Divulgação Científica no Âmbito do Ensino de Ciências: práticas de estágio supervisionado

Scientific dissemination within the scope of Science Teaching: supervised internship practices

La divulgación científica en el ámbito de la Enseñanza de las Ciencias: prácticas de pasantía supervisada

 

Eduarda Boing Pinheiro (eduardaboingpinheiro@gmail.com)

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Brasil

Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5918-7285

 

Igor Vinícius de França (igorviniciusdefranca@gmail.com)

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Brasil

Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9669-470X

 

Fernanda Luiza de Faria (fernandafaria@ufsj.edu.br)

Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ, Brasil

Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3326-9204

 

Resumo:

Paira sobre o estágio supervisionado a expectativa de colocar em prática muitos dos conhecimentos adquiridos durante a graduação, bem como de entender como tais conhecimentos reverberam na prática. No contexto dos cursos de licenciatura o estágio costuma ser um dos primeiros momentos de troca ativa entre licenciando(a)s e escolas. Assim, este trabalho apresenta um relato sobre a criação de um site e de um canal no YouTube, tendo em vista a divulgação científica dentro e fora do Instituto Federal de Santa Catarina, escola-campo da disciplina de Estágio III de licenciando(a)s em Química da UFSC - Campus Blumenau em 2020, no contexto de pandemia. A concretização de ferramentas de divulgação científica mobilizou muitos estudos e aprendizados, sobretudo com as pesquisas para a contextualização de conceitos químicos e com o aprimoramento das linguagens para que estivessem acessíveis ao público, as quais permanecem disponíveis on-line e podem ainda ser aproveitadas em contextos educativos presenciais ou em programas de Ensino à Distância.

Palavras-chave: estágio supervisionado; divulgação científica; Ensino de Ciências.

 

Abstract:

There is an expectation about the supervised internship to put into practice much of the knowledge acquired during graduation and to understand how such knowledge reverberates in practice. In the context of undergraduate courses, the internship is usually one of the first moments of active exchange between graduates and schools. Thus, this work presents a report on the creation of a website and a channel on YouTube with a view to scientific dissemination inside and outside the Federal Institute of Santa Catarina, field school of the discipline of Internship III of licentiates in Chemistry at UFSC - Campus Blumenau in 2020, in the pandemic context. The implementation of scientific dissemination tools mobilized many studies and learning, especially with research to contextualize chemical concepts and with the improvement of languages ​​so that they were accessible to the public, which remain available on-line and can also be used in face-to-face educational contexts or in Distance Learning programs.

Keywords: supervised internship; scientific divulgation, Science Teaching.

 

Resumen:

La expectativa se cierne sobre la pasantía supervisada para poner en práctica gran parte del conocimiento adquirido durante la graduación y comprender cómo ese conocimiento repercute en la práctica. En el contexto de los cursos de pregrado, la pasantía suele ser uno de los primeros momentos de intercambio activo entre los graduandos y las escuelas. Por lo tanto, este trabajo presenta un informe sobre la creación de un sitio web y un canal en YouTube con miras a la divulgación científica dentro y fuera del Instituto Federal de Santa Catarina, escuela de campo de la disciplina de Pasantía Supervisada III de Licenciatura en Química en la UFSC - Campus Blumenau en 2020, en el contexto de la pandemia. La implementación de herramientas de divulgación científica movilizó muchos estudios y aprendizajes, especialmente con investigaciones para contextualizar conceptos químicos y con la mejora de lenguajes para que fueran accesibles al público, que siguen estando disponibles en línea y también pueden ser utilizados en forma presencial o en programas de Educación a Distancia.

Palabras-clave: pasantía supervisada; divulgación científica; Enseñanza de las Ciencias.

 

 

INTRODUÇÃO

O estágio pode ser definido como o momento em que os estudantes já se encontram aptos a aplicarem seus aprendizados em um contexto profissional fora da universidade (Zabalza, 2014). É uma possibilidade de incluir o estudante em seu futuro ambiente de trabalho, mas também de prepará-lo para a sua prática profissional, ainda que as características do estágio variem de um programa para outro.

