Nem todas as maçãs são iguais: a escrita das frutas em Henry David Thoreau e Georges Delbard (1862 e 1986)

Not all apples are the same: fruit writing in Henry David Thoreau, and Georges Delbard (1862, and 1986)

                                                                                               Jó Klanovicz[1]

 

 


Resumo

Neste artigo, o objeto são duas produções culturais que estão separadas no tempo e no espaço, entre século XIX e século XX, que abordam narrativas de convivialidade com a maçã: Wild Apples, de Henry David Thoreau (1862) e Jardinier du Monde, de Georges Delbard (1986). A proposta de articulação das duas fontes é pautar alguns conceitos e leituras possíveis em torno de uma história ambiental que dialoga muito com os estudos ecocríticos e com os estudos críticos de plantas. Entende-se, nesse sentido, a escrita de Thoreau como uma perspectiva anticolonial, enquanto que a de Delbard, para além da vivência técnica em projetos modernizadores de fruticultura, caracteriza-se como uma escrita colonialista.

Palavras-chave: Maçã; História ambiental; Estudos críticos de plantas; Plantocracia.

Abstract

In this article, the object are two cultural productions that are separated in time and space, between the 19th and the 20th century, which address narratives of conviviality with apples: Wild Apples, by Henry David Thoreau (1862), and Jardinier du Monde, by Georges Delbard (1986). The proposal to link the two sources is to guide some concepts and possible readings around an environmental history that dialogues a lot with ecocritical studies and critical studies of plants. In this sense, Thoreau's writing is understood as an anti-colonial perspective, while Delbard's, in addition to technical experience in fruit-growing modernizing projects, is characterized as a colonialist writing.

Keywords: Apple; Environmental history; Plant critical studies; Plantocracy.


 

 

 

 

Introdução

 

Em 1862, o então já reconhecido escritor estadunidense Henry David Thoreau escreveu um dos seus últimos textos, Wild Apples (Maçãs Silvestres). O ensaio foi publicado no mesmo ano na revista Atlantic Monthly (THOREAU, 1862). No ano seguinte, foi republicado com comentários de Ralph Emerson e, daí por diante, foi ocupando diferentes compilações. Ao intercalar filosofia, botânica e política com muita erudição, Thoreau queria, por meio da centralidade narrativa na maçã, discutir resistências contra as mudanças que o capitalismo e as estradas de ferro promoviam nos ambientes rural e urbano dos EUA, bem como enfatizar o caráter anticolonial da nação. Com isso, comparava a vivacidade, os espinhos e o perfume das “maçãs silvestres” ou “indígenas” ou “selvagens”, a um ideal de nação jovem que, segundo ele, precisava se desligar do passado europeu.

Um século depois, outro autor, Georges Delbard, viveirista politicamente muito bem-posicionado nas estruturas de poder da França do pós-guerra e com interesses comerciais globais escreveu a obra Jardinier du Monde (Jardineiro do Mundo). Nela, Delbard deu ênfase a uma maçã diferente daquela exaltada por Thoreau. O ‘jardineiro’ falava de uma fruta docilizada, racionalizada, voltada a um capitalismo vegetal de dimensões globais, especialmente se comprada de seu viveiro, a Pepinières Delbard.

Frente ao caráter anticolonial da escrita de Thoreau, o texto de Delbard era incômodo, de caráter colonial sobre plantas e tecnologias. Delbard foi responsável por introduzir, no Brasil, o cultivo das maçãs da variedade Gala e Fuji, e, em paralelo ao desenvolvimento tecnológico dos pomares que iam invadindo antigas áreas de Mata Atlântica, um caráter colonialista, amparado em uma tradição imperial de jardinagem.

O elogio às macieiras selvagens de Thoreau e a ode à monocultura de Delbard compõem um quadro de diferentes “agoras”, de diferentes sensibilidades em torno da modernização das paisagens. Isso permite aproximar textualidades sobre maçãs, deixando deslizar noções sobre humanos e não humanos (principalmente na convivência com árvores frutíferas silvestres e domésticas) para outras arenas, como a política, a ciência, a ética e a estética.

Thoreau e Delbard permitem redimensionar interpretações sobre plantações modernas no sul do Brasil, escapando das visões sociopolíticas da agricultura, que deixaram em segundo plano outras relações. Em um momento desafiador no qual pomares de macieira começam a ter de ‘migrar’ para regiões mais altas e mais frias em virtude das mudanças climáticas, Maçãs Silvestres e Jardinier du Monde permitem questionar os limites da tecnologia e da agronomia na ecorregião da Mata Atlântica no sul do Brasil. A contemporaneidade desses textos reside no reconhecimento de posturas nuançadas de colonialidade, anticolonialidade e distintas existências vegetais-humanas. Wild Apples é marcadamente anticolonial e Jardinier du Monde ecoa um colonialismo botânico de uma agrícola à francesa; são nuances que giram em torno de períodos de modernização de um regime de plantocracia global.

O etógrafo Thoreau descreve a vida de macieiras que têm repercussão nas relações de poder, que habitam as maçãs domésticas de um regime bio-histórico de sujeição do ambiente para seu cultivo no sul do Brasil um século mais tarde. Não é forçoso que Maçãs Silvestres possa ser lido como uma etografia anticolonial, antiplantocrática e que Jardinier du Monde possa ser interpretado como um livro ainda colonial, pró-plantocrático.

