Potencial didático e científico dos fósseis da Bacia de Taubaté depositados no Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA)

Didactic and scientific potencial of fossils from the Taubaté Basin deposited at the Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA)

Potencial didáctico y científico de los fósiles de la Cuenca del Taubaté depositada en el Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA)

 

Ricardo Mendonça (mendonca.r@live.com, Centro Universitário Teresa D’Ávila -UNIFATEA, Brasil)

https://orcid.org/0000-0002-3227-5629

 

Ramon Quintino dos Santos (ramonquintinos@gmail.com, Centro Universitário Teresa D’Ávila - UNIFATEA, Brasil)

https://orcid.org/ 0009.0001.7774.5209

 

Caroline Maciel Oliveira (carolinemacciel@outlook.com, Centro Universitário Teresa D’Ávila -  UNIFATEA, Brasil)

https://orcid.org/0009-0009-3257-7780

 

 

Resumo

A Bacia de Taubaté representa um depósito fossilífero de 23 milhões de anos localizado no Vale do Paraíba, SP. Esse trabalho visou triar e inventariar a coleção paleontológica do UNIFATEA, que é utilizado como material didático em aulas, eventos de extensão universitária e pesquisa científica. Os materiais foram coletados nos anos de 2013, 2015, 2016 e 2019, na Extrativa Fazenda Santa Fé, durante visitas técnicas realizadas pelos discentes do UNIFATEA. Na primeira etapa, os materiais foram triados por ano de coleta, sendo descartados sedimentos afossilíferos. Cada peça fossilífera recebeu um número de tombo. Na segunda etapa foi realizada a identificação dos materiais fósseis. O acervo contém 305 exemplares que incluem fósseis de peixes (38%; n=117), plantas (35%; n=108), coprólitos (8%; n=25), icnofósseis (3%; n=9) entre outras peças não identificadas (16%; n=50). Essa coleção didática/científica representa um dos principais acervos dessa Formação no Vale do Paraíba e permitirá o desenvolvimento de novos trabalhos nessa área.

Palavras-chave: Formação Tremembé; Coleção Paleontológica; Coleção didática e científica.

 

Abstract

The Taubate Basin represents a 23-million-year-old fossil deposit located in the Vale do Paraiba, SP. This essay aimed to screening and inventory the paleontological collection of UNIFATEA. which is used as teaching material in classes, university extension events and scientific research. The materials were collected in the years 2013, 2015, 2016 and 2019, at Extrativa Fazenda Santa Fé, during the technical visits made by the students of UNIFATEA. In the first step, the materials were screened per year of collection, and afossiliferous sediments were discarded. Each fossiliferous piece received a number a tipping number. In the second stage, the identification of fossil materials was performed. The collection contains 305 specimens that include fish fossils (38%; n=117), plants (35%; n=108), coprolites (8%; n=25), icnofossils (3%; n=9) among other unidentified parts (16%; n=50). This didactic/scientific collection represents one of the main collections of this Formation in Vale do Paraíba and will allow the development of new work in this area.

Keywords: Tremembé Formation; Paleontology Collection; Didactic and Scientific collection.

 

Resumen

La Cuenca de Taubaté representa un depósito fosilífero de 23 millones de años ubicado en el Valle de Paraíba, SP. Este trabajo tuvo como objetivo ordenar e inventariar la colección paleontológica de UNIFATEA, la cual es utilizada como material didáctico en clases, eventos de extensión universitaria e investigación científica. Los materiales fueron recolectados en los años 2013, 2015, 2016 y 2019, en la Extractiva Santa Fé, durante visitas técnicas realizadas por alumnos de UNIFATEA. En una primera etapa se clasificaron los materiales por año de recolección, descartando sedimentos fosilíferos. Cada pieza fósil recibió un número de registro. En la segunda etapa se llevó a cabo la identificación de materiales fósiles. La colección contiene 305 especímenes, incluyendo fósiles de peces (38%; n=117), plantas (35%; n=108), coprolitos (8%; n=25), trazas fósiles (3%; n=9), entre otras partes no identificadas (16%; n=50). Este acervo didáctico/científico representa uno de los principales acervos de esta Formación en el Vale de Paraíba y permitirá el desarrollo de nuevos trabajos en esta área.

Palabras-clave: Formación Tremembé; Colección Paleontológica; Colección didáctica y científica.