            O estágio é um momento para o(a) licenciando(a) conhecer a realidade da escola e vivenciar um pouco dela, compreendendo mais acerca da ação do(a) professor(a) naquele espaço (Cabral; Flôr, 2016). O(a) licenciando(a) deve estabelecer relações entre o conhecimento acadêmico e a realidade escolar, permitir uma apropriação do conhecimento profissional do(a) professor(a) e ainda refletir sobre as situações vivenciadas na sala de aula (Broietti; Stanzani, 2016).

A fim de possibilitar uma base de conhecimentos mais amplos para o(a)s futuro(a)s docentes, o estágio é uma prática pedagógica inserida em uma prática social como um espaço de investigação, aprendizagem e reflexão sobre a prática docente. Como destaca Lima (2008), o estágio é um espaço significativo para o desenvolvimento da identidade docente. A sala de aula é destinada à aplicação dos conhecimentos científicos aliados aos conhecimentos já trazidos pelo(a)s estudantes (Freire, 2019), trabalhando-se de forma que os assuntos científicos possam potencializar os aspectos relativos às vivências estudantis dentro e fora do ambiente escolar, favorecendo a atribuição de sentido do(a)s estudantes à escola. Assim como Martins e Silva (2023) perceberam a relevância dos espaços não formais acessados virtualmente no tempo de educação remota tendo em vista as atividades realizadas na disciplina de Estágio Supervisionado, é possível refletir sobre o acesso do(a)s estudantes da educação básica a tais ferramentas. Nesse sentido, pode-se pensar na utilização de ferramentas já existentes e que podem contribuir para o trabalho com tais estudantes, bem como é possível criar novos materiais que, no caso descrito neste trabalho, têm maior intenção de propiciar meios de divulgação científica.

Ademais, a escola tem papel fundamental na questão da socialização, trazendo para o debate temas importantes e presentes nesse meio como gênero, sexualidade, diferença de classes, religião, dentre outros, aproximando o estudante da instituição (Leão; Carmo, 2014). Os autores Leão e Carmo (2014) demonstram que a utilização de ferramentas hoje tão disponíveis como a informática e a tecnologia e tão bem manipuladas pelos jovens também podem ser uma ótima opção para a aproximação entre os estudantes e a escola. Não é só a escola que cria expectativas quanto aos jovens: os jovens também anseiam pela escola. A problemática a ser resolvida, nessa questão, é para que tais anseios se voltem também para o aprendizado, além da socialização. Cantoni et al (2021) destacam que para além dos desafios naturalmente vivenciados durante o estágio, esse processo foi agravado pelo contexto de pandemia, por conta de distanciamento social e não possibilidade de desenvolvimento das aulas no espaço escolar de forma presencial.

Diante do que foi colocado, neste estudo trazemos um relato sobre uma vivência de licenciandos em Química ao longo de uma disciplina de Estágio Supervisionado iniciada no primeiro semestre de 2020. O semestre se iniciou normalmente, de forma presencial, e a princípio cada estudante de estágio realizaria suas atividades na escola-campo que escolheu. Com a interrupção do semestre por conta do início da pandemia de Coronavírus no Brasil, muitas das atividades acadêmicas precisaram ser adaptadas e o estágio foi uma delas. Assim, mudamos, inclusive, as escolas-campo, visto que a Secretaria de Educação do estado não nos permitiu continuar o estágio de maneira remota nas Instituições de Ensino Estaduais. Para que pudéssemos seguir o semestre, a professora orientadora da disciplina de estágio entrou em contato com um Instituto Federal da região do Vale do Itajaí, o qual se tornou nossa escola-campo.