A proposta de articulação das duas fontes é pautar alguns conceitos e leituras em torno de uma história de convivialidade com plantas que dialoga muito com os estudos ecocríticos e com os estudos críticos de plantas. Entende-se, nesse sentido, a escrita de Thoreau como uma perspectiva anticolonial, enquanto a de Delbard, para além da vivência técnica em projetos modernizadores de fruticultura, caracteriza-se como uma escrita colonialista.[2] É importante considerar, antes da leitura, os limites e possibilidades das fontes que estão sendo utilizadas para este artigo. Estou entendendo que, produzidas em diferentes épocas e espaços, com finalidades específicas, há uma profunda dimensão ligada à imaginação ambiental dos lugares que as macieiras ocupam na sua relação com projetos e intenções humanas quando comparo Thoreau e Delbard. Ambos os textos estão sendo considerados “ambientais” no sentido de arregimentar posturas éticas em torno da convivialidade de humanos com outros seres e proporcionar, a partir disso, chaves discursivas sobre diferentes e historicamente constituídas relações entre humanos e mundo natural (BUELL, 1995). Wild Apples aparece no artigo a partir de uma tradução comentada que está no prelo e que tem por base o texto originalmente publicado em 1862 (ver Eggensperger, 2021, nas referências, além de Thoreau, 1862).

 

Experimentando diferentes conceitos para ler a convivialidade com plantas

Um século separa as maçãs de Thoreau e de Delbard. Um século separa a defesa da força, da rusticidade e da resistência da maçã silvestre em meio à modernização agrícola e às ferrovias nos EUA, e a racionalidade e ‘superioridade da tradição francesa’ que força quimicamente a produção da maçã exótica, de clima temperado, dócil, no sul do Brasil. O quadro de encontros e desencontros desses dois acontecimentos literários é nutrido pela agência histórica das plantas. São elas que inscreveram as condições fundamentais de sua presença física, material, nas paisagens em que cresceram e se desenvolveram e que permitiram a escrita de suas vidas civis. Os humanos Thoreau e Delbard, cada um a seu modo, emprestaram suas vozes e textos à narração das vidas de outros seres e tecem diferentes convivialidades com elas.

            De um lado, Delbard oferece um futuro agronomicamente viável para a maçã moderna, em época na qual áreas de conhecimento como Botânica, Agronomia, Química, Biologia e Geografia estão muito bem delimitadas, na segunda metade do século XX. Do outro, Thoreau sabe que um capitalismo vegetal estava se formando e consolidando com as ferrovias nos EUA e lembrava que árvores nativas são mundos de outros encontros de humanos e não humanos, em momento em que a especulação da natureza ainda era tateante. Ele lembra das maçãs pequenas, de múltiplas cores e consistências, que ditam o momento em que poderão ser colhidas, não se dobrando às técnicas da pomicultura com facilidade. No centro dessa gangorra, problemas e dilemas de dois mundos (pós)coloniais que ainda têm de tratar de natureza e poder a partir da plantocracia como um eco do mundo colonial.

O naturalista Thoreau está interessado na escrita da vida de seres humanos e não humanos no encontro com a vida das macieiras silvestres, e registra essas convivialidades por meio de um texto que tem intenção literária. Narrativas como a dele podem ser consideradas como ‘etográficas’ no sentido proposto por Thom van Dooren e Deborah Rose (2016): permitem aproximar tempos de diferentes seres e fenômenos, buscando superar o antropocentrismo da escrita da história.

É especialmente por considerar que Maçãs Silvestres ou Jardinier du Monde apresentam orientações específicas com relação ao mundo natural que podemos ler árvores nativas e frutas silvestres ora como resistências políticas a tempos de modernização, ou frutas domésticas como exemplos de docilidade e submissão. Não se pode descuidar, também, dos comportamentos embutidos nessas leituras: um que estabelece convivência pouco hierárquica com as plantas e outro que direciona um olhar profundamente autoritário sobre elas.

Frente aos problemas de um capitalismo técnico-vegetal que parece metabolizar as próprias crises na terra, praticamente plantando lucros à custa de vidas outras, características como rusticidade de plantas silvestres e nativas têm-se apresentado à esfera do consumo consciente ou da resistência ao consumo, de diversos lados, como alternativas para um futuro ambientalmente possível.

Essa perspectiva tem se tornado cada vez mais difundida tanto a partir do caráter crítico dos insucessos, problemas e dilemas da primeira e segunda fases da Revolução Verde, na segunda metade do século 20, mas também a partir das proposições filosóficas que emergiram da guinada animal nas ciências humanas, no limiar do século 21 (van DOOREN; ROSE, 2016, p. 79).

Giovanni Aloi (2018, p. 11) propõe voltarmos a olhar para as plantas, o que significa aproveitarmos polinizações cruzadas de campos disciplinares, artísticos e indisciplinares na tentativa de redefinir, reapresentar nossas relações com elas. A reflexão em torno de plantas ganhou fôlego a partir de textos como o de Michael Marder (2013), que começou a chamar a atenção para a necessidade de pensarmos sobre as violências perpetradas sobre plantas a partir de lógicas semelhantes às que são aplicadas a espécies animais. As novas tecnologias que têm demonstrado que indivíduos de algumas espécies de plantas se comunicam entre si usando sistemas radiculares, que plantas sob ataque de parasitas podem emitir sinais bioquímicos capazes de atrair insetos companheiros, abrem, conforme pontua Aloi (2018, p. 15), um caminho desafiador e possível para a renovação de reflexões sobre a história de vivência humana com elas.

Maçãs ou outras frutas, silvestres ou não, miradas a partir dessas considerações sem deixar de serem contextualizadas, apresentam uma bifurcação estruturante: são fenômenos percebidos a partir de quem escreve e no fluxo temporal de outros tantos fenômenos e acontecimentos. Não humanos que constroem história, na medida em que seres humanos ajustam-se a eles ou os integram, respondendo ou antecipando-se, nutrindo expectativas que podem não ser controladas pela cultura. Os “registros málicos” de Delbard e Thoreau estão na órbita humana, mas a forma de sucessão e de expectativa do tempo faz com que seres humanos estejam continuamente confrontados com as experiências desses outros (no caso das nossas maçãs, de histórias outras) (LECAIN, 2016). Aloi (2018) observa, assim, que os estudos de plantas recentemente têm permitido retomar textos e polemizá-los a partir da construção de perspectivas não conformistas (e até incômodas) com relação às formas consagradas de interpretação da relação entre seres humanos e não humanos desde a segunda metade do século 19, especialmente porque a condição atual do conhecimento não impõe mais constrangimentos à provisoriedade, à relatividade e à autocrítica das áreas científicas.