 

 

INTRODUÇÃO

A Bacia de Taubaté pertence a um conjunto de bacias que integram o Rift Continental do Sudeste do Brasil (Riccomini, 1989), localizada entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, apresentando um formato alongado com o comprimento estimado de 170 quilômetros e largura média de 25 quilômetros, com espessura máxima de sedimentos de aproximadamente 850 metros (Vidal; Fernandes; Chang, 2004). Abrangendo onze municípios: Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Tremembé, Pindamonhangaba, Roseira, Aparecida, Guaratinguetá, Lorena e Cruzeiro (Reverte, et al., 2020).

A Formação Tremembé é constituída, em sua predominância, por folhelhos argilosos laminados e folhelhos betuminosos, de coloração cinza a preto, argilas esmectíticas verdes e lamitos seixosos esverdeados (Freitas, 2007). Segundo Melo (2007), os dados encontrados demonstram um consenso com a idade Deseadense, entre o final do Oligoceno e início do Mioceno, em torno de 23 milhões de anos atrás (Ferreira; Siqueira, 2012). A grande maioria dos achados fósseis dessa formação são encontrados em uma área pertencente à Extrativa Santa Fé Ltda. (Fazenda Santa Fé), que corresponde a uma jazida localizada no município de Tremembé, bairro do Padre Eterno, estando a 13 km do norte da cidade de Taubaté (Ribeiro, 2010).

     Essa formação, como é indicado por Oliveira et al. (2002a), possui uma grande diversidade de fósseis preservados em sedimentos finos de ambiente lacustre, que vai desde palinomorfos e microfósseis (escolecodontes, espículas de esponja, ostracodes), icnofósseis, coprólitos, talos de carófitas, moluscos (bivalves, gastrópodes), artrópodes (insetos, aracnídeos, crustáceos), peixes, anfíbios (anuros), répteis (jacarés, quelônios), aves (ratitas, galiformes, flamingos) e mamíferos (morcegos, roedores, ungulados, etc) e uma significativa quantidade e diversidade de macrofitofósseis (pteridófitas, coníferas e angiospermas) na forma de frondes, caules, raízes, ramos, folhas, frutos e sementes.

Nessa linha, Ribeiro (2015) aponta a importância dos estudos paleontológicos na Bacia de Taubaté e indica que até o momento a Formação Tremembé é a única unidade litoestratigráfica brasileira que contêm fósseis de mamíferos oligocênicos, representando um momento singular na história da América do Sul, cuja paleomastofauna é integrada por táxons autóctones.

Outro afloramento da Formação Tremembé é o "Jazigo Rodovia Estadual Floriano Rodrigues Pinheiro, Km 11", que de acordo com Oliveira et al. (2002b) corresponde a mais importante ocorrência de macrofitofósseis da Formação Tremembé, por apresentar uma diversidade de angiospermas dicotiledôneas e a sua excelente preservação fossilífera do tipo compressão, em litologia pouco intemperizada. Sendo encontrados nos mesmos estratos, mesmo com essa tafoflora rica, poucas formas paleozoológicas relacionadas a insetos e crustáceos.

Torres; Pereira; Carvalho (2007) destacam que os fósseis são de vital importância para o estudo dos seres vivos e sua evolução, tendo sua participação em estudos ligados à prospecção de petróleo e nas reconstituições paleoambientais e paleogeográficas. Expressando a importância da preservação do meio ambiente e conscientiza que as marcas deixadas no passado servem para compreendermos a atual biodiversidade, nos posicionarmos no tempo e espaço enquanto espécie e pensarmos em formas eficazes de conservação, tornando relevante o estudo dos fósseis enquanto restos e vestígios que comprovem a evolução da vida (Machado, et al., 2019).

O patrimônio natural é constituído por elementos bióticos, integrando assim a biodiversidade, enquanto os elementos abióticos compõem a geodiversidade. Sendo que a conservação desses elementos é chamada de “geoconservação” (Pereira, 2010).

No Brasil, conforme descrito no Art. 216 da Constituição Federal de 1988 e o Decreto-Lei n° 4.146 de 4 de março de 1942, os depósitos fossilíferos são considerados patrimônio cultural brasileiro, possuindo uma importância científica e histórica para a compreensão da vida na Terra e precisam ser preservados e divulgados (Schwanke; Silva, 2004).