Dessa forma, acompanhamos remotamente as atividades desenvolvidas com as turmas do Ensino Médio integrado ao técnico de Química. Nesse caminho, as aulas na escola-campo ocorriam de forma remota e a maior parte das atividades acontecia assincronamente, tornando a reflexão sobre a vivência do estágio um grande desafio.

No próximo tópico trazemos discussões teóricas que permeiam a divulgação científica que foi, ao longo do desenvolvimento do estágio, uma base para que novas propostas de atividades fossem surgindo junto aos licenciandos.

Divulgação científica e a formação da cultura científica

O termo divulgação científica é amplamente utilizado no Brasil para descrever o processo em que se objetiva comunicar as informações científicas para o público geral por meio de métodos e recursos técnicos de comunicação. O vocábulo divulgar deriva da palavra latina divulgare, que significa difundir, disseminar, propagar, comunicar, vulgarizar, popularizar, etc. Neste sentido, podemos entender o termo divulgação científica como sendo as diversas maneiras de tornar público um conceito, informação ou conhecimento científico (Cunha, 2009).

A divulgação científica é uma área relativamente nova que iniciou no período pós Segunda Guerra Mundial devido a mudanças culturais ocasionadas por esse e outros importantes eventos do Século XX.  Os avanços científicos iniciaram-se na transição da Era Medieval para a Era Moderna e ocorreram de forma mais pronunciada a partir da Primeira e da Segunda Revolução Industrial, aumentando exponencialmente o conhecimento científico até os dias atuais. Entretanto, foi na segunda metade do Século XX que as novidades científicas passaram a ser de interesse público, fomentadas por textos jornalísticos publicados neste período (Albagli, 1996; Valeiro; Pinheiro, 2008). É importante ressaltar que a divulgação científica é uma área em vigente desenvolvimento, sendo potencializada por mídias recentes e acessíveis ao grande público de forma gratuita.

Estratégias didáticas que proporcionam o contato dos estudantes com diversos textos de temas científicos e informações diversificadas podem trazer alguns benefícios. Dentre estes, pode-se citar o acesso a um leque de informações verdadeiras e seguras, o entendimento e possibilidades de interpretação de terminologias e símbolos científicos, a interpretação e domínio de conceitos, somado ao desenvolvimento de competências de leitura e diferentes formas de se elaborar um argumento. A aproximação a esses materiais científicos e de divulgação científica é condição sine qua non para a integração destes estudantes na cultura científica (Martins et al. 2001; Ferreira; Queiroz, 2012).

Isto posto, este estudo tem como objetivo apresentar e discutir sobre a produção de materiais de divulgação científica de licenciandos em Química da UFSC de Blumenau durante a disciplina de Estágio Supervisionado.

 

METODOLOGIA

O presente trabalho originou-se no âmbito da disciplina de Estágio Supervisionado III que ocorreu na segunda metade do ano de 2020 de forma remota devido ao contexto da pandemia. Como já apontado, a disciplina teve como novo campo, para todo(a)s o(a)s licenciando(a)s, um Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) da região. Diante dessa realidade tínhamos ainda o desafio de ambas as instituições (universidade e escola-campo) não estarem com os semestres alinhados, assim, os estagiários puderam cumprir poucas horas na instituição.

Tendo em vista essa condição, os licenciandos da disciplina foram convidados pela professora orientadora da UFSC a realizar um projeto que envolveria o IFSC e ainda a construir vídeos como recursos didáticos para serem disponibilizados em um canal do Youtube criado exclusivamente para essa disciplina de Estágio do curso de Química. Desta forma, neste trabalho nos propomos a apresentar o projeto que envolveu a criação de um site de divulgação científica e sobre os vídeos elaborados pela turma e disponibilizados no canal do YouTube intitulado “Estagiando na Química”. Oito estagiários desempenharam papel crucial no desenvolvimento de materiais em vídeo dispostos no canal do YouTube. Os trabalhos foram produzidos individualmente, contribuindo com vídeos didáticos com perspectivas inovadoras sobre o ensinar da Química. O resultado de seu trabalho coletivo culminou na criação de 24 materiais. Além disso, neste processo, parte dos autores deste trabalho são também sujeitos da pesquisa se caracterizando como licenciandos da disciplina de Estágio Supervisionado. Este foi o terceiro e último estágio supervisionado da matriz curricular destes licenciandos, o único realizado de forma remota. Os dois primeiros estágios aconteceram em escolas estaduais da cidade de Blumenau.