Nas relações de humanos e não humanos, a história do planeta foi sendo construída como a da superação da caça e da coleta pela agricultura, mimetismo da natureza, e pela evolução das práticas agrícolas (MAZOYER; ROUDART, 2010). Plantas tornaram-se objetificadas nessas leituras, valorizadas por sua utilidade e justificadas por explanações que vão do mundo religioso ao científico. Nos deslocamentos contemporâneos, a objetificação de plantas precisa ser reconsiderada. Para Bruno Latour (2001) e Donna Haraway (2003), isso implica construir histórias-gaia. Aloi (2018) observa que à medida que as ciências agrícolas vão avançando na leitura de processos biológicos, químicos e físicos, já se sabe que plantas entrelaçam e trocam informações por meio de raízes ou liberam processos bioquímicos quando atacadas por algum fungo ou praga para atrair companheiros como pássaros para ajudar em sua sobrevivência.

Thoreau e Delbard não estavam construindo interpretações sobre a maçã em um momento científico com possibilidades como as expostas por Aloi (2018), mas partem de uma leitura sobre mundo que os posiciona em regimes plantocráticos, que os aproximavam de paisagens nas quais árvores e frutas tinham profunda importância social, política, econômica e até moral.

A noção de plantocracia é frequentemente acionada por estudos do mundo colonial e dos sistemas de plantation. Robert Bird (2007) denomina de plantocrata uma forte elite de proprietários de terras agricultáveis que, a exemplo do que aconteceu na Jamaica do século 18, dominou as vidas social, econômica e política de várias sociedades coloniais. O sentido da plantocracia era ocupar as melhores terras, garantir a manutenção de sistemas de escravização e manter a pressão pela sua perpetuação e sucesso submetendo todas as outras atividades comerciais e econômicas aos seus interesses. O sistema plantocrata, dessa forma, construiu lobbies políticos, econômicos e morais, o que mostra que o capitalismo nascente era bem mais complexo do que o simples fluxo de recursos entre colônias e metrópoles. Uma característica fundamental desse regime de poder era uma ideologia racial que estava combinada e era reforçada na lucratividade das plantações. Cana de açúcar, tabaco, café, algodão e, mais tarde, frutas tropicais ou de clima temperado passaram a habitar o sistema, e as discussões morais que embalavam o passar dos anos das elites plantocratas passaram a exercer algumas pressões em torno da liberdade de populações escravizadas ou ainda sua autonomia (BURNAD; GARRIGUS, 2016).

A plantocracia conseguiu ainda se acomodar às demandas apresentadas por processos políticos e culturais amplos como a Revolução Americana, não sem ter sentido tensões, especialmente nas regiões marginais de domínio colonial, como é o caso das Antilhas (BURNAD; GARRIGUS, 2016, p. 98). Mas para algumas vertentes do iluminismo americano, a perspectiva de construção da nova sociedade pós-colonial dos Estados Unidos da América do final do século 18, uma ruralidade diferente fazia-se necessária, para materializar os valores e virtudes da liberdade, da civilidade e de um caráter indômito da personalidade de um novo cidadão não vinculado à Europa (MARX, 2000). Não havia, contudo, um consenso sobre o papel do progresso, da tecnologia ou até mesmo do capitalismo nesses grupos intelectuais.

Para alguns, um futuro urbano e industrial representaria melhor a república emergente; para outros, um campo pastoral em que pessoas vivessem em pequenas comunidades significaria uma nação virtuosa. Entre elas, floresciam as opiniões na forma de textos que dialogavam diretamente com as novas configurações das ciências rapidamente cambiantes ao longo do século 19, principalmente em virtude da chegada e permanência de naturalistas como André Louis Agassiz ou Alexander von Humboldt. Literatura e Ciência fundiam-se na construção de narrativas sobre humanos e não humanos, em uma etografia provocativa. Humboldt é especialmente influente nesse sentido, na medida em que sugeriu que a incorporação da dimensão estética na narrativa científica era fundamental e não poderia ser substituída por amostras coletadas (KURY, 2001).

Van Dooren e Rose, ao pensar história como escrita etográfica na década de 2010, observam que um mundo mais que humano formado por fauna e flora em movimento e transformação está repleto de agências, e de tempos que ora aproximam-se, ora afastam-se de humanos e outros viventes, clima, água, rochas, ou determinados processos biogeoquímicos. Existe um tempo humano, comumente marcado, no Antropoceno, e mais especificamente a partir do mundo colonial, pela redução e simplificação dos fenômenos circundantes. Esse tempo eminentemente moderno é violento, e quer suplantar e invisibilizar outros tempos da natureza.

Se aplicarmos essa leitura de tempo moderno ao mundo do trabalho das serrarias e do corte de araucária no sul do Brasil na primeira metade do século 20, podemos ter uma visão clara de como ele opera quando corta (mata, estanca, apaga) uma árvore. A árvore derrubada, por sua vez, apresentava uma história de outros tempos, um cíclico, marcado pela passagem da vida da planta pelas estações, pela produção de frutos (as pinhas) e pelo seu desenvolvimento orgânico e fotossíntese. Por fim, há um tempo de encontro com outras espécies que também fazem parte de sua história, como é o caso sempre lembrado da gralha-azul, mas também do papagaio-do-peito-roxo ou do serelepe (em suas funções de semeadoura), ou ainda a vida de outros seres da fauna e da flora. São tempos vividos que podem ser narrados não por elas, mas pelos humanos que lhe podem dar fala por meio da observação de sua sociológica, podem revelar sua idade por meio da dendrocronologia ou ainda perceber fatos que dizem respeito aos próprios humanos.

