Revista Brasileira de Extensão Universitária

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       

 

          v. 13, n. 2, p. 161-172, mai.–ago. 2022        e-ISSN 2358-0399

 

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Contribuição da extensão universitária na formação em educação física

Igor Henrique Da Costa¹, Kethlen Isabela de Oliveira Ribeiro², Ida Berenice Heuser do Prado²,

Lenice Kappes Becker³


Resumo: A Extensão Universitária (EU) é, assim como o Ensino e a Pesquisa, um elemento importante na formação acadêmica e profissional dos discentes. A EU ajuda a construir e consolidar o conhecimento, auxilia a adquirir um comportamento social que articula e integra a sociedade e a universidade. O objetivo deste estudo é entender a contribuição da Extensão Universitária na formação acadêmica de egressos dos cursos de Educação Física da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Dos 61 alunos egressos que participaram de ações extensionistas, 41 responderam ao questionário estruturado que foi enviado, sendo 30 bacharéis (73,17%) e 11 licenciados (26,83%). Como resultado, 90,2% relataram que a participação na extensão contribuiu com o aprendizado na graduação; 95,1% disseram que utilizam conhecimentos adquiridos na extensão no atual emprego; 97,6% afirmaram que a EU contribuiu para a composição do currículo e contratações, e 83,0% ainda se interessam pela área da Educação Física. Concluiu-se que a extensão contribuiu na graduação, auxiliando no melhor desempenho e compreensão das disciplinas da matriz curricular, e também na atuação direta no mercado de trabalho dos egressos. Foi possível perceber a forte relação entre ensino e extensão, associada à teoria e prática vivenciada pelos alunos. Sendo assim, reforçamos a necessidade do maior investimento das universidades e maior incentivo à participação dos alunos nesses projetos.

Palavras-chave: Formação Profissional; Promoção da Saúde; Atuação Profissional

Contribution of university extension to physical education formation

Abstract: The University Extension (EU), like Teaching and Research, is an important element in the academic and professional training of students. The EU helps to build and consolidate knowledge and help to acquire a social behavior that articulates and integrates society and the university. The objective of this study was to identify the contribution of the EU in training graduates of Physical Education courses at the Federal University of Ouro Preto (UFOP), Minas Gerais state, Brazil. As a result, 90.2% reported that participation in the EU program contributed to their undergraduate learning; 95.1% said that they use the knowledge acquired in extension in their current job; 97.6% stated that the EU contributed to the composition of the curriculum and hiring, and 83.0% are still interested in the area of ​​Physical Education. It was concluded that the extension contributed to graduation, helping in the better performance and understanding of the curricular matrix subjects and the direct action in the job market of the graduates. It was possible to perceive the strong relationship between teaching and extension associated with the theory and practice experienced by the students. Therefore, we reinforce the need for more significant investment by universities and greater incentives for student participation in these projects.

Keywords: Professional Qualification; Health Promotion; Professional Performance

 

Originais recebidos em

30 de agosto de 2021

Aceito para publicação em

14 de junho de 2022

 

1

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

(autor para correspondência)

costaigor003@gmail.com

 

2

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

 

3

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

https://orcid.org/0000-0002-9462-5719

 


 

Introdução

O conceito de Extensão Universitária, associado ao ensino e a pesquisa, “[...] é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade” (Maximiliano Junior, 2017). Porém, o conceito de Extensão é muito mais antigo e abrangente. De acordo com a descrição presente no I Encontro de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras do ano de 1987,

                                 A extensão universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a sociedade. A extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade da elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. Este fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados/acadêmico e popular, terá como consequência: a produção de conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional; e a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/prática, a extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social (I Encontro de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, 1987).    