Nosso trabalho tem caráter qualitativo, no qual tem-se uma investigação descritiva, que se interessa não só pelos produtos, mas também pelo processo, e na qual não se busca ainda testar ou comprovar hipóteses prévias (Bogdan; Biklen, 1994). Este estudo debruça-se em analisar o percurso formativo do(a)s licenciando(a)s durante a realização de uma disciplina de estágio de forma remota, mais especificamente olhando para alguns dos materiais produzidos, dentre eles um site de divulgação científica e vídeos de curta duração, disponibilizados no Youtube. Tais materiais serão apresentados no tópico a seguir, bem como as reflexões acerca das atividades do estágio para a formação da identidade docente.

Para análise dos dados, organizou-se os resultados em três categorias construídas, à priori, determinadas pelos materiais construídos, são eles: Site Construindo ConsCIÊNCIA e Vídeos no canal Estagiando na Química. Ao longo da discussão dos resultados amparou-se nos referenciais teóricos que discorrem sobre o estágio supervisionado e a divulgação científica.

 

DESENVOLVIMENTO

Mesmo que à distância e sem conhecer os docentes e discentes pessoalmente, foi unânime na turma de Estágio Supervisionado o sentimento de liberdade de atuação enquanto estagiários. Cada licenciando estagiou em uma disciplina do curso técnico em Química, como Química Geral, Química Analítica Qualitativa, Química Orgânica, entre outras.

Nesse contexto, compreendemos que essa liberdade concedida aos licenciandos está interligada às condições de trabalho dos professores supervisores, à estrutura da escola e ao engajamento dos estudantes da escola-campo. Sabemos que os docentes de Institutos Federais costumam ter remuneração equiparada a professores universitários, além de apresentarem tempo de aula reduzido, quando comparado aos professores das escolas estaduais ou municipais, tendo ainda maior tempo de planejamento das suas aulas. Geralmente esses docentes têm formação a nível de mestrado ou até doutorado e podem, inclusive, desenvolver pesquisa com os estudantes. Com isso, todos ganham: docentes, discentes e comunidades (e estagiários), visto que são muitas as oportunidades que podem emergir dessa vivência.

A partir desse espaço cedido aos licenciandos, foram desenvolvidas atividades para os discentes, vídeos de apoio, resolução de exercícios, tempos de monitoria, entre outros. Além disso, fazia parte da ementa da disciplina de Estágio Supervisionado III a realização de um projeto voltado à escola campo de estágio e a construção de vídeos, os quais deveriam ser curtos, com duração entre 5 e 15 minutos, e apresentando temáticas contextualizadas e uma linguagem mais acessível aos estudantes.

Ainda que de maneira remota e distante, todas as atividades desenvolvidas ao longo do estágio, e majoritariamente os trabalhos realizados durante os projetos, aconteceram de modo a respeitar e valorizar a cultura juvenil (Leão; Carmo, 2014) do(a)s estudantes do IFSC. Dessa forma, os materiais produzidos traziam uma linguagem próxima a do(a)s jovens, além de simples, com a preocupação em abordar assuntos que pudessem ser do interesse ou que estivessem relacionados à vida do(a)s discentes.

Do mesmo modo, a construção de plataformas digitais, em contexto de pandemia ou não, também representam essa aproximação aos estudantes, visto que é inegável a influência que as tecnologias exercem no dia a dia de todos os indivíduos, sobretudo no dos jovens, como também ressaltam Leão e Carmo (2014). Nesse sentido, a idealização de um site e de um canal no YouTube visando à divulgação científica e ao diálogo com os estudantes pareceu coerente, principalmente tendo em vista a realidade da crise do Coronavírus.