Os jardins, os bosques, as florestas ou suas interpretações menos grandiosas e valorativas, como é o caso do ‘mato’, constituem, na perspectiva de uma etografia inspirada em Rose (2018) mas que chega rapidamente em Thoreau, verdadeiros arquivos de experiências coloniais (pré-pós-anti), carregando suas marcas físicas, espirituais, ideológicas. São as fontes para a escrita de histórias que Thoreau soube aproveitar de maneira genuína como em Maçãs Silvestres.

 

Wild Apples e uma escrita anticolonial

Thoreau foi elevado a ícone de um proto-ambientalismo depois de sua morte (BUELL, 1995, p. 235). Daegan Miller (2018) observa que a consagração do escritor aconteceu de várias formas e a partir de diferentes intérpretes. Para ele, o Thoreau pastoral foi complexificado por Leo Marx nos anos 1960; o historiador Roderick Nash o descreveu como ‘filósofo da wilderness’; já William Cronon relativizou o heroico escritor de Concord, descrevendo-o também como um ideólogo; Donald Worster lembrou de sua importância como um proto-ecologista. Grande parte da leitura que tem sido realizada sobre o autor reside em duas obras distintas, Walden e Resistance to Civil Government. No Brasil, mais recentemente Thoreau tem sido pensado a partir das implicações de Walden em termos biopolíticos, percorrendo a vinculação do autor com correntes idealistas e românticas sobre a natureza (SILVA; CRUZ, 2020).

Há muitas faces em Thoreau e elas relacionam-se com uma geração de escritores que convivia com os sucessos e avanços da história natural, e buscavam acomodar formas precedentes de escrita, que foram sendo motivo de inspiração ou até modelos. No mundo da literatura não ficcional da primeira metade do século 19 nos EUA, esses textos, que incluíam as histórias naturais propriamente ditas, estavam também diluídos em almanaque literários, sermões naturalistas desenhados do ponto de vista do encontro entre religião e naturalismo filosófico ou em textos biorregionais (THAYER, 2003).

Lawrence Buell (1995), ao analisar a obra de Thoreau, lembra que um dos professores de Literatura do autor de Concord, Higginson, havia notado que o autor tinha “olhos infalíveis” para a história natural (p. 416). Na companhia de Walt Whitman ou Nathaniel Hawthorne, Thoreau, que tinha como mentor Ralph Emerson, compunha um quadro fundamental de construção da americanidade a partir do autoconhecimento individual e nacional da ‘terra’ e de uma natureza idealizada e desejada. A articulação do Movimento Transcendentalista acabaria tendo reflexos profundos na produção literária dos EUA.

Dulce Porto Rodrigues (2019) observa que o Transcendentalismo apresentava doutrinas personalizadas imbuídas de uma determinada perspectiva de democracia naturalizada. Walt Whitman, por exemplo, personalizava a doutrina da autoexpressão; Emerson, a autossuficiência e, finalmente, Thoreau, a autodescoberta. Essas versões do pensamento democrático encontravam materialidade em algumas paisagens americanas consideradas a partir da amplidão, impetuosidade e selvageria, abundância, intensa diversidade e vitalidade — todas elas metáforas para o demos, a vasta multidão de pessoas em uma nação que crescia rapidamente (JOHNSON, 2019).

O apego à terra, de Whitman, aproximava-se da noção biorregionalizada de espaço de Thoreau, construindo a perspectiva da beleza da terra como beleza de caráter e modelo de cidadania. Complexos biológicos, no âmbito do Transcendentalismo, habitavam a poesia e a prosa, e o bios estava ligado às experiências humanas, presas ao solo, aos nutrientes, aos ciclos de nascimento, crescimento, amadurecimento, morte e decomposição. Nesse sentido é possível pensar, mesmo, que Thoreau, mais do que uma vida no sentido humano, ao adotar um profundo enraizamento em Concord, teve uma vida vegetal, como uma árvore.

Wild Apples é um desses escritos que surgem com um Thoreau pós-Walden, radical na percepção em torno da convivência entre humanos e não humanos. Antes das diferentes relações que as ciências têm tecido com as plantas, Thoreau ensaia uma visão sobre a historicidade apresentada pelas macieiras, pelas sociológicas multicêntricas da espécie, pela domesticidade incorporada à vida humana desde tempos imemoriais. Com o desenvolvimento da escrita, as pomáceas começaram a habitar registros que vão da mitologia e religiosidade à ciência e à filosofia. Não é gratuita a apreciação de Thoreau sobre o tema das origens da maçã logo no início, considerando observações de cientistas modernos, mas também fazendo menção a autores da antiguidade clássica e a textos orientais.

Como observou a linguista Denise Witzel (2012), essas frutas [maçãs] são continuamente apropriadas, [povoando] as narrativas da mulher-mãe-desobediente, Eva, as culturas judaica, cristã e muçulmana. Para ela, “o fruto da árvore da ciência do bem e do mal, presente na cultura ocidental a partir de contínuas traduções e apropriações do Velho Testamento, foi constituindo o enunciado ‘maçã’, marcado por sentidos que vão da beleza à destruição, pecado, vida, morte e maravilhamento” (WITZEL, 2012, p. 204).

Do ponto de vista biológico e do encontro entre sua ecologia e a economia, passaram desde o século 19 a deixar de habitar os pomares domésticos que marcavam a simplicidade das coisas do mundo e a autossuficiência de famílias para fazer parte de cada vez mais complexas cadeias de produção. A maçã tornou-se uma das principais commodities agrícolas contemporâneas, ou ainda dos exercícios de expansão de sua ecologia e retrações contemporâneas de pomares em meio às mudanças climáticas. Nos milhões de anos que aproximam essas rosáceas de outros seres, seu encontro vegetal com o homo sapiens foi se tornando uma negociação que ainda continua na forma de mutações, de consumo, de regimes de domesticidade e de limitações ambientais que bem poderiam ser argumentos para dizer que poderíamos construir parte significativa da história humana a partir da história dessas árvores macieiras, posicionadas entre as selvagens, as domésticas, as abandonadas ou ainda as abstratas.