Existem algumas diretrizes que devem ser utilizadas como norteadoras na implementação e execução das ações de extensão nas universidades, e são elas: a interação dialógica, que orienta as relações entre a universidade e a sociedade; interdisciplinaridade e interprofissionalidade, que tratam da combinação de especialização e conhecimentos mais amplos, permitindo a interação de várias disciplinas e áreas do conhecimento; indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão, que afirma que a Extensão só apresentará um maior aproveitamento caso esteja relacionada ao processo de formação (Ensino) e à produção de conhecimento (Pesquisa); impacto na formação do estudante pela ampliação de seus conhecimentos, e, por fim, impacto e transformação social através do apoio à sociedade (Nogueira, 2000).

De acordo com o Estatuto da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP, 1997), Art. 46 – Esta Universidade contribuirá, por meio de atividades de Extensão, para o desenvolvimento material e cultural da comunidade, envolvendo cursos, serviços e atividades.

Desta forma, a UFOP integra professores, alunos e técnicos-administrativos em programas, projetos e cursos, sendo a Pró-Reitoria de Extensão (PROEX UFOP, s. d.), responsável pelos registros, avaliações, apoios e divulgação dos mesmos. Além disso, conforme descrito na página digital oficial da PROEX, os trabalhos executados pela Extensão devem conter algumas características específicas, como: as ações devem buscar envolver diferentes áreas do conhecimento, a chamada interdisciplinaridade; as propostas não devem perder de vista o enfoque acadêmico, sob o risco de tornarem-se atividades assistenciais, recreativas ou de outra natureza que podem ser encampadas por outros órgãos da UFOP;  as iniciativas devem priorizar ações voltadas à comunidade externa, os proponentes não devem desenvolver ações que sejam de responsabilidade de instâncias do Poder Público (municipal, estadual ou federal) ou da iniciativa privada.

Segundo a Resolução CEPE/UFOP 5.292 (s. d.), as ações extensionistas podem ser divididas em Programas, Projetos, Cursos, Atividade Eventual de Curto Prazo, Atividades Culturais/Artísticas e Ações Especiais. Neste estudo, iremos avaliar a participação de estudantes em programas (atividades de extensão mais amplas que abrangem mais de um projeto de extensão) e em projetos isolados de extensão.

Dentro dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física da UFOP podem ser encontrados diversos projetos de extensão, que englobam áreas como o esporte, dança, lazer, ginástica, fitness, entre outros. Esses projetos estão à disposição dos alunos da graduação que se interessam pela temática. Ademais, atividades dessa natureza possibilitam a aquisição de experiência profissional, facilitando a inserção no mercado de trabalho.

Considerando que o profissional da área de Educação Física atua de forma extremamente prática e associada à sociedade, a participação em projetos de extensão é essencial para vincular a teoria aprendida em sala de aula à prática aplicada nas ações extensionistas, integrando esse ganho de conhecimentos técnico-científicos à realidade direta da sociedade (Rauber, 2008). 

Essa participação em projetos de extensão é definida como uma das competências importantes para a formação do profissional em Educação Física, devido à ampliação das possibilidades de aprendizado e das vivências adquiridas, que contribuem não apenas na graduação, mas também tem impacto na vida profissional (Brandt, Madureira & Hobold, 2020). Tais aspectos ainda podem contribuir na busca da transformação da prática educativa e na organização coletiva de profissionais das escolas públicas (Antunes, 2020).

Embora as contribuições das ações de projetos de extensão universitária já sejam conhecidas na literatura, percebemos que, na área da Educação Física, o impacto dessas ações extensionistas na formação dos estudantes ainda é pouco discutida. Sendo ainda um dos fatores que também motivaram os autores (professores e estudantes extensionistas) a realizarem este estudo, é que apesar de a Escola de Educação Física da UFOP desenvolver vários projetos de EU, que abrangem diferentes áreas da Educação Física, nenhum estudo até o momento mostrou a importância desses projetos na formação dos egressos.

Desse modo, o objetivo do presente estudo foi analisar as percepções dos egressos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física da Universidade Federal de Ouro Preto sobre o papel da extensão na formação acadêmico-profissional.