Site Construindo ConsCIÊNCIA[1]

Gomes, Silva e Machado (2016) explicam que a divulgação científica pode contribuir para que o(a)s cidadã(o)s se aprofundem no conhecimento acerca dos aspectos científicos, fato que o(a)s possibilita tomar decisões mais conscientes sobre eventos científicos de nosso dia a dia. Isso porque, o trabalho com a divulgação científica envolve justamente a criação de relações entre assuntos cotidianos e a ciência, e quando usados como estratégia de ensino, são vistos como incentivadores e atrativos aos estudantes.

                        Com o desenrolar da pandemia a criação de um site como forma de relação, mesmo que remotamente, com os estudantes da escola campo se mostrou promissora. Ainda assim, de todo o trabalho do site, o maior desafio foi justamente o acesso aos estudantes, visto que não nos conhecíamos, não tínhamos seus contatos e a forma que encontramos para divulgar o site foi através do coordenador do curso de Química que encaminhava nossos e-mails sobre o site aoss estudantes.

                        No entanto, fizemos esse movimento (com o coordenador do curso de Química) apenas duas vezes, um pouco por receio de o estar atrapalhando em suas atividades, mas também porque percebemos que as pessoas de fora da escola, ou seja, a comunidade em geral, estavam mais interessadas do que o(a)s próprio(a)s estudantes.

Esta constatação se tornou real quando iniciamos divulgações individuais dos posts no Instagram e em grupos no WhatsApp, e notamos um aumento considerável no número de acessos, com posts alcançando mais de 100 visualizações. Não obstante, esse engajamento acontecia de maneira singular em cada post divulgado, ou seja, não era forte o suficiente para incentivar visitas frequentes ao site. Em posts que não foram divulgados o número de acessos se manteve baixo, com menos de 10 visualizações. Nesse sentido, vislumbramos a necessidade de termos divulgado mais veementemente cada post produzido. A vantagem da criação de um site, entretanto, ainda é a possibilidade de visitação e divulgação posterior, já que os posts e o site se mantêm ativos.

Além do post de apresentação que informava qual era a ideia a partir da construção do site, escrevemos sobre a visão de ciência e de cientistas, a qual pode ser muito estereotipada (muitas vezes por influência das mídias). Também falamos sobre grandes cientistas das áreas exatas e também das humanas, sobre abelhas, principalmente as abelhas nativas sem-ferrão, que correm risco de extinção, e também sobre o cientista Fritz Haber, que foi importante para a produção em escala mundial da amônia, mas também foi o principal cientista envolvido na produção do gás mostarda durante a 1ª Guerra Mundial.

Abordamos ainda a relação entre a ciência e alguns saberes populares; trouxemos sugestões de um museu virtual; criamos uma cruzadinha online sobre elementos químicos, um podcast sobre energia e vídeos sobre os ciclos biogeoquímicos. Mostramos a importância de entendermos melhor sobre os polímeros, tendo em vista seus impactos ambientais; ilustramos o processo de compostagem e contamos sobre as aproximações entre a ciência e a história do livro “Frankenstein”. No site, os posts eram publicados, em média, duas vezes por semana e abordavam textos relacionados a aspectos da natureza do conhecimento científico, bem como sugestões de jogos ou sites que falassem sobre a ciência. Todos os posts foram supervisionados pela professora orientadora da disciplina, também autora deste trabalho. Algumas thumbnails[2] dos posts estão na Figura 1.

 

Fonte: Própria do(a)s autore(a)s, 2020.

Figura 1Thumbnails de três das publicações realizadas no site Construindo ConsCIÊNCIA

 

Em suma, a experiência de criação e manutenção do site como ferramenta de divulgação científica durante a pandemia proporcionou valiosas percepções sobre o alcance e engajamento do público-alvo. A decisão de expandir as estratégias de divulgação para plataformas de mídia social proporcionou um aumento considerável nas visualizações, mas evidenciou a necessidade de uma abordagem mais incisiva para promover a visitação frequente ao site.

