As historiadoras e a luta por visibilidade acadêmica
Women historians and the struggle for academic visibility
Fernanda Jaqueline Dornelles Welter[1]
Antonio Marcos Myskiw[2]
Resumo
Nos livros e coletâneas de textos que abordam o perfil biográfico e a contribuição historiográfica dos grandes expoentes da escrita da história, a presença de historiadoras é muito tímida. Percebendo essa invisibilidade, velada ou explícita, as historiadoras que se dedicam à pesquisa e à escrita da história das mulheres e das relações de gênero constituíram espaços de visibilidade acadêmica em Programas de Pós-Graduação, em Grupos de Estudos e Pesquisas e até mesmo organizando coletâneas de textos no formato de livro, apresentando a trajetória acadêmica de dezenas de historiadoras brasileiras. O texto é, também, um levantamento da produção historiográfica sobre a temática da História das Mulheres, evidenciando o pioneirismo de multas historiadoras no surgimento e fortalecimento da área de pesquisa no Brasil, cujo volume de estudos produzidos e publicados não é pequeno, tendo como aporte teórico e metodológico os escritos de outras historiadoras e cientistas sociais, como Joan Scott, Louise Tilly, Michelle Perrot e Judith Butler. A escrita da história das mulheres, dentro e fora do Brasil, a partir de meados do século XX, não se fez sem romper tradições dentro e fora da academia, não se fez sem lutar contra preconceitos e o machismo dentro dos Programas de Pós-Graduação.
Palavras-chave: História das Mulheres; Historiografia; Invisibilidade acadêmica.
Abstract
In books and collections of texts that address the biographical profile and historiographical contribution of the great exponents of history writing, the presence of female historians is very timid. Realizing this invisibility, veiled or explicit, historians who dedicate themselves to researching and writing the history of women and gender relations have constituted spaces of academic visibility in Postgraduate Programs, in Study and Research Groups and even organizing collections of texts in book format, presenting the academic trajectory of dozens of Brazilian historians. The text is also a survey of historiographical production on the theme of Women's History, highlighting the pioneering spirit of fine historians in the emergence and strengthening of the research area in Brazil, whose volume of studies produced and published is not small, having as a contribution theoretical and methodological the writings of other historians and social scientists, such as Joan Scott, Louise Tilly, Michelle Perrot and Judith Butler. The writing of women's history, inside and outside Brazil, from the middle of the 20th century, was not done without breaking traditions inside and outside the academy, it was not done without fighting against prejudices and machismo within Postgraduate Programs.
Keywords: Women's History; Historiography; Academic invisibility.
Palavras iniciais
O objetivo deste texto é refletir sobre os caminhos trilhados por historiadoras para ter visibilidade acadêmica, em especial, as historiadoras que se dedicaram à pesquisa sobre história das mulheres e relações de gênero. O texto se divide em três momentos: o primeiro, um levantamento de obras com perfil biográfico que tratam da trajetória de historiadores, onde apontamos a pequena presença de historiadoras, apontando sua invisibilidade no meio acadêmico; o segundo, a trajetória e os escritos de Michelle Perrot e Joan Scott sobre a escrita da história da mulheres e as relações de gênero, como referência teórica e metodológica às historiadoras brasileiras para iniciar, dar corpo e formar linhas de pesquisas sobre História das Mulheres no Brasil; o terceiro, apresentamos a trajetória e as pesquisas de algumas historiadoras brasileiras sobre mulheres e, a partir delas, o alvorecer de novas pesquisas acadêmicas, grupos de estudos e eventos científicos tendo como foco a história das mulheres e as relações de gênero, em grandes e pequenas universidades, muitas delas fora do eixo Rio-São Paulo.
O texto problematiza a ausência de historiadoras nos livros que discorrem sobre a trajetória histórica e historiográfica de pesquisadores da área de história publicados dentro e fora do Brasil nas últimas décadas. Tendo em vista que o número de historiadoras a cursar mestrado e doutorado em história no Brasil não é pequeno e parte delas abordando o tema da história das mulheres, porquê persiste essa invisibilidade acadêmica mesmo muitas delas sendo referências obrigatórias em distintas temáticas e linhas de pesquisas e integrarem corpo docente de cursos de graduação e pós-graduação? A escolha pela temática da História das Mulheres como percurso do texto se justifica por realizarmos uma pesquisa envolvendo a invisibilidade das mulheres na escrita da história de uma revolta social, no Sudoeste do Paraná no ano de 1957 (Welter, 2024). Estrategicamente, a escolha desta temática, nos permite mostrar ao leitor que, a partir de referencial teórico e metodológicos externos, historiadoras abraçaram a temática e, ao longo dos anos e décadas, construíram e consolidaram grupos de estudos e pesquisas, linhas de pesquisas e eventos científicos próprios. A quebra da invisibilidade acadêmica tem ocorrido pelas próprias mulheres ao organizarem coletâneas de textos discorrendo sobre a trajetória e produção acadêmica de historiadoras.
Intelectuais, homens ou mulheres?
Ora, a vida intelectual concebe-se sempre como se ela fosse definida pela função de resistência, de tomada da palavra, de alerta. Mas ela se esquece de que seu verdadeiro trabalho é o trabalho de análise, de compreensão de realidade (Novaes, 2006, p. 11).
Em 2006, Adauto Novaes organizou a obra O Silêncio dos Intelectuais, resultado de um ciclo de conferências de mesmo título, que integrava o projeto Cultura e pensamento em tempos de incerteza, do Ministério da Cultura. Foi, inicialmente, um evento transmitido em tempo real na forma de videoconferência às principais universidades federais do Brasil no decorrer do ano de 2005. As conferências dos pesquisadores e pesquisadoras convidados foram publicadas no formato de livro, pela editora Companhia das Letras, em 2006. No capítulo inicial do livro, intitulado “Intelectuais em tempos de incerteza”, Adauto Novaes sinalizava que, frente a um mundo em transformação, havia um silêncio dos intelectuais, que insinuavam “covardia, cumplicidade política, desinteresse”, ou ainda, “uma anemia criadora em todas as áreas de atividade, entre elas a política e o pensamento” (Novaes, 2006, p. 7).
O silêncio, pontuava Novaes, era parte constitutiva da fala, de quem tinha os olhos nas “trevas, que nada vê, mas se sente prestes a ver”, ou ainda, que o silêncio dos intelectuais seria “a expressão de uma crise” frente ao tempo vivido e experimentado em meados da primeira década do século XXI. Para Adauto Novaes, havia dificuldades em perceber, ler e compreender o que viria pela frente, pois eram “tempos de incertezas” frente ao “fim das utopias”; do “predomínio do relativismo”; dos desgastes dos “ideais universais de liberdade, justiça, razão e verdade” frente ao “esgarçamento do espaço público” e da opinião pública que se fortaleceu com a “revolução tecnocientífica” e as redes sociais. No final do capítulo inicial, Novaes ponderou que não havia “déficit na tomada da palavra em nossa sociedade”, mas existia, um “déficit de compreensão” do tempo e das transformações sociais, políticas e econômicas experimentadas a nível mundial e brasileiro, sobretudo em referência ao novo século (Novaes, 2006, pp. 8-11).
Os convidados para integrar o rol de palestrantes do evento e, por extensão, da obra, foram: Marilena Chauí, Francisco Wolf, Sergio Paulo Rouanet, Marcelo Coelho, GéraldineMuhlmann, Renato Janine Ribeiro, Franklin Leopoldo e Silva, Jean-FrancoisSirinelli, Antonio Cícero, Michel Déguy, HaquiraOsakabe, Newton Bignotto, José Raimundo Maia Neto, Francisco de Oliveira e Adauto Novaes. Do seleto grupo de palestrantes, uma única mulher, Marilena Chauí, filósofa, professora e pesquisadora de grande vulto, da Universidade de São Paulo (USP) (Novaes, 2006). Desta verificação nasceu um questionamento. Naquele período haviam outras intelectuais mulheres capazes de produzir leituras e compreensões do tempo presente na área de filosofia ou na grande área de humanidades? Certamente sim, pois a algumas décadas as mulheres deixaram de ser “protagonistas anônimas” de nossa história intelectual nas mais distintas áreas do conhecimento. Elas fazem parte da história e produzem a sua própria história interpretando e escrevendo sobre os dilemas e problemas do tempo passado e do tempo presente.
