região. Essa experiência reforçou a importância de conhecer o lugar onde se vive como uma forma de estabelecer conexões com outros tempos, espaços e contextos, além de apontar caminhos para enfrentar os problemas identificados.

 

Recebido em: 01/09/2024

Aceito em: 13/12/2024

 

REFERÊNCIAS

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