Ao ser uma espécie de muitas variedades com diferentes trajetórias paralelas e relacionadas à história humana, a macieira foi acontecendo, inclusive e de maneira especial para Thoreau que, em meio ao alastramento das batalhas da Guerra Civil (1861-1865), busca nas maçãs asselvajadas ou introduzidas no novo mundo apoio para discutir a identidade nacional que estava sob disputa entre norte e sul dos EUA. Para ele, a complexidade das maçãs, as europeias, as do novo mundo, compõem o chão de uma cultura da paz. A maçã, com a oliveira, seria um símbolo da paz. Essa perspectiva quase devocional pela maçã faz com que o autor dê espaço tanto para as árvores migrantes da Europa para a América do Norte, apreciadas, mas nem tanto, por ele, como também para as nativas que eram o cerne de seu texto.

A partir das especulações de homens de ciência de sua época, pontuava que “a maçã surgiu pouco antes do aparecimento dos humanos no planeta”, desenhando um companheirismo que teria implicações e sentidos diversos. Ele lembrava que a raiz do nome da fruta significava, em muitas línguas, fruta em geral.

Ao abrigar uma descrição eloquente e cuidadosa do enunciado maçã considerando traços judaico-cristãos, gregos, romanos e nórdicos, Thoreau fala das migrações que a planta apresentou, nas zonas temperadas entre Ásia e Europa, chamando atenção para algumas variedades nativas, ou ‘indígenas’ na América do Norte. Ele pontuou os encontros entre a fruta europeia e o continente americano, considerando que as macieiras que foram trazidas ao novo mundo possivelmente ainda eram remanescentes das antigas variedades que foram levadas pelos romanos ao norte do continente europeu. A diferença era que, quando começaram a se radicar no continente americano, sendo dispersadas rumo ao oeste, tornaram-se plenamente adaptadas.

Em um território de imigrantes, a construção do país a partir da conexão radicular de uma planta alienígena, mas que se reforça e vive melhor no novo solo, mostra que o desafio do país era acomodar o que se trouxe de fora e que passou a acompanhar um novo habitante, formado em uma marcha que se intensifica para oeste:

 

Como o cão, o cavalo e a vaca: [a maçã migrou] primeiro, talvez da Grécia para a Itália e dali para a Inglaterra: depois para a América; e nosso emigrante ocidental ainda está marchando firmemente em direção ao sol poente com as sementes de maçã no bolso, ou talvez com algumas jovens árvores amarradas na sua carga. Pelo menos um milhão de macieiras estão mais para o oeste nesse ano do que qualquer outra cultivada no ano passado.

 

A maçã que migrou (foi levada) para a América do Norte foi se tornando a morada, por exemplo, do pica-pau-felpudo, que “encontrou um pedaço tão saboroso sob sua casca, que o perfurou em um anel, bem em volta da árvore, antes de deixá-lo — coisa que ele nunca tinha feito antes, que eu saiba.”. É também o bioma em miniatura que fez com que a perdiz não tivesse demorado muito “para descobrir como seus botões eram doces, e todas as vésperas de inverno ela voava, e ainda voa, da floresta para arrancá-los, para tristeza do fazendeiro.”.

O encontro dos tempos humanos com a passagem das estações e o crescimento das maçãs vai sendo interconectado a partir das figuras da vida das macieiras. A chegada da primavera quebra a dormência das árvores e das palavras. O tempo passa, inexoravelmente. “No meio de julho, as maçãs verdes são tão grandes que nos lembram dos mimos e do outono. Os gramados estão cobertos de maçãs pequenas que caem natimortas, como se a natureza as deixasse pequenas para nós.”

Há caminhos cruzados quando Thoreau fala do amadurecimento das maçãs. Tempos mitológicos encontram-se com os tempos do mundo, na passagem de estações e na sobreposição de regimes econômicos. A deusa Pomona parece embalar as ideias de abundância e matar a sede das pessoas a partir dos pomares carregados dessas maçãs, e o elemento fundamental aqui é a materialidade do lugar que essas plantas e frutas ocupam no chão e no despertar das sensações e necessidades humanas e não humanas. No caso do lado de Pomona, para Thoreau, há um caráter denominado por ele de ‘volátil’ e ‘etéreo’ das frutas, cujo valor não poderia ser vulgarizado, nem comprado, nem vendido. Esse caráter muito semelhante ao da ambrosia, o alimento dos deuses do Olimpo, seria quebrado ao estar vinculado à compra e à venda e às dinâmicas da própria ocupação do território dos EUA, na medida em que migrantes e imigrantes avançam na metade do século 19: “Nenhum mortal jamais desfrutou do sabor perfeito de qualquer fruta [...] pois o néctar e a ambrosia são apenas aqueles sabores finos de todas as frutas terrestres que nossos paladares grosseiros não conseguem perceber.

Se a ideia de ‘espaço’, conforme Tim Ingold, é uma das mais abstratas noções para tentar explicar como seres humanos e não humanos ocupam determinado lugar, Thoreau não se furta a sua localização material não apenas a partir do solo, mas também desde outros elementos, como a passagem das estações e a substância dos ventos, da luz solar, dos encontros de temporalidades bioquímicas das plantas e de outras vidas e processos. Entre fins de agosto e durante setembro, pequenas maçãs cobrem os solos ao redor das árvores devido aos ventos fortes, em lances de sorte. Em outubro, as folhas caem, e isso gera uma paisagem mais distinta das maçãs nas árvores. No caminhar pelas estradas de sua vizinhança em Concord, Thoreau observava o povoamento da estrada por pequenas maçãs amarelas que caíam daquelas árvores. Thoreau, é necessário ressaltar, não prioriza os jardins.

A coloração das frutas é um ponto fundamental quando pensamos em maçãs silvestres: frente à monotonia e à monocromia das paisagens modernas de maçãs industrializadas, que, no caso do Brasil de 100 anos de distância, foram sendo construídas a partir da pouca oferta de variedades, especialmente vermelhas, como as atuais gala e fuji, são de outras frutas que Thoreau nos fala; de uma biodiversidade distinta.