Diante desta reflexão inicial, indagamos: na área de História, as historiadoras mulheres possuem participação e visibilidade na escrita da história? Para responder a esse questionamento, dedicaremos atenção aos livros autorais ou organizados com a finalidade de abordar a trajetória intelectual de historiadores e historiadoras, publicados em língua portuguesa a partir da década de 1980. Frisamos que não é nossa intenção produzir uma análise profunda das obras que utilizaremos como objeto de estudo, mas apontar a presença, ou não, das historiadoras mulheres nas obras. Iniciamos pela obra Ensaios sobre Ego-História, organizada por Pierre Nora, publicada em francês e português no ano de 1987 (Nora, 1987). Nesta obra, Maurice Agulhon, Pierre Chaunu, Georges Duby, PaoulGirardet, Michelle Perrot, Jacques Le Goff e René Remnod produziram ensaios autobiográficos trazendo ao leitor memórias pessoais de como tornaram-se historiadores, a área de atuação como pesquisadores, a docência no ensino superior e o engajamento intelectual a temas contemporâneos. Michelle Perrot, historiadora francesa, uma das precursoras dos estudos sobre história das mulheres na França, figura dentre os participantes da obra organizada por Pierre Nora (Nora, 1987).
Em 1992, Peter Burke publicou A escrita da história: novas perspectivas, em língua portuguesa (Burke,1992). Nesta obra Peter Burke convidou, além dele, outros nove historiadores de diferentes nacionalidades para refletir sobre a contribuição da “Nova História”, mais precisamente, da coleção de ensaios organizados por Jacques Le Goff e Pierre Nora, publicadas em 1974, interessada em discutir e propor o estudo de toda a atividade humana, como por exemplo, a história vista de baixo, a infância, a velhice, as mulheres, a morte, a loucura, o clima, os odores, os gestos, o corpo, o filme e a leitura, pelo viés interdisciplinar[3]. Dos dez historiadores, apenas a historiadora estadunidense Joan Scott participou desta obra, discorrendo sobre “História das mulheres” (Burke, 1992).
Em 2002, a filósofa e historiadora australiana Marnie Hughes-Warrington publicou o livro 50 grandes pensadores da história, da antiguidade ao início do século XXI. Foi uma escolha difícil, sinaliza Marnie, e não eram os cinquenta mais importantes historiadores de todos os tempos em termos de popularidade, “de impacto ou de significado, mas, ao contrário, de desafio” e a capacidade de cada historiador para incitar discussões e provocações (Hughes-Warrington, 2002, p. 12-13). Dos cinquenta pensadores da história escolhidos para compor a obra, três eram historiadoras: Natalie Zemon Davis, Joan Scott e Sheila Rowbotham, articulando o perfil biográfico à trajetória acadêmica e à militância política e social (Hughes-Warrington, 2002).
No ano de 2003,Véronique Sales organizou a obra Leshistoriens, publicada pela editora Armand Colin, de Paris. Em 2011, a editora Unesp publicou a obra em língua portuguesa, intitulada Os historiadores (Sales, 2011). O propósito da obra era situar a obra de cada historiador em seu tempo, atento à dupla temporalidade dos textos comentados por eles de obras escritas por outros historiadores, fazendo-nos perceber que o pensar a História passou por diversas modificações ao longo dos séculos XIX e XX. Véronique sinaliza, nas páginas iniciais da obra, que a escolha dos historiadores para compor o livro era pela metodologia adotada por eles quando da pesquisa documental, a organização dos documentos e o processo da escrita dos textos. A organizadora da obra esperava receber críticas pela ausência de outros pensadores da história. Dos dezenove historiadores que figuram nos capítulos da obra, Véronique Sales privilegiou apenas historiadores homens em sua coletânea (Sales, 2011).
E no Brasil, como as obras que se dedicaram a abordar aspectos da história biográfica e acadêmica de historiadores tem propiciado visibilidade às historiadoras? Iniciamos pela obra As muitas faces da história: nove entrevistas, organizada pela historiadora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke, publicada pela Editora Unesp, no ano 2000 (Pallares-Burke, 2000). Maria Lúcia realizou nove entrevistas com historiadores, que são: Jack Goody, Asa Briggs, Natalie Zemon Davis, Keith Thomas, Daniel Roche, Peter Burke, Robert Darnton, Carlo Ginzburg e Quentin Skinner. O objetivo da obra era “fazer que cada um dos historiadores aqui reunidos revelasse coisas que a leitura de seus textos não revela, ou não revela tão claramente” (Pallares-Burke, 2000, p. 6) sobre as formas de pesquisar e escrever a História. Dos nove historiadores, uma historiadora, Natalie Zemon Davis.
Conversa com Historiadores Brasileiros foi organizado por José Geraldo Vinci de Moraes e José Marcio Rego, publicado pela Editora 34 no ano de 2002. Dos quinze renomados historiadores, cinco deles eram mulheres: Maria Yedda Linhares, Emília Viotti da Costa, Maria Odila da Silva Dias, Ângela de Castro Gomes e Laura de Mello e Souza. As entrevistas ocorreram entre fins de 1999 e meados de 2001. Todos os entrevistados discorreram sobre a trajetória de vida pessoal; a escolha pela área de História; o tornar-se pesquisador; o ingresso na vida pública; a militância política; a trajetória acadêmica dentro das universidades e o vínculo de suas pesquisas com determinados aportes teóricos e metodológicos. Os organizadores justificaram a escolha destes historiadores e historiadoras: “A legitimidade deste grupo se baseia na relevância de sua produção historiográfica e na autoridade da trajetória profissional de casa um deles, reconhecidas de maneira geral pela comunidade e fora dela” (Moraes; Rego, 2003, p. 18).
Ideias de História: tradição e inovação de Maquiavel a Herder foi organizado por Marcos Antonio Lopes, publicado pela Editora Eduel em 2007 (Lopes, 2007). Nicolau Maquiavel, Francesco Guicciardini, Jean Bodin, Jacques-BénigneBossuet, Giambattista Vico, Montesquieu (Charles-Louis de Secondat), Voltaire (François-Marie Arouet), David Hume, Jean Jacques Rousseau, Edward Gibbon e Johann Gottfried Herder foram objetos de reflexão nesta obra. Não eram historiadores e sim pensadores do campo da Ciência Política que em algum momento de suas reflexões registraram suas compreensões sobre a “ideia de História” e do saber histórico na Europa Moderna. Percebemos a ausência de pensadoras mulheres nesta obra. Historiadores de nosso tempo, outra obra organizada por Marcos Antonio Lopes em parceria com Sidnei Munhoz, foi publicada em 2010 pela Editora Alameda (Lopes; Munhoz, 2010). Dezesseis historiadores estrangeiros foram contemplados neste livro, tendo Michelle Perrot e Natalie Zemon Davis como representantes femininas. Observamos não apenas a baixa representatividade feminina, mas a tendência de valorizar sempre as mesmas historiadoras, ainda que saibamos o peso das contribuições delas à escrita da história. Noutra obra organizada por Marcos Antonio Lopes em parceria com Julio Bentivoglio, intitulada A constituição da História como ciência: de Ranke a Braudel (Lopes; Bentivoglio, 2013) publicada pela Editora Vozes em 2013, nenhuma historiadora figura como objeto de estudo. A historiadora Naiara Dantas Ribeiro foi a única mulher convidada pelos organizadores para contribuir com texto na obra.
Entre os anos de 2012 a 2014 Maurício Parada organizou a trilogia Os historiadores clássicos da história (Parada, 2012; 2013; 2014), publicados em coedição pela Editora Vozes e Editora PUC Rio. Dos quarenta e dois historiadores, da antiguidade a fins do século XX, nenhum dos escolhidos para compor o rol de “clássicos da história” é mulher, ainda que, em outros estudos, Joan Scott, Natalie Zemon Davis e Michelle Perrot tenham sido colocadas como grande referência. Em 2018, Maurício Parada e Henrique Estrada Rodrigues publicaram Os historiadores: clássicos da história do Brasil: Dos primeiros relatos a José Honório Rodrigues (Parada; Rodrigues, 2018). No rol de “clássicos da história do Brasil”, todos homens, estão: Francisco Adolfo de Varnhagen, João Francisco Lisboa, Joaquim Nabuco, Capistrano de Abreu, Oliveira Vianna, Oliveira Lima, Manuel Bonfim, Afonso d’Escragnolle Taunay, Luís da Câmara Cascudo, Octávio Tarquínio de Sousa, Gilberto Freyre, Serafim Leite, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodré e José Honório Rodrigues. Seguem no mesmo caminho privilegiando apenas historiadores homens as seguintes obras: Uma introdução à história da historiografia brasileira (1870-1970), publicada, em 2018, pela Editora FGV, tendo por autores Thiago Lima Nicodemo, Mateus Henrique de Faria Pereira, Pedro Afonso Cristóvão dos Santos (Nicodemo; Pereira; Santos, 2018); História e historiadores no Brasil: da América Portuguesa ao Império do Brasil, 1780-1860, organizado por Fernanda Varella, Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo, publicado em 2015 pela EDIPUC/RS (Varella; Oliveira; Gontijo, 2015) e História e historiadores no Brasil: do fim do Império ao alvorecer da República, 1870-1940 (Nicolazzi, 2015) organizado por Fernando Nicolazzi, publicado em 2015 pela EDIPUC/RS.