Metodologia

Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto através do número 82381817.0.0000.5150. Participaram desse estudo egressos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado da UFOP. Todos esses alunos foram extensionistas na Universidade.

A equipe executora desta pesquisa foi composta por um aluno graduado em Licenciatura e uma aluna graduada em Bacharelado em Educação Física, os quais participaram de mais de um projeto de extensão da Escola de Educação Física da UFOP (EEFUFOP), durante a graduação, uma professora da EEFUFOP que atua como coordenadora de um projeto de extensão na EEFUFOP desde 2012, e uma professora aposentada da EEFUFOP.

A presente pesquisa, de delineamento transversal, pode ser classificada como descritiva quali-quantitativa, pois a pesquisa buscou traçar o perfil de alunos que participaram de um projeto de extensão, mas também procura saber em números qual a contribuição dessa vivência na vida dos mesmos.

Foi utilizado como instrumento um questionário estruturado, desenvolvido pelos autores e enviado através da plataforma Google Docs, pelo e-mail e redes sociais, com perguntas relacionadas à formação acadêmica e profissional vinculadas à participação em Projetos de Extensão. Buscou-se identificar: o desenvolvimento das capacidades acadêmico-profissionais; o desenvolvimento das capacidades cognitivas e afetivo-comportamentais; comprovar se a extensão se articula com o ensino na universidade, além de verificar qual a evolução da extensão nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física da UFOP, desde 2008 até 2016. Juntamente com o questionário, foi enviado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), expondo os riscos e benefícios da contribuição e participação no estudo.

O instrumento foi escolhido por atingir um maior número de pessoas, por economizar tempo, por apresentar menor risco de distorção e por não ter a presença do avaliador, porém apresenta alguns pontos desfavoráveis, como o possível não entendimento das perguntas por parte do avaliado e a percentagem pequena de questionários respondidos (Lakatos & Marconi, 2003).

As 12 perguntas do questionário elaborado pelos autores estavam divididas em três blocos distintos: o primeiro bloco continha perguntas relacionadas à formação inicial do aluno, o segundo era direcionado à atuação profissional no mercado de trabalho e o último era relacionado à continuidade dos estudos.

Para obter a amostra do estudo, foi enviado um Ofício à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto e para a Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), solicitando o número de alunos dos Cursos de Educação Física (Bacharelado e Licenciatura), que já participaram de algum projeto de EU, do período de 2008 até 2016 e a listagem final foi fornecida pela assessoria de cursos e projetos da PROEX UFOP. Dos critérios de inclusão para a amostra, temos: ser formado em Educação Física pela Universidade Federal de Ouro Preto; ter participado de pelo menos um Projeto de Extensão vinculado à Escola de Educação Física da UFOP (EEFUFOP) e, por fim, aceitar o TCLE.

Dos critérios de exclusão para a amostra foram: não ser graduado em Educação Física pela UFOP; não ter participado de nenhum Projeto de Extensão vinculado à EEFUFOP; não aceitar o TCLE.

Dos 61 alunos egressos que participaram de ações extensionistas, 41 responderam ao questionário e concordaram com o TCLE, tornando-se assim, a amostra final deste estudo.          

Análise dos dados

Os dados foram avaliados através de análise descritiva identificando a maior frequência de respostas aos questionários. Além disso, foi realizada uma análise das semelhanças e diferenças das respostas encontradas.

Resultados

Dos 61 graduados, 41 (67,21%) responderam a essa pesquisa. Dentre estes, 15 eram homens (36,59%) e 26 eram mulheres (63,41%). A idade dos sujeitos variou entre 23 até 34 anos, verificando-se que 30 deles (73,17%) obtiveram sua graduação em Bacharelado e 11 (26,83%) se formaram em Licenciatura. O ano de formação variou entre 2013 e 2018.

A quantidade de projetos que cada indivíduo participou durante a sua graduação apresentou uma moda de 3 (39,02%) (Figura 1).