Vídeos no canal Estagiando na Química[3]

Com a finalidade de divulgar a ciência, bem como de experienciar parte do trabalho da docência, a turma de Estágio criou vídeos didáticos de temas variados a serem publicados em um canal no YouTube denominado Estagiando na Química. O objetivo era que os(as) licenciandos(as) vivenciassem experiências de planejamento utilizando linguagens acessíveis para a explicação de conceitos científicos. Cada estudante criou quatro vídeos, sobre conteúdos de química selecionados por ele(a)s próprios, relativos ao 2º e 3º anos do Ensino Médio[4].

Com relação aos vídeos produzidos foi possível visualizar que o(a)s estudantes buscaram se desvencilhar das explicações que se atêm a vestibulares, por exemplo. Este foi um consenso entre a turma, pois sabe-se que há muitas aulas neste formato no YouTube e também porque acreditamos em uma ciência que esteja além dos processos seletivos, mas que seja vista como relevante para o entendimento de fenômenos de nosso cotidiano.

Ao todo foram publicados 24 vídeos no canal em 2020, os quais se atentaram aos temas de ácidos e bases, cinética química, radioatividade e química orgânica (classificações de carbono, funções oxigenadas e nitrogenadas, isomeria e reações orgânicas). Para contextualizar esses conteúdos com assuntos próximos ao(à)s estudantes foram abordados assuntos sobre futebol, produtos de limpeza, medicamentos, petróleo, explosivos, dentre outros.

Nos vídeos sobre ácidos e bases, por exemplo, mostramos como esses compostos estão presentes em nosso cotidiano, visto que os alimentos e produtos de limpeza podem ser categorizados dessa forma. Além disso, um dos vídeos comenta sobre o fato de o funcionamento de muitos medicamentos ser dependente da regulação do pH em cada órgão do corpo. Para abordar as condições de equilíbrio químico, conversamos sobre as mudanças de desempenho dos jogadores de futebol quando jogam em diferentes lugares do mundo.

Durante a introdução sobre a Química Orgânica, contamos um pouco da história do carbono e elucidamos a influência desses compostos no cheiro característico de alguns fenômenos, além de citarmos a sua presença na fórmula do gás lacrimogêneo, por exemplo. Ao falar mais especificamente sobre as reações orgânicas, enaltecemos o processo de síntese do TNT e mostramos como o álcool pode ser produzido a partir do petróleo. Estes são apenas alguns exemplos dos muitos vídeos produzidos e disponibilizados no canal.

Em geral, a confecção dos vídeos foi trabalhosa, principalmente na edição e preparação. Apesar de não cumprir a função de uma aula, pois a realização de um vídeo durante o tempo de uma aula seria incoerente, os vídeos produzidos se tornam recursos didáticos satisfatórios, podendo ter potencialidades para a abordagem do professor em diferentes contextos e conteúdos químicos na educação básica. A partir do que foi colocado, a realização deste trabalho nos possibilitou refletir sobre a necessidade de utilização de uma linguagem acessível ao(à)s estudantes, além de nos estimular a abordar temas que fossem próximos ao cotidiano e à realidade do(a)s discentes. Com isso, acreditamos que os vídeos criados chamam a atenção do(a)s estudantes e surgem como uma possibilidade de aproximação dele(a)s com a química. Ademais, esses vídeos podem ser utilizados por professore(a)s também em sala de aula, de forma presencial, como um recurso didático, visto que se tratam de vídeos curtos e dinâmicos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio é uma prática curricular dos cursos de licenciatura e é absolutamente necessária para a formação de professore(a)s, uma vez que disponibiliza espaços para a realização e avaliação da prática docente. Nestes espaços, cria-se a intenção de desenvolvimento de práticas que contribuam para a formação do(a)s licenciando(a)s e ao mesmo tempo para a escola-campo. Desta forma, realizamos a construção de um site visando à publicação de textos de divulgação científica e de um canal na plataforma YouTube onde publicamos vídeos sobre diversos conteúdos científicos.