À margem dos cânones: pensamento social e interpretações do Brasil possui dois volumes. O primeiro volume foi publicado em 2013 e o segundo em 2017, sob organização de Alexandro Dantas Trindade, Hilton Costa, Simone Meucci e Diogo da Silva Roiz (Trindade; Roiz; Melucci; Costa, 2013; 2017). Dos dezenove ensaios reunidos nos livros, apenas o nome da freira Francisca Peeters foi objeto de estudo por ter contribuição no ensino de sociologia como uma das primeiras mulheres a escrever um manual de sociologia. Arlete Farge é a única historiadora a ser objeto de estudo na obra A afirmação da história como ciência no século XX: de ArletteFarge a Robert Mandrou, organizada por Julio Bentivoglio e Alexandre de Sá Avelar, publicado em 2016 pela Editora Vozes (Bentivoglio; Avelar, 2016). Três anos depois,Julio Bentivoglio e Alexandre de Sá Avelar organizaram O futuro da história: da crise à reconstrução de teorias e abordagens, publicado pela Editora Milfontes (Bentivoglio; Avelar, 2019). Nesta obra, Joan Scott e Michelle Perrot fazem companhia para Lynn Hunt e Gabrielle Spiegel.
Pelas obras mencionadas acima, de outras tantas que existem, indagamos: o que justifica a rara presença de historiadoras nas obras que tratam do tema teoria e historiografia da história? Ainda que alguns autores(as) e organizadores(as) tenham sinalizado não ter utilizado como critério de escolha dos nomes por serem “homem” ou “mulher”, a ausência de historiadoras configura-se uma atitude de exclusão. Por que não se estudam outras historiadoras, para além das mais conhecidas e reconhecidas, para explicitar que elas, sobretudo a partir da década de 1970, tiveram papel importante no ensino, na pesquisa e na constituição de cursos de graduação e pós-graduação em universidades e órgãos públicos que se dedicam à pesquisa histórica? Há, entre os historiadores, a tentativa de ofuscar a contribuição das historiadoras nas formas de abordagens e releituras de temas clássicos e contemporâneos na área de História?
É correto dizer que durante muito tempo faltaram oportunidades para as mulheres ingressarem no ensino superior e no mercado de trabalho. Mas, existiram exceções. Mulheres que, mesmo enfrentando discriminações em salas de aula em cursos de graduação e pós-graduação, notadamente masculinos (como jornalismo, administração, direito, agronomia, engenharias, por exemplo), conseguiram se formar e se inserir no mercado de trabalho. No caso brasileiro, o período ditatorial também contribuiu para a quase ausência de mulheres nos cursos da área de humanas. Porém, Maria Yedda Linhares, Emília Viotti da Costa, Maria Odila da Silva Dias, Ângela de Castro Gomes e Laura de Mello e Souza (dentre outras) souberam, mesmo passando pelas agruras da ditadura militar, superar os “cânones masculinos” existentes mesmo na área de História, como apontam José Geraldo Vinci de Moraes e José Marcio Rego na obra Conversa com Historiadores Brasileiros (Moraes; Rego, 2002).
Se pairavam “no ar” e nos textos acadêmicos que a produção do conhecimento histórico era, em sua ampla maioria, produzida por homens; se mesmo convivendo no cotidiano de centros de pesquisas e colegiados de cursos de graduação e pós-graduação, os historiadores não questionaram a historiografia sobre a “ausência” de historiadoras; se apareciam como “auxiliares” em projetos coordenados por historiadores, algumas historiadoras decidiram produzir obras para dar visibilidade e presença de historiadoras na escrita da história. Centraremos, aqui, atenção em apresentar, ainda que de maneira breve, algumas obras escritas por pesquisadoras brasileiras e publicadas no Brasil.
Mulheres na USP: horizontes que se abrem (Blay; Lang, 2004), organizado pelas sociólogas Eva AltermanBlay e Alice Beatriz da Silva Gordo Lang, publicada em 2004 pela Editora Humanitas, além de apresentar um conjunto de dados quantitativos da produção acadêmica de professoras da Universidade de São Paulo, contém seis entrevistas com pesquisadoras consideradas pioneiras: Gilda de Mello e Souza, Jandyra França Borzaghi, Alice Piffer Canabrava, Olga Pantaleão, Maria da Conceição Vicente de Carvalho e Veronica Rapp de Eston. Alice Piffer Canabrava, Olga Pantaleão foram as primeiras mulheres a se formar em História e Geografia, na USP em 1938, acompanhando o nascer e fazer-se dos cursos de História e Geografia, como alunas e, adiante, como docentes pioneiras no desenvolvimento de pesquisas nas áreas de História. No depoimento de Olga Pantaleão, ela manifesta o incômodo dos historiadores com as historiadoras:
Uma reação masculina contra as mulheres começou a se manifestar por força de vários fatores: quando a mulher se mostrava mais competente do que os homens do mesmo campo de estudo e de ensino, quando ocupava ou passava a ocupar lugar desejado por algum colega do sexo masculino, ou pela simples razão do preconceito antifeminista. Não posso dizer que era uma situação geral na Faculdade: houve colegas nossas que nunca foram inquietadas e puderam permanecer pelo tempo que quiseram nos seus postos. Mas, em certo momento, instalou-se em alguns setores uma atitude antifeminista bem marcada. Na História, por exemplo, um de seus professores falava ser preciso pôr o “mulherio” para fora da Faculdade (Blay; Lang, 2004, p. 112).
A produção historiográfica de Alice e Olga não foi pequena. Porque ambas não figuram nas obras que tratam da historiografia brasileira, ao lado de, por exemplo, Sérgio Buarque de Holanda, que foi colega de turma de ambas na graduação em História e Geografia? O machismo e o patriarcalismo, velado ou explícito, por um longo tempo fez parte do cotidiano da USP (e de outras universidades públicas, privadas e comunitárias), privilegiando e dando visibilidade à produção acadêmica dos historiadores e silenciando a produção acadêmica das historiadoras. A historiadora Zilda Márcia GrícoliIokoi (também da USP) na obra A escrita do historiador: cosmovisões em conflitos (Iokoi, 2018), discorre sobre o papel do historiador a partir do pensamento de alguns historiadores e historiadoras e como eles e elas influenciaram a sua forma de pensar e escrever a história. Nesta obra, Zilda Iokoi faz uma homenagem à historiadora Emília Viotti da Costa, dialogando, ao mesmo tempo, sobre o conceito de “cosmovisão” que norteou as reflexões e os escritos de Emília.
A coletânea de textos em dois volumes, intitulado As historiadoras e o(s) gênero(s) na escrita da história, organizado por Diogo Roiz, Rebeca Gontijo e Tânia Zimmermann, publicado pela Editora Mercado das Letras, em 2022, propiciam contribuição sem igual para a visibilidade e produção acadêmica de historiadoras brasileiras (Roiz; Gontijo; Zimmermann, 2022). Em ambos os volumes constam a trajetória de quarenta e sete historiadoras. Os organizadores construíram a obra em duas partes: as pioneiras nos estudos históricos brasileiros e a geração de pesquisadoras que consolidou os estudos históricos no Brasil, justificando, assim, os dois volumes. Nos dois volumes, há textos no formato de autobiografias, no formato de entrevistas e textos escritos por outros historiadores e historiadoras sobre a trajetória de historiadoras. Alice Piffer Canabrava, Maria Yedda Linhares, Eulália Maria Lahmeyer Lobo, Anita Novinsky, Miriam Ellis, Maria Thétis Nunes, Cecília Westphalen, Emília Viotti da Costa, Maria Thereza Schorer Petrone, Maria Sylvia de Carvalho Franco, Katia de Queirós Mattoso, LaimaMesgravis, Maria Luiza Marcílio, Maria de Lourdes MonacoJanotti, Maria Beatriz Nizza da Silva, Maria Odila Leite da Silva, Anna Maria Martinez Corrêa, Nanci Leonzo, Elza Nadai, Sandra JatahyPesavento, Eni Mesquita Samara, Angela de Castro Gomes, HeleniceRodrigues da Silva, Joana Maria Pedro, Selva Guimarães, Circe Bittencourt, Regina Horta Duarte, Dóris Mendes Trindade, Joana Neves, Ana Maria Colling, Céli Regina Jardim Pinto, Ida Lewkowicz, Maria Lígia Coelho Prado, Beatriz Nascimento, Marina de Mello e Souza, Leila Hernandez, Izabel Andrade Marson, Margareth Rago, Maria Bernardete Ramos Flores, Rosa Fátima de Souza Chaloba, Maria do RosarioMortatti, Doracina Aparecida de Castro Araújo, Tânia Regina de Luca, Teresa Malatian, Marisa Saenz Leme, Raquel Glezer e Suely Robles Reis de Queiroz figuram nestes dois tomos. Há, ainda, segundo os organizadores destes dois volumes, um terceiro tomo a ser publicado, como resultado do projeto “Biografias intelectuais: trajetórias de pesquisadoras pioneiras nos estudos históricos brasileiros”, contemplado por edital da Capes, em 2014.