Notou-se que 12,20% dos alunos participaram de apenas um projeto e 82,92% deles participaram de dois ou mais projetos, mostrando o grande incentivo à participação dos alunos nas atividades de extensão através das atividades extracurriculares obrigatórias encontradas nas grades curriculares dos cursos, também chamadas de horas de ATV (atividades acadêmicas cientifico–cultural e prática como componente curricular).

Os projetos de extensão de Educação Física da UFOP não são conteúdos obrigatórios, porém, para o cumprimento de horas de ATV, muitos alunos optam por realizar os projetos de extensão e receber em seu histórico escolar a contagem mínima das horas dessas atividades extracurriculares, sendo um total de 200 horas teóricas de atividades acadêmicas científico-cultural e 400 horas de prática como componente curricular.

A participação em projetos de extensão contabiliza carga horária de prática como componente curricular. Já a participação em projetos de pesquisa e iniciação científica, por exemplo, contabilizam carga horária de atividades acadêmico científico-cultural. É importante ressaltar que o aproveitamento de horas possui limite máximo, mas os graduandos optam por continuar e participar de mais de um projeto de EU.

Sobre as áreas de estudos dos projetos (Figura 2), os alunos participaram de 36 projetos (54,55%) da área da saúde, 21 projetos (31,82%) da área da educação, 7 projetos (10,61%) da área da cultura e de 2 projetos (3,03%) da área do trabalho. Quando questionados sobre o tempo de participação nas ações de extensão, observou-se que a maior parte dos alunos permaneceu nos projetos por 6 períodos (correspondente a 3 anos), o tempo mínimo de participação foi de 1 período e o tempo máximo foi de 10 períodos.

 

 

 

Figura 1. Quantidade de Projetos de Extensão que cada aluno participou. Fonte: Autores.

 

 

 

Figura 2. Área de estudos dos Projetos de Extensão que cada aluno participou. Fonte: Autores.

 

 

O motivo que estimulou o ingresso em projetos de extensão que mais se repetiu foi o aprendizado, citado 19 vezes, seguido da aquisição de experiência prática, citada 17 vezes nas respostas.

Foram citados ainda os motivos de interesse pela área e junção de teoria e prática (ambos citados 7 vezes), o interesse pela bolsa (6 vezes), a aquisição de horas nas atividades extracurriculares (5 vezes) e a melhoria do currículo e preparação para o mercado de trabalho (3 vezes). Além disso, foram citados apenas uma vez os seguintes motivos: conhecer a sociedade; afinidade com o público; interesse em ajudar o próximo; prazer e melhora da comunicação.

“São muitos (os motivos), dentre eles estão a possibilidade de ligação dos conteúdos vistos nas aulas, e posteriormente a sua aplicação nas situações do dia a dia; conhecer melhor a sociedade no qual nós como profissionais estaremos inseridos; oportunidade de vivenciar novos desafios, com a busca de soluções para tal.”

“Busca por participar de atividades extracurriculares que me ajudariam a pensar na Educação Física além da sala de aula. A parte prática do curso foi fundamental na minha formação.”

“O interesse pelos temas abordados, conhecimento do projeto em questão, a importância dos mesmos para minha formação acadêmica e também questão financeira (bolsa).”

“A proposta de conciliar a teoria com a prática e a p oportunidade de se preparar melhor para o mercado de trabalho.”

“Participar dos projetos, foi uma forma de colocar em prática, de forma supervisionada, tudo que aprendia na teoria, isso foi primordial para minha permanência e contribuiu muito para minha formação acadêmica e pessoal.”

Os alunos foram questionados em seguida sobre o quanto a participação nas atividades de Extensão auxiliou e contribuiu para o melhor desempenho nas disciplinas do curso e apenas 3 alunos (7,32%) disseram que não contribuiu (Figura 3), e um deles justificou a resposta com a seguinte frase: Um deles ajudaria mais se fosse bacharel, o outro ajudaria, mas já tinha passado pela disciplina ‘a’ muito tempo.”