Em vista disso, Lessa et al. (2018) salientam que as coleções didáticas são mais focadas ao ensino, permitindo o manuseio do acervo em aulas. Enquanto as coleções de pesquisa possuem maior relevância, por colaborarem com a Ciência, na descrição de novas espécies, por exemplo, sendo o seu acesso restrito aos pesquisadores. Em todas as coleções existe a figura de um curador, que seleciona os procedimentos a serem escolhidos para o manuseio e armazenamento desses materiais.

Marques e Silva (2011) observam diferenças entre museus universitários e coleções universitárias (científicas). É considerado Museu Universitário aquela unidade com vínculo à universidade e que contempla as características definidas pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) em 2007. Enquanto a Coleção Universitária corresponde a unidade com ações mais restritas, que adquire, preserva e pesquisa, mas pouco expõe esse patrimônio e seu meio ambiente ou realiza de maneira parcial. Sendo normalmente limitada à consulta de pesquisadores e sem ter o lazer como finalidade. Os autores diferem as coleções didáticas, como aquelas voltadas apenas para fins de estudos dos estudantes universitários (Marques e Silva, 2011).

Kunzler et al. (2014) destacam a representação das coleções científicas paleontológicas como uma herança natural e cultural, que testemunham a história da formação e do desenvolvimento da sociedade brasileira e mundial. Adquirindo a sua importância científica e cultural posteriormente a finalização das pesquisas, quando o fóssil percorre o processo de musealização. Com a finalidade de serem mantidas como produtoras de informações e compartilhadoras do conhecimento gerado com a sociedade, os autores salientam a importância dessas coleções serem conservadas.

Tendo em vista a questão da conservação e o valor do processo de registro formal dessas peças, este trabalho tem como intuito inventariar a coleção paleontológica do Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA), assim como, reforçar a sua contribuição nas aulas de Paleontologia e Geologia, colaborando para a divulgação e valorização da diversidade de fósseis da Formação Tremembé. Sendo o primeiro trabalho com esse objetivo a ser realizado nesse centro universitário.

 

METODOLOGIA

Os dados relacionados à coleção paleontológica da Formação Tremembé, depositada no Centro Universitário Teresa D'Ávila (UNIFATEA), considerou os materiais coletados em quatro aulas de campo que foram realizadas nos anos de 2013, 2015, 2016 e 2019, na Extrativa Fazenda Santa Fé, como atividades práticas da disciplina de Paleontologia e Geologia do curso de Ciências Biológicas. A pesquisa consistiu em diferentes etapas. Primeiro foi realizada a triagem do material fossilífero, redução de blocos e descarte de material sobressalente afossilífero.

     Posteriormente, cada exemplar recebeu uma tarja branca feita com tinta hidrossolúvel, a fim de servir de base para o número de catálogo. A marcação dos fósseis seguiu a ordem cronológica das coletas de campo, e a numeração realizada na superfície das peças, contém a sigla U.F. (UNIFATEA Fóssil) para identificar o tipo de coleção e o número de tombo (Figura 1). O inventário foi organizado em uma planilha do programa Excel, apresentando respectivamente as seguintes informações: Número de tombo, Local da Coleta, Data da Coleta, Coletor e Identificação (ID).

O primeiro item dessa planilha compreende o número de tombo de cada fóssil, seguido pelo local da coleta desses materiais representado pela sigla E.S.F (Extrativa Santa Fé), a data da aula de campo contendo o dia, mês (em numeração romana) e o ano, para aquelas peças onde não foi possível dizer a sua data de coleta, usou-se a indicação: data/local não identificado. O coletor foi indicado como Curso Bio (Curso Ciências Biológicas) e a identificação compreendendo a observação em laboratório, não estabelecendo uma classificação taxonômica desses organismos fósseis. As informações coletadas serão registradas em um livro tombo, e o arquivo virtual será tombado na biblioteca do UNIFATEA.

Dados bibliográficos foram obtidos nas plataformas Google Academics e Scielo Library, bem como de artigos cedidos pelo Museu de História Natural de Taubaté – Doutor Herculano Alvarenga (MHNT).

Uma imagem contendo água, trena, pequeno, montanha

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Coleção Paleontológica UNIFATEA, 2024.

Figura 1 - Metodologia de registro de um fóssil de peixe (número de tombo).