Diogo Roiz, Rebeca Gontijo e Tânia Zimmermann comentam no capítulo introdutório de ambos os volumes que a escolha das historiadoras levou em conta dois pontos centrais: “O primeiro, o pioneirismo que tiveram na análise de temas, objetos e fontes; depois, em função da ampla divulgação que obtiveram no país e no exterior” (Roiz; Gontijo; Zimmermann, 2022, p. 33). Sinalizam, também, sobre as exclusões ou ausências de inúmeras outras historiadoras nestes dois volumes: “As inevitáveis exclusões também se deveram a alguns fatores. Fundamentalmente, ao fato de suas obras terem um caráter regional, quando não pela escassa divulgação das mesmas, inclusive em português”, ou ainda, “pela própria dificuldade em destrinchar arquivos pessoais imensos e de difícil acesso. Somente anos de pesquisas poderiam transpor tais barreiras e não dispúnhamos de tempo nem de pesquisadores para levar a cabo tal iniciativa neste momento” (Roiz; Gontijo; Zimmermann, 2022, p. 33).
História das mulheres no Ocidente: as contribuições de Michelle Perrot e Joan Scott
A História das Mulheres é um campo de estudos, surgido e moldado ao longo de décadas por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento em torno dos conceitos de “Mulher”, “Mulheres”, “Feminismo”, “Gênero” e “Relações de Gênero” para explicitar a condição feminina em distintos lugares de atuação, no campo e na cidade. A História das Mulheres mostra, por diferentes ângulos de abordagens e fontes documentais, que as mulheres possuem história própria; que são sujeitos de sua história; que a luta por direitos civis, políticos e sociais, a duras penas e muita resistência e luta, possibilitaram a elas diversas conquistas, sobretudo no decorrer do século XX. E, tudo isso, iniciou com os movimentos feministas nos Estados Unidos e na Europa, surgido em fins do século XIX. No entanto, neste texto o recorte temporal para historiar sobre o tema História das Mulheres, se inicia com a publicação da obra O segundo sexo, da filósofa Simone de Beauvoir, publicado em Paris no ano de 1949 (Beauvoir, 1970).
Originalmente impresso em dois volumes, O segundo sexo é considerado um marco para o movimento feminista europeu e, ainda hoje, uma obra que se mantém atual pela complexidade das questões que constam no livro, escrito numa linguagem acessível aos leitores não acadêmicos. Esse foi o primeiro impacto da obra, tanto que, na primeira semana de lançamento, vendeu 22 mil exemplares, pontua Kate Kirkpatrick, em Simone Beauvoir: uma vida (Kirkpatrick, 2020, p. 311). Com a mesma intensidade vieram as críticas, detalha Kate:
Com uma população esgotada pela guerra, a França precisava de cidadãos – mas Beauvoir foi acusada de traidora de seu sexo e de sua nação. Após a guerra, a indústria francesa precisava de revitalização, e além de mais nascimentos, também precisava que mais mulheres ingressassem na força de trabalho. A linguagem de Beauvoir foi e ainda é chocante em alguns lugares, e, em retrospectiva, existem passagens que parecem mal interpretadas, dado o contexto político e a experiência de mulheres que não se sentiam “escravizadas” pela maternidade, Beauvoir se referia às grávidas como hospedeiras de “parasitas” da espécie (Kirkpatrick, 2020, p. 314-315).
A crítica fez com que Segundo sexo se tornasse mais conhecida e estudada, dentro e fora da Europa. Pela nossa leitura da obra, a grande contribuição do livro foi colocar a reflexão sobre o corpo no centro do debate sobre o feminismo, isto é: que o corpo da mulher e os significados sociais dizem muito e condicionam sobre sua existência. Michelle Perrot, em sua autobiografia, publicada na obra Ensaios de ego-história, menciona ter lido o livro de Simone Beauvoir durante a graduação em História na Sorbonne; que desta leitura nasceram ideias de estudar o feminismo. Mas, por influência de Ernest Labrousse, um de seus professores e orientador, Perrot voltou-se para o estudo da história operária na França na primeira metade do século XIX (Perrot, 1987, p. 239). A semente, no entanto, havia sido plantada.
Vinte anos depois, sob influência dos escritos e palestras de Michel de Foucault, do Movimento Liberação das Mulheres e dos eventos de maio de 1968 na França e em outros países, Michelle Perrot passou a estudar a história de mulheres dentro dos movimentos operários. Por influência dos colegas historiadores dos Annales, os estudos sobre a história das mentalidades e a história cultural também influenciaram Michelle Perrot e muitas de suas orientadas nas abordagens sobre o feminino, dialogando com a antropologia, literatura, linguística e a psicanálise. A partir de 1973, criaram-se cursos, colóquios e grupos de reflexão nas universidades francesas, onde se multiplicaram os estudos sobre história das mulheres. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, também nasceram grupos de estudos, colóquios e cursos no decorrer da década de 1970 (Soihet, 1997, p. 277).
Enquanto as historiadoras e historiadores franceses se dedicavam a escrever a história das mulheres se diferenciando da história dos homens com base no conceito de Gênero, nos Estados Unidos, Joan Scott e Louise AudinoTilly teciam críticas à História Social francesa e, em especial os escritos sobre História das Mulheres. Em 1978, Scott e Tilly publicaram Woman, Workand Family, discorrendo sobre a história do trabalho das mulheres na França e na Inglaterra no período 1700-1950. Sinalizavam que a trajetória do trabalho das mulheres era influenciada pelas mudanças e permanências atreladas aos contextos econômicos, demográficos e familiares e não apenas pela diferença de gêneros (masculino e feminino) e o fator econômico. Contribuíram para com o estudo das mulheres a partir das condições estruturais, relações sociais e das escolhas pessoais (Scott;Tilly, 1978).
Em meados da década de 1980, Joan Scott publicou um estudo teórico refletindo sobre o conceito de gênero. Referimo-nos ao artigoGender: A UsefulCathegoryofHistoricalAnalisys, de Joan Scott, publicado na Revista de História Americana da Universidade de Colúmbia (Chicago) (Scott, 1986, p. 1053-1075)[4]. Neste artigo, Scott sintetizou as discussões e expôs os problemas enfrentados por historiadores e historiadoras dos Estados Unidos e da Europa no campo dos estudos sobre mulher e, em especial, a forma como o conceito de gênero era utilizado, de forma meramente descritiva e ausente de uma reflexão teórica a ponto de questionar e mudar o modelo interpretativo existente, como pontua Joan Scott abaixo:
Esses usos descritivos do termo “gênero” foram empregados pelos/as historiadores/as, na maioria dos casos, para delimitar um novo terreno. À medida que os/as historiadores/as sociais se voltavam para novos objetos de estudo, o gênero tornava relevante temas tais como mulheres, crianças, famílias e ideologias de gênero. Em outras palavras, esse uso de “gênero” refere-se apenas àquelas áreas, tanto estruturais quanto ideológicas, que envolvem as relações entre os sexos. […] Ainda que, nessa utilização, o termo “gênero” sublinhe o fato de que as relações entre os sexos são sociais, ele nada diz sobre as razões pelas quais essas relações são construídas como são, não diz como elas funcionam ou como elas mudam. No seu uso descritivo, o termo “gênero” é, então, um conceito associado ao estudo de coisas relativas às mulheres. “Gênero” é um novo tema, um novo domínio da pesquisa histórica, mas não tem poder analítico suficiente para questionar (e mudar) os paradigmas históricos existentes (Scott, 1995, p. 76).