 

 

Figura 3. Contribuição dos Projetos de Extensão em alguma disciplina dos cursos de Educação Física. Fonte: Autores.

 

 

Os outros 90,24% confirmaram que a participação em algum projeto de extensão auxiliou no desempenho em alguma disciplina do curso. Dois alunos especificaram as disciplinas: cinesiologia, musculação, treinamento desportivo, os estágios e as disciplinas do Departamento de Educação da UFOP (que fazem parte da matriz curricular do curso de Licenciatura).

Quanto às capacidades adquiridas por meio dos projetos de EU, foi disponibilizada uma lista com diversas opções, podendo ser assinalada mais de uma. Foram assinaladas 37 vezes (60,66%) as opções “capacidade de interagir” e “saber se comunicar diante de públicos”. “Maior capacidade de resolver problemas” foi selecionada 35 vezes (57,38%). “Autoconfiança” e “relacionar a ação desenvolvida com os conceitos estudados na graduação” foram assinaladas 30 vezes (49,18%). Foi escolhida 28 vezes (45,90%) a opção “consciência dos problemas da sociedade”, 26 vezes (42,62%) “saber ouvir” e 19 vezes (31,15%) “solucionar questões de relacionamentos interpessoais”.

Foram questionadas também as capacidades relacionadas à articulação entre ensino e extensão, em que 39 vezes foram selecionadas a “produção de novos conhecimentos” e “contato com as experiências práticas voltadas para a ação profissional. “O interesse pela ação profissional” e “motivação para o estudo e curso” foram assinalados 32 vezes (52,46%). “Participação em equipes de trabalho multidisciplinar” foi assinalada 30 vezes (49,18%). 26 vezes (42,62%) foi selecionada a “articulação de diferentes disciplinas do curso de Educação Física”, 21 vezes (34,43%) o “engajamento social” e 16 vezes (26,23%) o “desenvolvimento da cidadania”.

O segundo bloco de perguntas, que foi direcionado à atuação profissional no mercado de trabalho, iniciou com a seguinte pergunta: “No seu trabalho você utiliza algum conhecimento básico adquirido em algum dos projetos de extensão que participou durante a sua formação?” (Figura 4).

 

 

Figura 4. Utilização de conhecimentos básicos adquiridos em projetos de extensão. Fonte: Autores.

 

Sobre a aptidão dos alunos ao mercado de trabalho, também foi encontrado que 97,6% dos alunos se consideram mais aptos devido à participação nos projetos, enquanto 2,4% deles responderam que não se consideram mais aptos (Figura 5).

Por último, foi analisada a possibilidade de continuação dos estudos desses ex-alunos na área de atuação dos projetos. 83% dos sujeitos afirmaram que ainda se mantém interessados pela área de atuação do projeto no qual participou e 76% deles pretendem se aprofundar e continuar os estudos nessa área. Em contrapartida, 17% deles não se interessam mais pela área e 22% não têm a pretensão de dar continuidade aos estudos.

Discussão

Os resultados do presente estudo mostram que a maioria dos alunos participaram de mais de um projeto de extensão durante a graduação. A maioria expressiva (cerca de 98%) dos alunos questionados alegaram que a participação do projeto contribuiu para inserção no mercado de trabalho e que os conhecimentos adquiridos no projeto são efetivamente utilizados no meio profissional. A maioria das respostas foram positivas em relação à contribuição das atividades desenvolvidas nos projetos no desempenho acadêmico. Além disso, o maior percentual de participação foi em projetos na área de saúde.

Um estudo sobre o impacto de um projeto de extensão de alunos do curso de Direito e Serviço Social, que atendiam em uma unidade móvel as comunidades carentes de todo o Distrito Federal, investigou a percepção dos participantes por meio de um questionário com questões relacionadas ao significado e à relevância de exercitar a extensão na vida acadêmica e para a formação profissional. Os resultados demonstram que as atividades de extensão impactam na vida do acadêmico e contribuem para a formação profissional, sendo essa uma possiblidade de contextualizar a profissão e de interagir em uma troca dialógica com a comunidade para a construção de novos conhecimentos nas universidades (Canon & Pelegrinelli, 2019).