O desenvolvimento de técnicas para uma realidade tão devastadora quanto a pandemia de COVID-19 proporcionou novos aprendizados para o(a)s licenciando(a)s por meio da adaptação ao novo contexto. Nesse sentido, o desenvolvimento destes espaços virtuais de formação e conhecimento foram relevantes tendo em vista a realidade das condições de isolamento social impostas na época para a prevenção e combate à pandemia de Coronavírus.

A execução dos três estágios necessários para a obtenção do título de licenciado(a) em Química na Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Blumenau representou uma etapa fundamental na formação dos estagiários(as). A proposta delineada por Zabalza (2014) de nos aproximar do contexto escolar foi plenamente atendida, especialmente no terceiro estágio, realizado durante um período de pandemia em uma instituição com abordagem distinta daquela à qual estávamos habituados como estagiário(a)s de escolas estaduais. Este cenário ressaltou a importância da valorização docente, das condições do espaço escolar e da formação dos professores para a qualidade do ensino.

Durante o estágio no IFSC, notou-se uma mobilização significativa por parte dos docentes na realização de atividades contextualizadas e orientadas à participação ativa dos discentes. A recepção calorosa e a confiança depositada em nosso trabalho pelos professores foram elementos essenciais em um semestre tão atípico. Os projetos desenvolvidos durante essa etapa destacaram a necessidade de abordar temáticas próximas à realidade dos alunos, evidenciando a importância de colocá-los no centro do processo de ensino.

Acreditamos que esta tenha sido uma forma de nos colocar em contato com a comunidade escolar do IFSC, mas também de atingirmos a comunidade não escolar, que acessou diversas publicações. O website teve um total de 17 publicações e algumas delas tiveram um número expressivo de visualizações, pois foram compartilhadas em redes sociais ou divulgadas por e-mail à comunidade acadêmica e escolar, enquanto que outras publicações obtiveram menos acessos, pois foram menos divulgadas. Dessa forma, concluímos que a comunidade escolar não adquiriu acesso perene semanal ao site.

A criação de textos e vídeos voltados à discussão científica proporcionou uma profunda reflexão sobre a interseção entre os conhecimentos científicos e os assuntos cotidianos, facilitando a apresentação de uma perspectiva mais envolvente da ciência no contexto escolar. O envolvimento com as plataformas virtuais e a necessidade de pesquisa detalhada ampliaram nossas possibilidades de atuação, tanto no ambiente escolar quanto além dele.

Com relação ao canal do YouTube, entende-se que nestes vídeos há conteúdos de química importantes para a formação escolar, os quais relacionam conhecimentos químicos e contextos cotidianos dos estudantes. Os vídeos podem ser utilizados como estratégias pelo(a)s professore(a)s ou como materiais de estudo para estudantes, transcendendo ao contexto da pandemia. No canal conseguimos ter um dos vídeos alcançando a marca de seis mil visualizações, número bem expressivo. Este desdobramento ressalta a importância de construir materiais educativos voltados não apenas aos estudantes, mas também à comunidade em geral, fortalecendo assim a conexão entre a ciência e a sociedade.

Em comparação aos estágios anteriores, é possível afirmar que o momento foi desafiador. Muito se sabe de como o contato com a escola, a mera presença no ambiente, promove aprendizado. Estar fora deste ambiente pode ter sido um dos grandes desafios deste estágio. Entretanto, a construção de conhecimentos docentes não ficou em segundo plano devido ao afastamento social, apenas ocorreu de uma forma diferente e enriquecedora, sendo essa de extrema relevância para que os futuros processos educativos propostos por este(a)s licenciando(a)s sejam efetivos e levados com seriedade, promovendo assim a aprendizagem por meio de um ensino eficiente e reflexivo.