Na compreensão Joan Scott, o conceito de gênero deveria incluir estudo de símbolos, análises políticas de instituições e organizações sociais, além da identidade subjetiva relacionando-as a atividades educacionais, políticas e familiares, ou como pontua Scott: “os efeitos do gênero nas relações sociais de maneira sistemática e concreta” (Scott, 1995, p. 76). Outra observação pertinente de Scott se refere à ausência de questionamentos aos “paradigmas históricos existentes” nas pesquisas sobre história das mulheres até então realizadas. Era necessário teorizar sobre gênero e as relações entre os gêneros para, com isso, construir novos paradigmas e uma história das mulheres com forte teor de crítica à história predominantemente masculina.
Joan Scott propôs nova leitura do conceito de Gênero, pois estudar as relações de gênero, era explicitar as relações de poder e de como essas relações de poder entre os sexos tornaram as mulheres invisíveis na escrita da história, ou quando apareciam na trama histórica eram na condição de sujeitos históricos secundarizados. A novidade que ela apresentou para forçar a mudança do paradigma interpretativo era fazer uma teorização política de Gênero, atrelando o conceito poder, ou de relações de poder, pois “o gênero é um campo primário no interior do qual, ou por meio do qual, o poder é articulado. O gênero não é o único campo, mas ele parece ter sido uma forma persistente e recorrente de possibilitar a significação do poder no ocidente, nas tradições judaico-cristãs e islâmicas” (Scott, 1995, p. 88). A justificativa, para Scott, era de que
o gênero é uma das referências recorrentes pelas quais o poder político tem sido concebido, legitimado e criticado. Ele não apenas faz referência ao significado da oposição homem/mulher; ele também o estabelece. Para proteger o poder político, a referência deve parecer certa e fixa, fora de toda construção humana, parte da ordem natural ou divina. Desta maneira, a oposição binária e o processo social das relações de gênero tornam-se parte do próprio significado de poder; pôr em questão ou alterar qualquer de seus aspectos ameaça o sistema inteiro (Scott, 1995, p. 92).
O artigo “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”, da mesma autora, mesmo antes de ser traduzido para o português, se tornou referencial teórico e metodológico nas pesquisas sobre História das Mulheres no Brasil. Este artigo foi publicado em língua portuguesa no ano de 1990 pela revista Educação & Realidade, de Porto Alegre/RS. Outra obra de impacto foi Genderandpoliticsofhistory (Scott, 1988) publicada em 1988 pela Editora da Universidade de Columbia (sem tradução no Brasil), aprofundando as análises sistematizadas inicialmente no artigo.
Em 1988, Michelle Perrot publicou Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros, contendo textos publicados em revistas científicas no decorrer da década de 1970 e início da década seguinte (Perrot, 1992). No Brasil a publicação ocorreu em 1992, por iniciativa da historiadora brasileira Maria Stella Martins Bresciani, que entre os anos 1986 e 1987, fez pós-doutorado na Universidade de Paris VII, onde Michelle Perrot era docente. Bresciani produziu texto introdutório apresentando Michelle Perrot aos historiadores e alunos de graduação e pós-graduação em história. Esta obra se tornou referência obrigatória na área das humanidades.
No que se refere aos textos sobre mulheres na obra Os excluídos da história, pontua Michelle Perrot, tínhamos interesse pelas “figuras femininas mais oprimidas: prostitutas, domésticas, operárias, mulheres agredidas, etc., as vítimas, expressão da condição feminina” (Perrot, 1995, p. 20). Mas, no decorrer dos próximos vinte anos, lembra Perrot, o campo de pesquisa em História das Mulheres evoluiu nos seus objetos, seus métodos e pontos de vista: “Tratava-se inicialmente de tornar visível o que estava escondido, de reencontrar traços e de se questionar sobre as razões do silêncio que envolvia as mulheres enquanto sujeitos da história”, conduzindo, por conseguinte, a reflexões “em torno da história enquanto produto da dominação masculina, a qual atuava em dois níveis: nível dos próprios acontecimentos e nível da elaboração deles empreendida pelo relato (story e history)” (Perrot, 1995, p. 20).
Ampliando a reflexão crítica à escrita da História das Mulheres, a filósofa Judith Butler, parceira de diversas prosas com Joan Scott, publicou a obra Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade em 1990 (no Brasil, a obra foi publicada em 2003, pela Editora Record e, mais tarde, reeditada pela Editora Civilização Brasileira). A essência desta obra é a questão de gênero. Porém, no decorrer da leitura dos três longos capítulos verificamos que Judith não atrela o gênero exclusivamente ao tema da sexualidade. Gênero é, para a filósofa, um problema político, histórico e ontológico. Para refletir sobre isso, Butler construiu uma densa leitura de dois eixos do movimento feminista e dos movimentos sociais em geral: a identidade e a categoria “mulher”. Em suas considerações, pontua que não é possível existir uma identidade conforme apresenta a metafísica ocidental; que o sexo e a sexualidade são tão “convenções sociais” quanto o gênero; que tanto a identidade quanto a sexualidade são constituídas a partir da prática, da performatividade, e não o oposto; que buscar definir uma identidade para os movimentos feministas, acabam por aprisioná-los em categorias ontológicas duras e fechadas em vez de propiciar a liberdade como os movimentos necessitam (Butler, 2016, pp. 190-199).
Enquanto nos Estados Unidos ocorria um debate teórico sobre Gênero para pensar a História das Mulheres, na França, reflexo de pesquisa histórica elaborada por pesquisadoras e pesquisadores que se dedicavam ao estudo da História das Mulheres, em diferentes recortes temporais e regiões da Europa Ocidental, resultou na coleção História das Mulheres no Ocidente, dirigidos por Michelle Perrot em parceria com o medievalista Georges Duby, publicadas entre os anos de 1987 e 1992 (Perrot;Duby, 1993-1995, data publicada no Brasil). Ainda que se espelhando na coleção História da Vida Privada no Ocidente, a coleção teve um rosto próprio, salienta Perrot:
Não se trata de uma enciclopédia, mas de uma história datada e temática, privilegiando em cada período os temas mais sensíveis, aqueles que permitiriam compreender uma época ou explicar uma transformação, isso tudo em função dos trabalhos disponíveis, dos quais tal obra torna-se evidente e absolutamente devedora.
Trata-se de uma história da diferença entre os sexos, das relações entre os sexos, uma história das mulheres, a qual, por sua vez e para nós, só pode ser compreendida nessa perspectiva. Tal foi o pedido minimamente formulado aos autores e inegavelmente aceito. Excetuando essa recomendação, não há nesses volumes uma “linha”, uma doutrina, apenas a afirmação comum e tranquila – pelo próprio fato de escrevê-la – que as mulheres têm uma história e que criá-la é uma tarefa séria (Perrot, 1995, p. 22).
História das Mulheres no Ocidente contribuiu de forma significativa para a escrita da História das Mulheres no Brasil, instigando o debate dentro e fora das universidades. Michelle Perrot, na obra As mulheres, ou os silêncios da História (originalmente publicada na França em 1998 e no Brasil em 2005, pela Editora Edusc), produziu uma espécie de avaliação pessoal da coleção História das Mulheres no Ocidente, que reproduzimos abaixo:
Mas o lucro não era somente existencial. Era intelectual. A história das mulheres, ao colocar a questão das relações entre os sexos, revisitava o conjunto dos problemas do tempo: o trabalho, o valor, o sofrimento, a violência, o amor, a sedução, o poder, as representações, as imagens e o real, o social e o político, a criação, o pensamento simbólico. A diferença dos sexos revelava-se de uma grande fecundidade. […] Experiência insubstituível para aquelas e aqueles que a fizeram. A história das mulheres, por outro lado, não mudou nem a atitude histórica, ainda reservada, nem as instituições universitárias, que opõem-se a lhes dar um lugar ainda que modesto. Os inevitáveis conflitos de território conduzem às vezes a tensões, internas e externas aumentadas, e cuja conta pode vir a ser paga pelas pesquisadoras mais jovens. E a França, sob este ângulo, parece mais arcaica do que a maioria dos seus vizinhos.
A história das mulheres também não mudou muito o lugar ou a “condição” destas mulheres. No entanto, permite compreendê-los melhor. Ela contribui para sua consciência de si mesmas, da qual é certamente ainda apenas um sinal. Nos países em vias de desenvolvimento, onde as mulheres começam a ter acesso ao reconhecimento individual, é o acompanhamento frequente de um processo identitário, às vezes contraditório, de que somos as espectadoras cúmplices, ansiosas e solitárias (Perrot, 2005, p. 25-26).