 

           

Figura 5. Contribuição da participação em projetos de extensão para a composição do seu currículo profissional e possíveis contratações. Fonte: Autores.

 

Alguns estudos têm visado mensurar e entender quais são as contribuições dos projetos de extensão para os alunos, a sociedade e a universidade. Nesse contexto, Angioni et al. (2015) revelam a percepção que os estudantes da Universidade Regional de Blumenau (FURB) têm sobre os projetos de extensão em que se envolvem. Para este estudo, foi realizado um grupo focal, que consistia de um roteiro com nove questões a serem discutidas, percebendo-se que os estudantes veem a Extensão como uma atividade benéfica, contribuindo para o seu aprendizado e formação profissional e os diferenciando dos demais alunos que não a vivenciaram. Todos os estudantes afirmaram ainda que, nos projetos de extensão, houve relações entre a teoria e a prática, possibilitando-os a aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula, corroborando assim com os resultados encontrados nesta pesquisa.

D’Aroz et al. (2013) fizeram um estudo similar com bolsistas egressos da ITCP/UFPR com o objetivo de analisar os impactos positivos e negativos da experiência e participação nas atividades de extensão através de um questionário. Foi constatado como pontos positivos o aprimoramento de habilidades, crescimento pessoal e profissional, dentre outros. Como ponto negativo, foi citada a ausência da interdisciplinaridade necessária, fazendo com que a atuação no projeto se tornasse algo maçante.

Um projeto/ação de extensão desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), com um grupo de discentes de diversos cursos da área da saúde, encontraram como resultados das ações uma maior possibilidade de vivência e um maior contato com a realidade, aspectos fundamentais para a atuação dos discentes enquanto futuros profissionais, bem como para a consolidação dos papéis e ações de cidadãos (Rios et al., 2019).

A interação entre a universidade e a sociedade, como uma via de mão dupla e compartilhamento de saberes, possibilita verdadeiras mudanças pessoais que modificam a forma como o sujeito observa e percebe o mundo a sua volta; nesse sentido, a extensão possui capacidade de transformar a percepção dos envolvidos, afetando seus “territórios existenciais” (Moura et al., 2012).

Além destes estudos externos, foi possível perceber, nas respostas dos nossos próprios egressos, que algumas diretrizes para a execução das atividades de extensão estão sendo seguidas nos projetos dentro da Educação Física, como a interação dialógica. Mais de 50% das respostas indicaram que o projeto de extensão proporcionou que os estudantes adquirissem as capacidades de engajamento social e 39% responderam que houve desenvolvimento da cidadania. Sobre a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão e o impacto na formação do estudante, 95% responderam que a participação em projetos de extensão aumenta a produção de novos conhecimentos e 63% responderam que há articulação com outras disciplinas do curso.

Segundo Gadotti (2017), a recente curricularização da extensão pressupõe a lógica de que a extensão possibilita o diálogo entre os saberes e conhecimentos disciplinares dos cursos universitários e as questões que permeiam a sociedade. A extensão universitária, por isso mesmo, deve ter um caráter interprofissional, interdisciplinar e transdisciplinar; esses fatores em conjunto irão formar alunos que entendem as necessidades da sociedade, contribuindo com a cidadania do aluno universitário.

 Outro ponto positivo encontrado neste estudo e que corrobora com o estudo de Fadel et al. (2013), foi em relação à contribuição da extensão na formação profissional do aluno. Além de utilizar os aprendizados da extensão no atual emprego, os alunos se consideram mais aptos e melhor preparados se tratando do currículo. Fadel et al. (2013) entrevistaram alunos de Odontologia, destacando a oportunidade de vivenciarem a realidade da sociedade através da extensão, ampliando a visão da sua atuação profissional, além da forma tradicional.