As cores múltiplas da liberdade e do encontro das plantas com uma comunidade mais ampla, que se relaciona com elas sem intermediação racionalizada, seguindo o tempo da natureza são a materialização de um mundo oposto ao colonialismo da uniformidade de fileiras de maçãs vermelhas, submetidas a perturbações humanas como poda, arqueamento, modificação da arquitetura das plantas. Essas plantas ‘ideais’ e ‘corretas’ habitariam outros mundos com muita força a partir do final do século 19, tanto nos EUA como em outras partes do mundo, na medida em que um consumo global de frutas começava a ser estruturado, desde companhias como a American Fruit Company ou os projetos do Vale do Yakima, no estado de Washington (SOLURI, 2005).

No âmbito do relato das convivialidades com a maçã, Thoreau notava que alguns solos,

 

[...] como um trecho rochoso chamado Easterbrooks Country, situado em minha vizinhança, são tão adequados para as macieiras que elas crescem mais rápido neles, mesmo sem nenhum cuidado ou apenas lavrando-os uma vez por ano, do que em muitos lugares com todo o tipo de cuidado.

 

Essa perspectiva do cuidado agrícola do solo reveste-se da instrumentação do arado, que acaba sendo inviabilizado devido à quantidade de pedras em determinados lugares onde as macieiras, mesmo assim, crescem nas cores vermelha e amarela, “em harmonia com as cores outonais da floresta”.

Os pomares que foram se desenvolvendo ‘sem o cuidado’ humano, mais no sentido de condução e intervenção, perturbação da paisagem, criaram frutas coloridas, em fileiras desalinhadas, em árvores de arquitetura libertária em meio a pedras e declives. Ao aproximar-se dessa descrição e dessa sociológica desalinhada de fileiras, Thoreau vai construindo o que há de silvestre nas maçãs, no devir de árvores que praticamente se rebelam ou que oferecem barreiras ao culto europeu da racionalização: “nossa macieira silvestre é apenas tão selvagem quanto eu, que por acaso, não pertenço à raça nativa daqui, mas me perdi na floresta como descendente de uma tribo que foi cultivada”.

Todo esse exercício diz respeito ao ponto no qual o autor alcança a maçã da América do Norte, a Malus coronaria, descrita como nativa, aborígene, cuja “natureza ainda não foi modificada pelo cultivo”, sendo encontrada de New York a Minnesota, e em direção ao sul do país. A crab-apple (“maçã-brava”) era descrita por Thoreau e outros autores como uma planta de 15 a 18 pés de altura, podendo duplicar seu tamanho, com uma arquitetura muito semelhante à macieira comum, porém chamando atenção pelo aroma mais pronunciado de suas flores. Quarenta anos depois da descrição feita por Thoreau, a maçã-brava figurava nos catálogos de plantas ornamentais e em manuais de botânica como o de Harriet Keeler, que também lembrava do processo de identificação da planta realizado por botânicos em correspondência com Lineu.

Thoreau escolheu a primavera, para narrar o encontro com as maçãs silvestres:

 

Eu nunca havia visto a maçã-brava até maio de 1861. Tinha ouvido falar dela por meio de Michaux, mas os botânicos mais modernos, até onde sei, dificilmente a mencionam. Portanto, era uma árvore meio fabulosa para mim. Considerei a possibilidade de peregrinar às Glades, parte da Pensilvânia, onde diziam que ela crescia com perfeição. Pensei em mandar buscá-la em um viveiro, mas duvidei que eles a tivessem ou se saberiam distingui-la das variedades europeias. Por fim, tive a oportunidade de ir a Minnesota e, ao entrar em Michigan, comecei a notar, do vagão do trem, uma árvore com lindas flores cor-de-rosas.

 

Essas árvores que encantaram Thoreau a partir de 1861 chamavam atenção pelas cores, fragrâncias, e resistência em viver e apresentar frutos singulares, em arquitetura piramidal, “quase tão sólida e impenetrável como uma rocha”. A maçã silvestre mantinha afastamentos e encontros com as maçãs urbanizadas; as flores apresentavam certa semelhança, enquanto que à docilidade de uma macieira doméstica, os arbustos da Malus coronaria apresentava espinhos. O tempo selvagem era outro: outubro e novembro, tornando-se palatáveis e mais bonitas do que antes. Para Thoreau, observando o comportamento de agricultores que não se dão ao trabalho de colher essas frutas, o cenário construído é o dos sabores selvagens da Musa, “vívidos e inspiradores”, coincidentes com o apetite e a imaginação de quem caminha.

Os espinhos demonstravam a resistência enraizada, fixa, materializada e independente. Eles habitavam árvores que diferiam das enxertadas, que não têm sabor ‘espirituoso’. Os “cavalheiros pomólogos” não enganavam Thoreau, porque suas plantas favoritas eram mansas demais, com frutas a serem comidas sem entusiasmo, sem sabor real.

Thoreau ensaiava um catálogo de plantas que escapavam às características da macieira comum, mas que habitavam o mundo simbólico da maçã. Nesse sentido, chegava a descrever outras plantas, rosáceas ou não, também como maçãs. Thoreau buscava sua maçã particular também em outras árvores, fora do catálogo dos viveiros, marcadas pelas características de um libertarianismo idiossincrático, construído, talvez, no que Kevin Dann (2000, p. 82) identificou como esforço dele e de outros contemporâneos em buscar ser quase que naturalizados pela paisagem americana, selvageando sentidos, expressões e política, tornando silvestres as identidades de um novo país que precisava se desenvolver com o passar das estações, nas relações tecidas entre os mais diversos seres.