 

 

 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A coleção paleontológica do Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA) conta com 305 exemplares, incluindo fósseis de peixes (38%; n=117), vegetais (35%; n=108), coprólitos (8%; n=25), icnofósseis (3%; n=9) entre outras peças não identificadas (16%; n=50) (Figura 2), todos provenientes de coleta durante aulas de campo na Extrativa Santa Fé, Tremembé/SP. Reverte et al. (2019) destacam que a este local representa o afloramento mais significativo para fósseis desse período no Sudeste do Brasil. Destaca-se que em algumas peças dessa coleção, são encontrados mais de um fóssil em um único fragmento de rocha.

 

Gráfico, Gráfico de pizza

Descrição gerada automaticamente

     Figura 2: Diversidade de Fósseis da Formação Tremembé depositados no UNIFATEA.

 

 

Na coleção do UNIFATEA, 38% dos fósseis catalogados são de peixes, estes são constituídos por tamanhos, formas e espessuras diferentes, em algumas peças são encontradas costelas e vértebras soltas (Figura 3).

 

Uma imagem contendo Interface gráfica do usuário

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Fonte: Coleção Paleontológica UNIFATEA, 2024.

Figura 3 - Fósseis de peixes da coleção do UNIFATEA. (A) é possível observar as costelas e vértebras em um ótimo estado de conservação; (B) vértebras de peixe; (C) espinho de bagre.

 

Dentre as espécies atuais de peixes da Bacia do Rio Paraíba do Sul, conforme apresentado por Caneppele (2007), é possível observar representantes das ordens Characiformes, Siluriformes, Perciformes, Gymnotiformes, Cyprinodontiformes e Synbranchiformes. Para a Formação Tremembé, segundo Woodward (1898), atualmente são descritas dez espécies, pertencendo às ordens: Characiformes, Siluriformes e Perciformes, sendo que são descritos desde o século XIX os fósseis de peixes achados nesta região.

O trabalho realizado por Toledo et al. (2021) a respeito da ictiofauna fóssil da Fm. Tremembé, aponta que cerca de 73,6% das famílias de peixes dulcícolas atualmente presentes na região não apresentam registros fósseis encontradas ou descritas para esse afloramento. Dessa maneira, os autores concluem que este dado pode servir como um estímulo para novas pesquisas relacionadas aos fósseis da ictiofauna do Vale do Paraíba.

De acordo com Malabarba (1998), os peixes se destacam por sua predominância de fósseis na Fm. Tremembé, contendo oito espécies de teleósteos, incluindo loricarídeos, siluriformes, perciformes e characiformes.

Castro; Fernandes; Carvalho (1988) identificaram através de elementos químicos, coprólitos de répteis, aves e anelídeos, apresentando formas e tamanhos diferentes. Os coprólitos, que são 8% dos fósseis do acervo da instituição, podem auxiliar no estudo de hábitos alimentares dos animais que habitaram a Formação Tremembé (Figura 4).

 

Uma imagem contendo Mapa

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Fonte: Coleção Paleontológica UNIFATEA, 2024.

Figura 4 - Coprólitos.

 

Os fósseis de vegetais representam o segundo grupo com maior quantidade de peças identificadas na coleção, sendo representados pela porcentagem de 35% (Figura 5). Melo (2007) aponta que diversas referências baseadas em diferentes indicadores, como é o caso dos fósseis vegetais, de alguns animais e minerais, são destinadas ao paleoclima da Formação Tremembé. Segundo Carvalho-Veiga (2009), as floras oligocenas brasileiras estão concentradas no Sudeste e estariam presentes no “bioma subtropical de verão úmido”, tendo representação nas formações Itatiaia (Bacia de Resende/RJ), Formação Tremembé (Bacia de Taubaté/SP) e Formações São Paulo e Itaquaquecetuba (Bacia de São Paulo/SP).

 

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Fonte: Coleção Paleontológica UNIFATEA, 2024.

 

Figura 5 - Fósseis de vegetais. (A) galho fragmentado em quatro partes; (B) fóssil de folha.

 

 

Melo (2004) aponta que o ambiente lacustre é associado à Formação Tremembé por conta das espécies aquáticas ali encontradas, pertencentes às famílias Carophyta, Nynphaeaceae e Salvinaceae. Sendo que a presença dos palinomorfos indicavam também um clima frio para essa região, em contrapartida dos macrofósseis vegetais que demonstram afinidades com o clima tropical/subtropical.