Uma interessante ação de extensão realizada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) mostra que os alunos do curso de Medicina vivenciaram, através do ensino da microbiologia em escolas públicas, um maior contato com diferentes realidades, possibilitando maior capacidade de comunicação e o entendimento de valores humanos importantes, como alteridade e humildade; esses dados mostram o importante papel da extensão na formação de acadêmicos (Felix et al., 2020).

Na área da Educação Física, Bahu e Carbinatto (2016) exploraram as contribuições da extensão universitária em um projeto de ginástica, e os resultados do artigo mostraram que os monitores/estagiários consideraram o projeto de extensão importante para o contato com a prática profissional e com o público. A participação na extensão amplia os campos de prática para melhor compreensão da organização de aulas e da atuação didática, e para a inserção no ambiente esportivo, por meio da participação em festivais.

Um estudo com alunos de educação física explorou o papel da extensão na construção de saberes em dança, e um relato interessante é que a ação de extensão foi importante, uma vez que a carga horária da disciplina de dança não possibilita grandes experiências em dança. Além disso, os participantes do estudo indicam que a extensão universitária é um espaço no qual ampliam seus conhecimentos e se preparam para a futura atuação pedagógica (Kleinubing & Dal-Chin, 2020).

Conforme o anexo da resolução CEPE 7609/2018 (UFOP), as ações extensionistas são divididas em áreas temáticas. No presente estudo, a maioria dos alunos relatou ter participado de projetos na área da saúde, uma vez que essa área abrange grande parte dos projetos disponíveis para os cursos de Educação Física da UFOP: promoção à saúde e qualidade de vida, atenção aos grupos portadores de necessidades especiais, terceira idade, esporte, lazer, entre outros.

A Educação foi a segunda área mais citada entre os egressos e alunos, mas apenas um projeto dentro da Educação Física englobava essa área. Sendo assim, são necessários mais estudos para entender porque são escassos os projetos de extensão que se direcionam para a licenciatura, em se tratando da Educação Física.

Apesar de todos os valores agregados, sabe-se que a extensão ainda é muito desvalorizada e, por muitas vezes, deixada de lado durante a graduação. Silva e Vasconcelos (2006) remetem essa desvalorização ao baixo impacto das publicações relacionadas à extensão, ressaltando que muitas vezes o reconhecimento é ligado a esse fator. Em suma, nosso estudo revela claramente o papel da extensão universitária na formação discente. Os resultados obtidos nesta pesquisa necessitam ser divulgados e adicionados em métricas especificas, com vistas à valorização e ampliação do contexto da extensão universitária em universidades públicas e privadas.

Conclusão

Através deste estudo, podemos concluir que os alunos egressos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física da Universidade Federal de Ouro Preto, que participaram de pelo menos um projeto de extensão, têm uma percepção positiva em relação aos projetos, atestando que o envolvimento nesses projetos contribuiu em suas formações tanto durante a graduação, auxiliando no melhor desempenho e compreensão das disciplinas da grade curricular, quanto após a graduação, na atuação direta na atividade profissional. Além disso, foi possível perceber nas respostas a forte relação entre ensino e extensão, associada à teoria e à prática vivenciada pelos alunos.

Contribuição de cada autor

Os autores I. H. C. e K. I. O. R. realizaram a redação do artigo, a análise e interpretação dos dados; I. B. H. P. contribuiu com a elaboração do instrumento de coleta de dados; K. I. O. R, I. B. H. P. e L. K. B planejaram o projeto, e L. K. B. atuou como coordenadora e orientadora dos bolsistas e foi responsável pela aprovação final para publicação.

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Como citar este artigo:

Da Costa, I. H., Ribeiro, K. I. de O., Prado, I. B. H do, & Becker, L. K. (2022). Contribuição da extensão universitária na formação em educação física. Revista Brasileira de Extensão Universitária, 13(2), 161-172. https://periodicos.uffs.edu.br/index.php/RBEU/ article/view/12594/pdf