Na compreensão de Michelle Perrot, havia a expectativa de que a escrita da história das mulheres provocasse uma transformação de curto e médio prazo na sociedade, sobretudo masculina, em relação aos silêncios e invisibilidades das mulheres em distintos lugares, públicos e privados. Mas, mesmo dentro das universidades, após décadas de pesquisas sobre as mulheres, elas conquistaram pequeno espaço acadêmico e intelectual. Igualmente, a lenta mudança sobre a “condição” feminina a sociedade. Por outro lado,Perrot parece concordar com as reflexões teóricas de Joan Scott, de Judith Butler e de outras pesquisadoras em torno do conceito de “Gênero” e a necessidade de atrelar a escrita da história das mulheres com o campo da política, dentro e fora do movimento feminista.
As mulheres ou os silêncios da História, de Michelle Perrot, necessita um olhar mais profundo e demorado, pois vem ao encontro às pesquisas sobre o silêncio e invisibilidade das mulheres como sujeitos da história e na escrita da história. Ao optar pela história das mulheres como objeto de pesquisa, Michelle Perrot tinha um novo problema: o silêncio da história escrita sobre as mulheres: propor a busca de novos objetos e novas abordagens sobre uma diversidade de temas inserindo as mulheres como sujeitos históricos atuantes e resistindo à invisibilidade e à submissão aos homens em diferentes ambientes de participação e decisão. Dividido em cinco eixos (23 capítulos), As mulheres ou os silêncios da história contém textos escritos por Perrot em diferentes contextos e ocasiões, marcando de forma indelével a sua trajetória acadêmica e de militância feminista, sobretudo no cenário europeu, mas, não só nele. Basta lembrar que Michelle Perrot esteve no Brasil, pela primeira vez em 1994, a convite do Núcleo de Estudos de Gênero (Pagu) da Unicamp, onde ministrou conferência com o tema “Escrever uma história das mulheres: relatos de uma experiência”. Na obra de 2005, a historiadora francesa apresenta a seus leitores e leitoras, uma variedade de temas, fontes documentais e abordagens em torno da história das mulheres, dialogando com áreas de estudos interdisciplinares (literatura, sociologia, antropologia, filosofia, entre outras) (Perrot, 2005). Toda a obra, página a página, deixa ensinamentos sobre os silêncios e as formas de burlar o silêncio sobre as mulheres e sua história, descobrindo fontes documentais de diferentes naturezas, para escrever suas histórias. Tal tarefa, diz Perrot, não foi fácil, pois “as mulheres são mais imaginadas do que descritas ou contadas, e fazer sua história é, antes de tudo, inevitavelmente, chocar-se contra este bloco de representações que as cobre e que é preciso necessariamente analisar, sem saber como elas mesmas as viam e as viviam” (Perrot, 2005, p. 11).
Em 2007, por mediação da historiadora Carla BassaneziPinsky, Michelle Perrot publicou Minha história das mulheres pela Editora Contexto (Perrot, 2007). Segundo Carla Pinsky, este livro nasceu de um programa de rádio que fez enorme sucesso na França. “Transmitida pela Rádio France Culture na voz da própria historiadora, a série radiofônica sintetizou, traduziu e divulgou com clareza e entusiasmo, para um público de não-especialistas, o conteúdo de mais de trinta anos de pesquisas e reflexões acadêmicas sobre as mulheres, alcançando uma audiência extraordinária” (Pinsky, 2007, p. 09). O livro foi dividido em cinco grandes capítulos, abordando os temas da produção histórica sobre as mulheres, do corpo, da alma, do trabalho e dos deslocamentos femininos (as mulheres nas cidades).
Perrot utiliza a França como contexto sociocultural de referência e, em vários momentos, construiu inserções comparativas a outros lugares e continentes. Assim como em As mulheres ou os silêncios da história, esta nova obra tem como foco a mulher ocidental e branca, ainda que tenha dado visibilidade às mulheres operárias, camponesas, criadas, domésticas, vendedoras, enfermeiras, prostitutas, entre outras. Depois de décadas de pesquisas e publicações, Michelle Perrot, ao longo de vários programas de rádio expôs aos radiouvintes e, mais tarde, aos leitores, que a história das mulheres mudou; que havia, em meados da primeira década do século XXI, não uma, mas muitas histórias das mulheres. Perrot e dezenas de outras mulheres de diferentes países, historiadoras, antropólogas, sociólogas, feministas ou não, partiram do estudo de uma história do corpo e dos papéis desempenhados na vida privada para chegar a uma história das mulheres no espaço público da cidade, do trabalho, da política, da guerra, da criação; de uma história das mulheres vítimas para chegar a uma história das mulheres ativas, nas múltiplas interações que provocaram as mudanças; de uma história das mulheres para se tornar uma história do gênero, insistindo nas relações entre os sexos, incluindo a masculinidade.
História das Mulheres no Brasil: alguns apontamentos historiográficos
Na obra Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia, organizada por Ciro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfas, um dos eixos temáticos é “História das Mulheres” (Soihet, 1997, pp. 275-295). O texto foi produzido pela historiadora Rachel Soihet, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF) que em 1974 defendeu dissertação de mestrado na UFF intitulada: “Bertha Lutz e a ascensão social da mulher (1919-1937)” (Soihet, 1974). Era o primeiro estudo oriundo de programa de pós-graduação na área de História, no Brasil, a se dedicar ao estudo da história das mulheres, mais precisamente, sobre a cientista e feminista Bertha Lutz e seu legado para com o acesso das mulheres à cidadania plena. Em uma entrevista concedida à Revista de História, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2011, Rachel Soihet comentou que a pesquisa de mestrado teve diversos percalços:
Meu orientador, Stanley Hilton, era especialista no período Vargas, nada conhecendo sobre História das Mulheres, feminismo e coisas similares, embora fosse sensível à relevância da temática e até me “desse força”. Dessa forma, o isolamento intelectual, as dificuldades de orientação e os subsequentes obstáculos quanto ao conhecimento da bibliografia mais recente sobre o assunto e do instrumental teórico metodológico a ser utilizado no tratamento da questão foram sérios complicadores (Soihet, entrevistada por Guerellus, 2011, p. 121).
A pesquisa de mestrado de Soihet foi publicada em formato de livro em 2006 sob título O feminismo tático de Bertha Lutz (Soihet, 2006). No doutorado, realizado na Universidade de São Paulo (USP) entre 1982 e 1986, Rachel Soihet continuou a pesquisar história das mulheres, utilizando o conceito de “Cotidiano” para dar visibilidade às mulheres pobres do Rio de Janeiro entre 1890 e 1920. O cotidiano de mulheres anônimas, tendo como fonte documental principal processos criminais, aflorou o debate sobre a condição de vítima, vivido pelas mulheres pobres e, principalmente, de compreender as estratégias de resistência cotidiana utilizadas por elas naquele contexto, questionando a visão estereotipada de que eram dominadas e passivas. A tese de doutorado, após defendida, foi publicada pela Forense Universitária em 1989, com o título Condição feminina e formas de violência: Mulheres pobres e ordem urbana – 1890-1920 (Soihet, 1989).
Durante o período de doutoramento na USP, Rachel Soihet conheceu Maria Odila Leite da Silva Dias, professora do Departamento de História da USP. Maria Odila publicou Cotidiano e poder em São Paulo no século XIX, pela Editora Brasiliense em 1984 (Dias, 1995). Esta obra trouxe impacto nas pesquisas de Rachel Soihet, mais precisamente, a escolha de processos crimes como fontes documentais. O livro de Maria Odila foi resultado de pesquisa para a tese de livre docência, na USP, utilizando uma vasta tipologia documental: processos crimes, processos civis, registros municipais, ocorrências policiais, relatos de viajantes, da literatura, dos recenseamentos. O objetivo era perceber, nas entrelinhas dos discursos, a história das mulheres, em especial, de Anna Gertrudes de Jesus, que viviam no meio urbano da cidade de São Paulo as vésperas da abolição da escravidão; de mulheres pobres, escravas e forras, sobrevivendo do artesanato caseiro e do pequeno comércio ambulante faz parte da consolidação da economia escravista de exportação e do processo concomitante, de concentração das propriedades e da renda (Ruiz;Anhezini, 2022, 439-440).