Dos fósseis vegetais encontrados, em sua maioria são evidências de troncos e folhas, Oliveira et al. (2002b) retratam coletas realizadas na “Jazigo Quiririm Campos do Jordão, Km 11, Tremembé, SP” que tiveram início em 1983, que indica as formas comuns da tafoflora de Tremembé. Sendo elas a Família Typhaceae (Typha tremembensis); Família Taxodiaceae (aff. Cryptomeria); Família Myrtaceae; Família Leguminosae (Machaerium, fruto); Família Leguminosae (Aeschynomene); Família Phytolaccaceae (Seguieria); aff. Nymphaeaceae; aff. Poaceae (Gramineae) e Família Podocarpaceae (Podocarpus sp.).

As análises realizadas por Caramês (2012) a respeito dos fitofósseis descritos para o afloramento “Quiririm” demonstram que as marcas causadas por organismos (herbivoria, oviposição, e entre outras), especialmente nas folhas, podem ajudar a evidenciar relações ecológicas entre esses organismos e as plantas. Sendo que as interações entre “planta/inseto”, e outros organismos, podem expressar características ambientais importantes para essa época analisada, que no caso refere-se ao Oligoceno (30 a 24m.a.), tal como no paleoclima, por meio das mudanças.

Constituindo 3% das peças catalogadas temos os icnofósseis, esses são sedimentos tubulares de aproximadamente 5 cm apresentados nas cores branca, laranja e avermelhado (Figura 6). Fernandes et al. (1987) apontam que os icnofósseis da Formação Tremembé consistem em rastros formados por anelídeos oligoquetos aquáticos. Em relação aos fósseis ainda não identificados nessa coleção, são representados pela porcentagem de 16% (Figura 7).

 

Fonte: Coleção Paleontológica UNIFATEA, 2024.

 

Figura 6 - Icnofósseis possivelmente deixados por anelídeos oligoquetos.

 

 

 

Uma imagem contendo trena

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Fonte: Coleção Paleontológica UNIFATEA, 2024.

 

Figura 7 - Fóssil não identificado. Possivelmente pode se tratar de um osteoderma de crocodiliano.

 

 

Como ressaltado por Freitas (2018), as coleções científicas apresentam um valor inestimável por acolher, conservar e proporcionar a manutenção de peças raras, frágeis e de difícil obtenção. Produzindo conhecimento científico e o intercâmbio entre as instituições, sendo essas as ações bases para a formação de profissionais qualificados e cidadãos conscientes da riqueza natural, regional e ambiental. Dentre as principais coleções científicas aprimoradas e originadas dos gabinetes de curiosidade, o autor cita as biológicas, geológicas e paleontológicas. A coleção de fósseis representa o registro documental da variedade paleobiológica e da história geológica da Terra, sendo fundamental a sua curadoria adequada para a preservação destinada às gerações futuras.

Fernandes et al. (2006) salientam a importância dos museus e das instituições de ensino e pesquisa na divulgação de novas descobertas científicas em todas as áreas da ciência pura ou aplicada. Após a coleta dos fósseis, esses materiais precisam ser identificados, catalogados e depositados em coleções para estudos posteriores. Assim, a divulgação do conteúdo dessas coleções e o seu histórico estabelecem o papel fundamental de seus curadores, por meio de comunicações técnicas ou de publicações de catálogos, em especial aqueles que abordam os fósseis-tipos e figurados.

A parceria entre instituições de ensino superior (IES) que mantém coleções didática e museus, como o Museu de História Natural de Taubaté – Doutor Herculano Alvarenga é de grande importância para a consolidação do patrimônio paleontológico. Dessa forma, considera-se que fósseis raros, de maior interesse paleontológico, devem ter seu depósito realizado em centros específicos (e.g. MHNT), a fim de concentrar o acervo e facilitar acesso ao estudo por outros pesquisadores.

Como constatado por Fernandes (2011), as aulas práticas de campo em conjunto com as suas diversas utilidades educacionais, proporciona a diversificação na forma de ensinar, em especial aqueles assuntos que não são abordados em sala de aula da educação básica. Os alunos podem ter esse despertar para a ciência tratando-se da paleontologia (Figura 8), ajuda no entendimento dos elementos do meio, possibilitando um despertar crítico dos envolvidos e favorecendo o seu desempenho nas atividades complementares das escolas e do cotidiano.

 

Pessoas andando na terra

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Autores, 2024.

 

Figura 8 - Visitas técnicas com coleta de fósseis da Formação Tremembé realizadas pelos alunos do UNIFATEA.