 

Recebido em: 19/05/2023

Aceito em: 20/05/2024

 

REFERÊNCIAS

ALBAGLI, Sarita. Divulgação científica: informação científica para cidadania. Ciência da informação, Brasília, v. 25, n. 3, set./dez. 1996.

BOGDAN, Robert C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação Qualitativa em Educação: Uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Editora Porto, 1994.

BROIETTI, Fabiele Cristiane Dias; STANZANI, Enio de Lorena. Os estágios e a formação inicial de professores: experiências e reflexões no curso de Licenciatura em Química da UEL. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 38, n. 3, p. 306-317, ago. 2016.

CABRAL, Wallace Alves; FLÔR, Cristhiane Carneiro Cunha. (Re)pensando as Práticas de Escrita na Disciplina de Estágio Supervisionado em Química: Com a Palavra, os Estagiários. Revista Ensaio, Belo Horizonte, v. 18, n. 3, p. 161-174, set./dez. 2016.

CANTONI, Jaqueline; ROCHEMBACH, Eduarda Souza; CHIAPINOTO, Mayara Luza; LAUXEN, Ademar Antonio. Estágio Curricular Supervisionado: perspectivas e desafios de constituir-se educador em tempos de pandemia. Revista Insignare Scientia-RIS, v. 4, n. 3, p. 369-385, 2021.

CUNHA, Marcia Borin da. A percepção de Ciência e Tecnologia dos estudantes de ensino médio e a divulgação científica. 2009. 364 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de São Paulo. São Paulo.

MARTINS, Priscila de Sousa; DA SILVA, Lucicléia Pereira. Educação em espaço não formal: estudo de caso sobre o estágio no contexto do ensino remoto. Revista Insignare Scientia-RIS, v. 6, n. 2, p. 176-195, 2023.

FERREIRA, Luciana Nobre de Abreu; QUEIROZ, Salete Linhares. Textos de divulgação científica no ensino de ciências: uma revisão. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, Florianópolis, v. 5, n. 1, p. 3-31, maio 2012.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 71. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019.

GOMES, Verenna Barbosa; SILVA, Roberto Ribeiro da; MACHADO, Patrícia Fernandes Lootens. Elaboração de textos de divulgação científica e sua avaliação por alunos de Licenciatura em Química. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 38, n. 4, p. 387-403, nov. 2016.

LEÃO, Geraldo; CARMO, Helen Cristina do. Os jovens e a escola. In: Cadernos Temáticos: Juventude Brasileira e Ensino Médio. CORREA, Licinia Maria; ALVES, Maria Zenaide; MAIA, Carla Linhares. (Org.) Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.

LIMA, Maria Socorro Lucena. Reflexões sobre o estágio/prática de ensino na formação de professores. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 8, n. 23, p. 195-205, jan./abr. 2008.

MARTINS, Isabel; CASSAB, Mariana; ROCHA, Marcelo Borges. Análise do processo de re-elaboração discursiva de um texto de divulgação científica para um texto didático. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 1, n. 3, set./dez. 2001.

VALEIRO, Palmira Moriconi; PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. Da comunicação científica à divulgação. Transinformação, Campinas, v. 20, n. 2, p. 159-169, ago. 2008.

ZABALZA, Miguel A. O estágio e as práticas em contextos profissionais na formação universitária. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 2014.



[1]O site pode ser acessado através do link https://construconsciencia.wixsite.com/website.

[2]Thumbnail é a palavra inglesa designada para descrever as miniaturas de imagens ou conteúdos digitais em páginas da web.

[3]Nosso canal pode ser visitado com o link: https://www.youtube.com/channel/UCYeL3_OPVlPgg7EXx2N89jQ.

[4]O canal não contempla todos os conteúdos de química do 2º e 3º anos, uma vez que nem todo(a)s o(a)s estudantes quiseram ter seus vídeos publicados.