Em seu discurso durante o funeral de Thoreau, Emerson (2000, p. 813) falava do amigo como o maior americano que já existiu: “Sua preferência por seu país e condição eram genuínos, e sua aversão às maneiras e gostos ingleses e europeus quase alcançou o desprezo”. Para Emerson, esse Thoreau enraizado havia se tornado selvagem, na medida em que buscava se nutrir justamente a partir das fontes de energia que nutriam essas árvores de gosto difícil, de ar livre, com espinhos e segredos. Nos altares desenhados por Thoreau em termos biológicos, o sacrifício das macieiras para não sucumbir a um inimigo marcado pelas maçãs modernizadas a partir de projetos capitalistas havia de ser realizado, como o antigo agricultor que erradicava plantas para não produzir mais frutas que servissem apenas ao mercado.

 

Colonialidade e as maçãs de Georges Delbard em Jardinier du Monde

Por intermédio de Georges Delbard, mudas de Malus domestica chegaram a Fraiburgo, meio-oeste de Santa Catarina, no início dos anos 1960. O objetivo era criar um pomar experimental e um viveiro de mudas para vender a interessados em plantar frutas de clima temperado no sul do país. O projeto comercial que vai tomando forma nos anos 1960 estava amparado em diferentes fatores, a saber a) rearranjo político-empresarial de relações de poder entre elites locais e governo do estado de Santa Catarina, em função de projetos de modernização da agricultura e do extrativismo; b) ampliação de linhas de crédito e de assistência técnica por meio de autarquias modernizadoras a quem pudesse pagar por isso (LOHN, 1997); c) fronteira agrícola em expansão na Mata Atlântica, intensificada com o estabelecimento do estado autoritário civil-militar brasileiro desde 1964.

O processo de modernização em marcha com a maçã desde os anos 1960 no sul do Brasil, já bem delimitado e discutido pela historiografia, apresenta, quando pensamos a convivialidade com as maçãs na obra Jardinier du Monde, uma dimensão ecocrítica que permite pensar as plantações como um projeto igualmente moderno e biocolonial em terras brasileiras. Os franceses que vêm ao sul do Brasil para plantar maçãs a partir da experiência adquirida na Argélia comercializam e implementam suas atividades investindo em discursos e símbolos que a todo momento reafirmam a ‘tradição francesa’ de produzir frutas e bebidas em uma zona subtropical.

Em meio a uma economia extrativista caracterizada pela acelerada devastação da Mata Atlântica e de bosques de araucária no meio oeste de Santa Catarina, a maçã doméstica ditava o ritmo de uma emergente plantocracia aproximando-se da burocracia estatal sem deixar de lado, agora, tensões advindas de uma modernização agrícola. Essa nova planta exótica desenharia um cenário de conflitos bio-históricos.

Tentativas frustradas de produção (vitória dos fungos da Mata Atlântica?), consequências imprevistas (abalo da húbris tecnológica) da devastação da Mata Atlântica (Anastrepha fraterculus), lutando contra novos pomares talvez a partir do que restava de algumas raízes e sistemas de vida, a luta contínua pelo controle da atmosfera contra chuvas de granizo, as estratégias para minimizar efeitos de geadas “fora de época”, o uso de agrotóxicos — tudo isso corrobora o entendimento de que a plantocracia de uma agricultura de larga escala precisa ser pensada sob a ótica das ambiguidades que estruturam o conhecimento agrícola moderno e sua prática.

Nesse cenário, um texto colonialista com ansiedades e ambiguidades de um processo de perturbação de paisagens lia a movimentação de humanos e não humanos em paisagem do sul do Brasil. Alguns dos aspectos humanos desse processo apareceram em expressões como a que Willy Frey, em 1973, cunhou a respeito da cidade de Fraiburgo: “verdadeiro laboratório a céu aberto” (FREY, 1973, p. 125). O laboratório descrito por Frey representava uma paisagem que não tinha mais árvores nativas, tão exaustivamente exploradas pelas serrarias de sua própria família desde os anos 1930. O laboratório da fruticultura era desafiado pela exploração florestal anterior, já que o desmatamento avassalador criou um cenário de poucos pássaros, de poucos insetos polinizadores, como o próprio Frey lembrou.

Delbard era um viveirista experimentado quando chegou em Fraiburgo. A partir da década de 1920 começou a trabalhar com flores em Comentry, França. No início dos anos 1930, trabalhou com o agrônomo e horticulturista Georges Truffaut, em Versailles. Com experiência nos jardins de Truffaut, retornou para Malicorne e criou seu próprio viveiro. A Pepinières Delbard cresceria especialmente depois de 1945, expandindo negócios para outros países da Europa e, também, em colônias francesas. Seu primeiro catálogo, Les Beaux Fruits de France, de 1946, remete-nos a uma espécie de ‘nacionalismo’ hortícola, que buscou mostrar as frutas de um país que, vitorioso entre os aliados na Europa, não dava a mínima mostra de abdicar de domínios ultramarinos. Delbard foi sabiamente construindo reconhecimento desde os anos 1950, tanto em função da recuperação da economia francesa como do desenvolvimento tecnológico de mudas de seu viveiro, submetidas a novos sistemas de controle de vírus, termoterapias e novas variedades de flores e frutíferas.

Jornais como Le Figaro repercutiam a importância do viveiro de Delbard, que organizava, desde 1958, reuniões pomológicas promovendo variedades desenvolvidas pela empresa, em um momento de profunda efervescência tecnológica global no campo da agricultura. Foram essas reuniões que aproximaram Delbard, o Institut National de la Recherche Agronomique (INRA) e empresários franco-argelinos e brasileiros. Em poucos anos, esse contato geraria o primeiro pomar experimental de maçãs domésticas modernas no sul do Brasil, entre 1962 e 1963, quando a Sociedade Agrícola Fraiburgo SA (Safra SA) importou mais de 100 mil mudas de variedades frutíferas da Pepinières Delbard.

Delbard chegaria ao Brasil em 1967. Na oportunidade, narrou com detalhes o que mais lhe impressionou ao longo do trajeto: a biodiversidade e, especialmente, os problemas do desmatamento acelerado de muitas áreas ao longo do trajeto de mais de 700 km em direção ao sul: “a aceleração do desmatamento das terras brasileiras é o ponto de partida de uma situação trágica.” (DELBARD, 1986, p. 573).