 

 

No que se refere a educação básica, Sobral; Sá; Zucon (2010) frisam o papel crucial dos assuntos referentes à paleontologia pelo fato de garantir a compreensão do tempo geológico, atuando como um meio de sustentação teórica em relação à origem e evolução do planeta e dos seres vivos.

Ferreira; Siqueira (2012) concluem que a Formação Tremembé corresponde a um ótimo afloramento que apresenta estratos ricos em fósseis, proporcionando estudos in situ tanto para o público da educação básica como universitário do Sudeste brasileiro, por estar próxima dos principais centros urbanos. Fornecendo por meio do material coletado dados importantes sobre a tafonomia, concedendo oportunidade de prática de curadoria de museu e classificação taxonômica.

Considerando outros recursos além das aulas de campo que podem ser utilizados no ensino de paleontologia e evolução, Alencar; William (2011) apontam que as atividades lúdicas estimulam a busca pelo saber, em especial quando envolvem jogos, estabelecendo disputas saudáveis que despertam o interesse na resolução de dúvidas. Os autores também sinalizam a utilização de documentários, a mudança de ambientes e o uso dos espaços de informática que podem auxiliar nos estudos e na aproximação dos alunos em relação a essas ferramentas.

Nesta mesma linha, Ribeiro (2023) em seu estudo sobre tecnologias digitais no ensino de ciências, ressalta que a prática de aulas dinâmicas direcionadas podem desenvolver nos alunos uma visão ampla em relação a paleontologia, despertando a curiosidade, o senso crítico, preparando-os para a discussão de temas polêmicos como cidadãos dotados de consciência dos seus direitos e deveres. Dessa maneira, é expressa a crença em uma escola alegre e lúdica que no ensino de Ciências Biológicas possa, quando possível, desenvolver o interesse pelo conhecimento paleontológico.

A confecção de réplicas de fósseis, segundo Torres et al. (2007), esse tipo de atividade possibilita a conservação do material original, bem como para fins didáticos e ilustrativos, favorecendo o aprendizado construtivista dos alunos em relação aos diversos conceitos paleontológicos, como Evolução, Paleoecologia, Paleogeografia, Sistemática, entre outros. Os autores também destacam que os professores do Ensino Fundamental e Médio podem estabelecer a relação entre os fósseis e a biosfera, sendo possível trazer o foco da aula para um determinado ramo de estudo da Paleontologia, como é o caso da Paleobotânica, Paleovertebrados ou Paleoicnologia.

Meira; Andrade (2021), sinalizam que as diversas metodologias no ensino da paleontologia, combinadas com a percepção do professor e do ambiente escolar na construção de estratégias pedagógicas, possibilitam a compreensão em qual situação essas ferramentas podem ser utilizadas. Os autores ainda pontuam a importância de se considerar o ambiente escolar, o tema a ser aplicado, a diversidade de alunos na sala e entre outras questões sociais.

Dessa forma, a coleção de paleontologia do UNIFATEA abre possibilidades para o desenvolvimento de jogos e atividades lúdicas envolvendo a observação de materiais reais em seu desenvolvimento.

Os materiais provenientes das coletas descritas compõem o acervo de exposições itinerantes realizadas pelo Centro Universitário Teresa D’Ávila nos municípios do Vale do Paraíba e Sul de Minas Gerais através do programa universitário Dia S. Por fim, os registros inéditos apresentados neste trabalho, possibilitarão futuras pesquisas nas áreas de educação e de paleontologia aplicada.

 

CONCLUSÕES

A coleção didática/científica do Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA) representa um promissor acervo dessa Formação no Vale do Paraíba. Com a realização deste trabalho de organização é possível observar a sua diversidade, possibilitando práticas em curadoria, classificação dos fósseis e a descrição de possíveis novas espécies e materiais inéditos. Favorecendo a realização de novos trabalhos com esses materiais e a formação de profissionais especializados na área da paleontologia.

Referente às saídas técnicas voltadas a essa localidade, torna-se evidente a utilização deste afloramento como uma metodologia no desenvolvimento das unidades de Paleontologia do curso de Ciências Biológicas, bem como a oportunidade de exposição desses fósseis em eventos de divulgação científica e extensão universitária na Educação Básica e para o público geral, colaborando assim para a conscientização a respeito da importância da valorização e preservação desse patrimônio natural.

 

Recebido em: 08/04/2023

Aceito em: 14/05/2024

 

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