MíriamLifchitz Moreira Leite, egressa de doutoramento na USP, perseguindo o exemplo de Rachel Soihet e Maria Odila, publicou Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda de Moura, em 1984, pela Editora Ática (Leite, 1984). Maria Lacerda de Moura era educadora e, para ela, a educação era poderosa ferramenta de emancipação, não somente da mulher, como das classes oprimidas em geral. Inconformada com o papel da mulher na sociedade em 1919, fundou a Liga pela Emancipação Feminina, junto com Berta Lutz. Naquela época, a mulher não tinha direito ao voto e essa foi uma das principais bandeiras da Liga. Ao migrar para São Paulo em 1921, Maria Lacerda de Moura iniciou sua militância no movimento anarquista em defesa das classes trabalhadoras e dedicar-se à produção literária e panfletária.
Luzia Margareth Rago rememora, da seguinte forma, o primeiro contato que teve com Miriam Moreira Leite: “Miriam e eu nos encontramos numa manhã no amplo prédio da História da Universidade de São Paulo, onde ela trabalhava nessa ocasião. Logo me contemplou com muitas informações sobre a escritora anarcofeminista, cujos fascinantes livros eu também acabara de descobrir no Arquivo Edgard Leuenroth da UNICAMP” (Rago, 2013, pp. 244-245). Margareth, que cursava mestrado em História na USP, sob orientação de Edgar De Decca, além dos escritos e diálogos com Miriam Moreira Leite, também teve contato com Maria Odila e Rachel Soihet, que constam nos agradecimentos da dissertação defendida em 1984, intitulada Sem fé, sem lei, sem Rei: liberalismo e experiência anarquista na República, publicada no ano seguinte tendo por título: Do Cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar - Brasil 1890-1930 (Rago, 1985).
A obra trata do processo de construção de um projeto da cidade disciplinar no período republicano no Brasil, principalmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, que tinham no higienismo e no positivismo europeu suas principais referências, contando com a nascente burguesia industrial a partir de funcionários públicos, engenheiros e médicos. O objeto de estudo de Rago é a classe trabalhadora urbana e pobre, homens, mulheres, crianças e idosos; de como eles resistiram a esse processo de higienização e modernização. No capítulo dois, “A colonização da mulher”, Rago, explicita as medidas e o pensamento dos grupos dominantes, que tentavam impor e difundir gestos e uma cultura para as mulheres, julgando aquelas que não escolhiam uma vida próxima ao lar como males sociais e portadoras de doenças mentais. Traz para o debate como a reverberação desse pensamento era apresentado nos ambientes operários que, por vezes, viam as mulheres supostamente responsáveis pelo lar e pela família como verdadeiras representantes da revolução, na medida em que Rago apresenta algumas militantes que contrapunham-se a esses poderes através de suas práticas, falando e argumentando nos círculos operários e anarquistas seu valor como revolucionárias e participando ativamente nas greves e manifestações (Rago, 1985).
Resultado de tese de doutorado na USP, Margareth Rago publicou Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo – 1890-1930, pela Editora Paz e Terra (Rago, 1991). Tendo como apoio teórico os escritos de Michel Foucault sobre sexualidade, Margareth Rago aprofundou análise da modernização urbana de São Paulo, reflexo da expansão da economia cafeeira. No conjunto das transformações, a prostituição não ficou ilesa. O discurso médico, junto a outros formulados por criminalistas, literatos, jornalistas, entre outros, foram objetos de estudados para evidenciar o cotidiano do alto e baixo meretrícios, com ênfase a suas diferenças e ao posicionamento diverso que assumiram as autoridades frente a um e outro, inclusive sobre o tráfico internacional de mulheres (Rago, 1991).
Não menos importante foi a publicação de Meretrizes e Doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro (1840-1890), pela historiadora Magali Gouveia Engel, no ano de 1989 (Engel, 1989). Esta obra foi resultado de pesquisa de mestrado em História, na Universidade Federal Fluminense (UFF), defendida em 1985, sob orientação de Margarida de Souza Neves. A exemplo dos estudos de Rago sobre prostituição e história das mulheres, o estudo de Magali Engel tendo como foco a cidade do Rio de Janeiro, de meados ao final do século XIX, trouxe para o debate como o saber médico busca legitimidade e se consolidar como outra instância do poder na sociedade carioca, isto é: “primeiros disseminadores de um projeto de normalização do espaço social urbano”, sobre homens, mulheres e crianças. A prostituição e o próprio sexo surgiram como doença (física e moral), a ser desvendada e controlada para “eliminar” uma prática que rompia com o comportamento socialmente esperado da mulher, com os papéis normativos tradicionais, de mãe e de esposa (Engel, 1989).
Mulheres Honestas e Mulheres Faladas: uma questão de classe. Papéis Sociais femininos na sociedade de Desterro/Florianópolis (1880-1920), de Joana Maria Pedro, resultado de pesquisa de doutorado em História na USP, sob orientação de Maria Odila da Silva Dias foi defendida em 1992 e publicada pela Editora da UFSC em 1994 (Pedro, 1994). Seguindo a mesma linha de pesquisa de Maria Odila, este estudo de História Social teve foco na imagem feminina divulgada em jornais masculinos ligados a partidos políticos, entre os anos de 1880 e 1923. Também fez uso de processos crimes, relatórios de polícia para fazer o contraponto aos documentos da imprensa local. A partir da análise desta tipologia documental, Joana Maria Pedro explicitou as distinções e diferenciações entre as elites e o restante da população pobre de Florianópolis e da ilha do Desterro. E, sobre as mulheres das camadas populares e pobres, aumentaram os mecanismos de controle e fiscalização pelo poder público, visando impedir a livre circulação delas nas áreas centrais da cidade. Joana Pedro mostra, também, formas de resistências levadas a cabo pelas mulheres que mantinham formas de trabalho formal e informal (Pedro, 1994).
Pelo que abordamos até aqui, percebemos que a organização de movimentos sociais feministas e homossexuais, com o arrefecimento da Ditadura Militar e nos debates em torno da construção da nova constituição federal na Assembleia Nacional Constituinte, encontrou terreno fértil para o surgimento, ampliação e consolidação do sistema de pós-graduação (mestrados e doutorados) em várias regiões do Brasil. Na área de História, as pesquisas sobre História das Mulheres, de gênero e da sexualidade, começaram a ser defendidas e publicadas a partir do início da década de 1980. Destacamos acima o pioneirismo de Maria Odila, Rachel Soihet, Miriam Moreira Leite, Margareth Rago, Magali Engel e Joana Maria Pedro. Poderíamos avançar para outras historiadoras que, a exemplo destas, também deram contribuição significativa aos estudos sobre história das mulheres, como: Maria Izilda de Santos Matos (Matos, 2000), Eni Mesquita Samara (Samara, 1989), Mary Del Priore (Priore, 1997; 2008; 2011), Lana Lage da Gama Lima (Lima, 1986; 1987; 2011), Martha Campos Abreu (Abreu, 1989; 1996), Carla BassaneziPinsky (Bassanezi, 1992; 1993; 1995; Pinsky, 2007), Ana Maria Colling (1997; 2019), Marlene de Faveri (Faveri, 2004), entre outras. Em torno delas nasceram linhas de pesquisas dentro de Programas de Pós-Graduação, grupos de estudos e pesquisas (sobre mulheres, feminismos, sexualidades, gênero, relações de gênero) revistas especializadas, dossiês temáticos e eventos científicos temáticos (simpósios, seminários, congressos) que, além de publicizar as pesquisas mais recentes, trouxeram alguns expoentes dos estudos sobre mulheres, reconhecidos internacionalmente, apresentando novos temas, abordagens e fontes de pesquisas.
Em fins da década de 1990, o volume de pesquisas sobre a história das mulheres possibilitou o surgimento da obra História das Mulheres no Brasil (Priore;Pinsky, 1997), publicada em 1997, sob organização de Mary Del Priore e Carla BassaneziPinsky, além de Nova História das Mulheres no Brasil (Pinsky; Pedro, 2012), publicada em 2012, sob organização de Carla BassaneziPisnky e Joana Maria Pedro. Ambas as obras foram resultado de um projeto editorial e de cunho político, comprometido com as causas das mulheres, reunindo uma diversidade e pluralidade dos lugares de falas de quem produziu ou foi objeto de pesquisa e escrita sobre mulheres no Brasil. São, na atualidade, duas grandes referências de pesquisas, junto com o Dicionário Crítico de Gênero (Colling;Tedeschi, 2015), organizado por Ana Maria Colling e LosandroAntonioTedeschi, publicado em 2015. Os aportes teóricos, ao longo dos anos, foram discutidos de forma mais profunda, resultando em artigos com densidade do debate e síntese das correntes de pensamento em diferentes países (ver Pedro, 2005; Rago, 1998; Soihet; Pedro, 2007).
