Apresentação



Este Dossiê, História, Democracia e Diversidade, se insere no contexto dos debates construídos durante o XX Encontro Estadual de História da ANPUH-SC, realizado de 06 a 09 de agosto de 2024, de maneira presencial, na Universidade Regional de Blumenau (FURB). O Encontro congregou profissionais de História vinculados a instituições de Ensino Superior, a escolas de Educação Básica e a espaços de memória, tais como museus, arquivos, centros de documentação, laboratórios de história, memoriais, entre outros.

No Encontro, tanto associados e associadas da ANPUH-SC, em particular, quanto a comunidade historiadora catarinense, em geral, reafirmaram os seus compromissos com a defesa inabalável da democracia e da diversidade nas sociedades contemporâneas, especialmente na efeméride dos 60 anos do golpe civil-militar de 1964. Nesse âmbito, o Evento foi um espaço privilegiado para diálogos a respeito dos sentidos, dilemas e desafios do ensino de História no tempo presente, bem como acerca da necessidade premente de ampliarmos ações de pesquisa e divulgação de assuntos de História fundamentados em dados científicos, de modo a nos contrapor à prática do negacionismo e à disseminação de versões obscurantistas da História.

O Dossiê encontra-se constituído por nove artigos, uma entrevista e uma resenha. No artigo intitulado A Igreja Católica como espaço de agenciamento do dito “novo sindicalismo” em Joinville: o caso das greves de agosto de 1979, Vinícius José Mira discute o papel desempenhado pela Igreja no contexto das greves e movimentos paredistas de 1979, em Joinville/SC. O autor argumenta que a Igreja atuou de modo a agenciar esforços de articulação do movimento operário da cidade no citado período.

No escrito Uma perseguição herdada: a moral e os bons costumes na redemocratização brasileira, Juliana Moreira de Sousa analisa como a interdição de obras e projetos artísticos que fugiam à heteronormatividade representavam, durante os anos de 1964 a 1985, estratégias ditatoriais intencionais de exclusão e violência contra as comunidades LGBTQIAP+.

No texto Vale mais a versão do que o fato?”: Análise de Discurso Crítica do texto “Apresentação” da Coletânea 1964 - 31 de março: o movimento revolucionário e sua história, Mariane da Silva mobiliza a Análise de Discurso Crítica para identificar a disseminação de versões relativistas e negacionistas do passado ditatorial brasileiro, particularmente em publicações lançadas no começo do século XXI pela editora do Exército Brasileiro, a BibliEx.

Em Estado e desenvolvimento capitalista: o caso dos frigoríficos no Oeste catarinense, José Carlos Radin e Luciano Adilio Alves debatem a relação histórica entre a instalação de frigoríficos no Oeste de Santa Catarina e o ideário neoliberal, atentando para as percepções de Estado mínimo e Estado planejador na sociedade brasileira (1940-1990).

No escrito de Roberta de Souza Gomes, Mariana Rabelo de Castro, Renato Cavalcanti Novaes e Silvio de Cassio Costa Telles, intitulado O leite e a prática de exercícios físicos: análise de um projeto eugênico (1932-1942), os(as) autores(as) analisam as formas pelas quais a alimentação é abordada na Revista de Educação Física (1932-1942), pontuando como o consumo do leite era estimulado como parte de um projeto de formação eugênica da população nacional.

Em As reconstruções da memória: os 40 anos do golpe de 1964 e da ditadura militar na imprensa escrita de Blumenau, Edison Lucas Fabricio procura refletir acerca das representações dos 40 anos do golpe civil-militar na imprensa escrita de Blumenau, argumentando que, em 2004, certos periódicos tiveram importante papel no debate público a respeito das rupturas e permanências da ditadura militar na cidade.

Já CristianiBereta da Silva, no artigo Jornal escolar como lugar de entrecruzamentos de práticas, memórias e culturas (Santa Catarina, década de 1940), empreende um estudo a respeito do Anjo da Guarda, jornal publicado entre 1942 e 1951, aprofundando suas reflexões sobre o contexto de produção e as práticas da cultura escolar que transpassavam o periódico estudantil naquele período.

No texto La Revolución Azul a la luz de laRevolución Verde: Tecnología y extractivismoenelAntropoceno, MichelineCariñoOlvera e Wilson Picado Umaña comparam as narrativas fundacionais, os aspectos tecnológicos, a dimensão extrativista e os impactos das chamadas Revoluções Verde e Azul, mobilizando referenciais teórico-conceituais atinentes aos debates do Antropoceno, Capitaloceno e Necroceno.

Iuri Furini Lopes da Silva, Evelane Mendonça de Oliveira e Gleudson Passos Cardos são autores do texto O útero, uma criação para o mal: a representação do papel das mulheres do filme Hereditário (2018). No artigo, analisam a fílmica-historiográfica das mulheres no cinema, com enfoque na indústria de terror, através do filme Hereditário.Os autores contextualizam a figura da mulher dentro do gênero do terror desde seus primórdiosaté o uso de sua imagem na indústriafílmica atualmente. O cinema feminista, e principalmente suas teóricas, são bons norteadores teórico-culturais para uma revolução da forma em que os gêneros são representados em produções cinematográficas a serem estudados/produzidos/consumidos não só por criadores de entretenimento, mas da sociedade ocidental como um todo.

Um destaque desta edição da Fronteiras é a entrevista realizada com o Desembargador Substituto do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, João Marcos Buch. Com mais de 30 anos de atuação na carreira pública, o Magistrado é nacionalmente reconhecido pela defesa incontornável dos Direitos Humanos para todas as pessoas. Na entrevista, o Desembargador faz um balanço dos avanços e retrocessos da temática dos Direitos Humanos e da Diversidade em diferentes contextos sociais, tanto no âmbito do sistema prisional, em particular, quanto na sociedade brasileira, em geral, tomando como referência o contexto ditatorial de 1964 e suas permanências até o tempo presente.

Na Seção Resenha, Gustavo Moisés Bortolameoti e Denis Fernando Radun apresentam o livro Contra a moral e os bons costumes: a ditadura e a repressão à comunidade LGBT, de autoria de Renan Quinalha, lançado em 2021 pela Companhia das Letras.

No texto História Pública e questões socialmente vivas: uma reflexão sobre as potencialidades da temática do integralismo brasileiro na divulgação histórica, os autores fazem uma reflexão sobre a importância da História Pública no tratamento das chamadas “questões socialmente vivas” no Brasil do Tempo Presente, a partir da experiência do integralismo, a maior organização fascista fora da Europa durante o período entreguerras. Eles concluem que a compreensão da trajetória histórica das direitas e extremas direitas é um caminho importante para a ampliação das consciências históricas e valorização da democracia.

Esperamos que este número da Fronteiras seja uma boa contribuição para a reflexão histórica e historiográfica a respeito das complexas questões que informam o debate da Democracia e da Diversidade nas sociedades brasileira e catarinense, sobretudo no âmbito das atividades exercidas pelos profissionais de História.

 

Prof. Dr. Edison Lucas Fabrício (FURB)

Prof. Dr. Fernando Sossai(Univille)

Profa. Dra.Juliana de Mello Moraes (FURB)

Organizadores do DossiêHistória, Democracia e Diversidade

Samira Peruchi Moretto

Editora da Fronteiras: Revista Catarinense de História