No Paraná, as pesquisas em História das Mulheres foram iniciadas pela historiadora Oksana Olga Boruzenko, que dedicou a sua carreira acadêmica nos estudos sobre a história da imigração Ucraniana para o Brasil, com recorte para o Paraná. Entre as temáticas de pesquisa de Oksana estavam as mulheres e as crianças. Outra grande referência no estudo da história das mulheres no Paraná é Ana Paula Vosne Martins que, em 1987, produziu e defendeu um trabalho de conclusão de curso de graduação em História, na UFPR intitulado: Mulheres, luta e poder: as organizações de mulheres em Curitiba (Martins, 1987), sob orientação da professora Maria Inês Mancini de Boni. No ano seguinte, Ana Paula ingressou no mestrado em História da UFPR, defendendo, em 1992, dissertação intitulada Um lar em terra estranha: a aventura da individualização feminina. A Casa da Estudante Universitária de Curitiba nas décadas de 1950 e 60 (Martins, 2002), sob orientação de Carlos Roberto Antunes dos Santos. No doutorado, na Unicamp, Ana Paula Vosne Martins defendeu tese sobre A medicina da mulher: visões do feminino na constituição da obstetrícia e da ginecologia no século XIX, defendida no ano 2000 (Martins, 2004). Mais recentemente, Ana Paula Vosne Martins publicou uma obra de grande fôlego, intitulada Faces femininas do conservadorismo: filantropas e feministas brasileiras no começo do século XX (Martins, 2023), em que dedicou-se, por quase uma década, ao estudo da trajetória de Mary Sayão Pessoa, Stella de Faro, Eugenia Dutra Hamann, Jeronyma Mesquita e Alice Tibiriça, mulheres da elite, atuantes e partícipes de um movimento de feminização da filantropia em diferentes regiões do Brasil.
Não menos importante foi a pesquisa desenvolvida por Etelvina Maria de Castro Trindade que, em 1992, defendeu na USP a dissertação intituladaClotildes ou Marias: mulheres de Curitiba na Primeira República (Trindade, 1996) publicada pela Fundação Cultural de Curitiba em 1996. Neste mesmo ano, Roseli Terezinha Boschilia defendeu Entre fitas, bolachas e caixas de fósforos: a mulher no espaço fabril curitibano (1940-1960), publicado no formato de livro em 2010 (Boschilia, 2010). Mulheres na História – Paraná, séculos 19 e 20 (Martins; Trindade, 1997), foi a primeira coletânea de textos organizada pelas pesquisadoras Etelvina Maria de Castro Trindade e Ana Paula Vosne Martins, no ano de 1997, publicada pela Editora UFPR, apresentando algumas pesquisas desenvolvidas sobre História das Mulheres no Paraná. Em 2020, GeorgianeGarabelyHeil Vásquez organizou a obra Nova História das Mulheres no Paraná (Vásquez, 2020), publicada em formato eletrônico, pela Editora Fi. Além de fazer uma homenagem à trajetória de pesquisa e orientações de mestrado e doutorado em História, com foco nos estudos sobre mulheres por Etelvina Trindade e Ana Paula Vosne Martins, Georgiane traz oito produções acadêmicas recentes sobre mulheres no Paraná.
Estas duas coletâneas, dentre outras publicadas na área de História, com temáticas mais amplas ou interdisciplinares, somente foram possíveis de serem constituídas pelo fato de, sobretudo nos anos iniciais do século XXI, surgirem Programas de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) na área de História em Universidades Estaduais do Paraná. Realizamos uma pesquisa nos repositórios institucionais de dissertações e teses dos Programas de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Universidade Estadual Paranaense (Unespar), Universidade de Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Utilizamos, para isso, a palavra “Mulheres”, como filtro nos repositórios de dissertações e teses. Vejamos a Tabela 01, abaixo:
Tabela 1: Dissertações e Teses sobre Mulheres nos repositórios digitais dos PPGHs do Paraná
|
PPGH/Universidade |
Dissertações |
Teses |
|
PPGH/UFPR* |
24 |
21 |
|
PPGH/UEPG |
9 |
- |
|
PPGH/Unicentro (Guarapuava e Irati) |
24 |
- |
|
PPGH/UEL |
12 |
- |
|
PPGH/UEM |
10 |
4 |
|
PPGH/Unespar |
6 |
- |
|
PPGH/Unioeste |
9 |
1 |
|
PPGH/Unila |
2 |
- |
|
Total |
96 |
26 |
* No repositório institucional de dissertações e teses da UFPR estão cadastradas e digitalizadas as pesquisas realizadas a partir do ano 2006. Nos demais PPGHs, as dissertações e teses estão cadastradas em sua integralidade, mas há casos em que não é possível realizar o download (bloqueio a pedido do autor).
Fonte: Repositórios Institucionais de teses e dissertações da UFPR, UEL, UEM, UEPG, Unicentro, Unioeste, Unespar e Unila. Acesso em 12/11/2023.
As noventa e seis dissertações e vinte e seis teses de doutorado nos permitem apontar que a história das mulheres e, por extensão, a temática do feminismo, gênero e relações de gênero, tem sido tema relevante da pesquisa acadêmica na área de História, também no Paraná, ainda que deste montante, em torno de 20% das pesquisas acadêmicas não possuam como recorte espacial o Estado Paraná. Em quase todos os PPGHs há professores(as) e pesquisadores(as) que possuem trajetória acadêmica atrelados a Laboratórios e Grupo de Estudos e Pesquisas em História das Mulheres e Gênero. Destacamos, aqui, alguns nomes: Ana Paula Vosne Martins, Roseli Terezinha Boschilia, GeorgianeGarabelyHeil Vásquez, Ana Maria Rufino Gillies, Rosemeri Moreira, Carla Cristina NackeConradi, YonissaMarmittWadi, Claudia Priori, Ivana Guilherme Simili e Endrica Geraldo.
Considerações Finais
A escrita da história das mulheres não se fez sem romper tradições, dentro e fora da academia. No Ocidente, no Brasil e no Paraná os estudos avançaram e ganharam visibilidade pelo apoio e vínculo de muitas historiadoras aos movimentos feministas, docentes ou pesquisadoras vinculadas aos programas de Pós-Graduação em História. Os debates em torno do feminismo e das relações de Gênero, aos poucos e ao longo dos anos, por essas historiadoras (e poucos historiadores) legaram aos leitores e estudiosos da história, livros e artigos de significativo valor acadêmico, evidenciando os caminhos metodológicos e de fontes documentais que poderiam dar visibilidade à história das mulheres. Não menos importante foram os escritos de Joan Scott, Judith Butler, Michelle Perrot e tantas outras historiadoras estadunidenses e francesas, que acabaram por dar densidade teórica aos conceitos de Gênero, Relações de Gênero e Feminismo.
Percebemos, também, o quão difícil foi incluir as historiadoras no rol de historiadores a serem considerados exemplos, referências no que se refere à escrita da história, pelo viés teórico e metodológico nas obras que descrevem os perfis biográficos e a contribuição dos pensadores para a área de História. No caso brasileiro, foi necessário reunir historiadoras para produzir uma obra (em dois volumes) para dar visibilidade às historiadoras que, desde a década de 1960, procuravam, ao seu modo, estudar a trajetória de mulheres em distintas circunstâncias. A escrita da história do cotidiano e da vida privada, por sua vez, favoreceram o surgimento de novos olhares sobre as mulheres, ampliando o número de pessoas interessadas em estudá-las por diferentes prismas, fazendo surgir grupos de estudos, pesquisas e centros de documentação.
Os grupos de estudos e de pesquisas atrelados aos programas de Pós-Graduação, Brasil afora, tem dado continuidade ao debate teórico, metodológico, bem como a busca incessante por novos acervos documentais, públicos e privados, com ou sem apoio de órgãos de fomento à pesquisa cientifica por parte de órgãos governamentais, organizações não governamentais, e fundações estaduais de apoio a pesquisa, eventos e publicações de resultados no formato de livro ou revistas científicas.
Agradecimentos
Agradecemos à Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), que via Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), concedeu cota de Bolsa UFFS de Mestrado para a realização da pesquisa. Também agradecemos à Capes pelo acesso, mesmo por alguns meses, de Bolsa DS/Capes, de Mestrado.
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[1]Mestre em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul (PPGH-UFFS). Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná. Brasil. E-mail: fernanda-jdw@hotmail.com| https://orcid.org/0009-0002-3100-0022