            Ao chegar em Fraiburgo, o viveirista mergulharia no cenário de novas paisagens de fruticultura, aquelas entendidas como “laboratório”. Encontrou árvores que já estavam sendo plantadas de acordo com técnicas ‘francesas’ modernas de cultivo, em pomares que foram impulsionadas por benefícios oriundos de políticas presentes no Código Florestal de 1965, que apoiava reflorestamento com florestas homogêneas. Em uma região catarinense que apresentava uma média de altitude de 1.000 m., o autor observou que as macieiras apresentavam comportamento semelhante ao que acontecia com as frutíferas das planícies costeiras da Argélia.

Na lógica biocolonialista das narrativas em torno da produção de maçã em Fraiburgo, o viveirista ‘resolveu’ alguns problemas ligados à ‘adaptação’ de variedades frutíferas, inclusive construindo estratégias discursivas e práticas intervencionistas sobre as plantações, como controle químico de dormência em pomares. Delbard construiu impressões peculiares sobre plantações industriais em Fraiburgo, trazendo ambiguidades para seu projeto industrial, entre eles o questionamento sobre a dimensão dos projetos (que deveriam ser grandes, mas nem tanto) e a devastação de florestas para dar lugar a pomares (embora fosse o principal apoiador do progresso a partir da fruticultura).

 

Entre selvageria e docilidade da maçã, outras convivialidades também importam

Para regiões de fronteira agrícola como o sul do Brasil do segundo pós-guerra, a agricultura racionalizada e o controle dos recursos naturais, reforçavam um sentido civilizador, amparado na difusão da ideia de que a relação entre a ciência e a tecnologia se tornaria a base das mudanças culturais (SILVA, 2016).

Uma nova plantocracia estrangeira em terras da Mata Atlântica que era bem relacionada com o aparato burocrático fez com que a dimensão humana desses projetos fosse desenvolvida e surgissem novas convivialidades. Delbard intercalava o biológico e político no que diz respeito à ideia de melhoramento vegetal, ainda nos anos 1950. Ao falar sobre hibridação e seus efeitos no melhoramento dos frutos, e quais seriam os benefícios do desenvolvimento de variedades a partir dessa técnica no pós-guerra na França, com vistas a uma melhor alimentação em geral, não deixa de se remeter ao processo como um benefício da “civilização” das plantas mais “selvagens”. Afirmava repetidamente que “é sempre possível crer num mundo com variedades frutíferas melhores” (DELBARD, 1986, p. 402).

Grande parte das observações que Delbard fez com relação à fruticultura industrial é contemporânea de movimentos ulteriores nas técnicas agrícolas e na forma de se entender as atividades agropecuárias no Ocidente no período pós-guerra, principalmente no que tange especialmente ao melhoramento vegetal.

As perturbações que são construídas em torno da Mata Atlântica para a imposição colonial de pomares, desde os anos 1960, sob a lógica da jardinagem tão bem construída e defendida por Delbard também foi reproduzida por outros leitores dessas paisagens, ancorados em noções como ‘controle’ da natureza. De um lado da moeda, estão expressões como controle, correção e outras noções que embalam o processo de expansão de pomares no território da Mata Atlântica a partir da década de 1960, com uma impetuosidade tal, refletida na ideia de que é necessário fazer ‘crescer direito’ a planta.

O formato natural de uma macieira, assim, é alterado a partir de técnicas humanas, e seu comportamento, a partir de insumos químicos, como podemos observar nas imagens a seguir. São expressões como a de Willy Frey, sobre a capacidade de o homem poder ‘iludir a planta e forçar a natureza’. Já Kenshi Ushirozawa (1979) vai além, propondo controles sobre plantas, sobre solo, sobre relevo, sobre os ventos e sobre o subsolo, a partir da ótica do melhoramento da produção. Em pomares controlados por humanos, a preocupação não é com a vitalidade das árvores, mas em como perturbar as paisagens sem ‘enfraquecer ou mesmo secar as plantas’.

Nos caminhos e surpresas da biodiversidade regional das paisagens que foram criadas em torno de pomares no sul do Brasil, especialmente em Santa Catarina, parece que a Mata Atlântica e seus seres de diferentes temporalidades têm criado espaços para digressões fundamentais, que permitem deslocar o olhar da maçã para outras frutas. No sul do Brasil, não eram maçãs silvestres que se opunham às maçãs domésticas, como em Thoreau; eram as mirtáceas, esse mundo repleto de cores e intensidades nativas que habita a imaginação, as memórias e uma cultura muito particular de alimentação e biodiversidade.

No processo de instalação da pomicultura, valores ambientais, planos de expansão interromperam ou passaram a negociar com as condições e regimes de continuidade de histórias anteriores e incorporação de valores ambientais nos seus planos de expansão. Era necessário pensar a paisagem que estava por ser construída e encontrar nela as condições necessárias para a continuidade da história das macieiras trazidas da Europa e ainda não aclimatadas e adaptadas às condições de solo, de relevo e de clima locais.

O que havia nessa fração da Mata Atlântica historicamente e que fora perturbado pela pomicultura? Esse território que ia do Paraná ao Rio Grande do Sul era marcado por cerca de 200 mil km2, que tinha a Araucária como principal ser de sua flora. Ela convivia com outras árvores como erva-mate (Ilex paraguariensis), bracatinga (Mimosa scabrella), xaxim (Dicksonia sellowiana), açoita-cavalo (Luehea grandiflora), guaçatunga (Casearia sylvestris), e sapopema (Sloanea retusa) e tinha aproveitamento múltiplo (KLEIN, 2002, p. 86). À medida que essas paisagens foram sendo alteradas, algumas associações silvestres passaram a ser uma ‘resistência’ à pomicultura, mostrando-se fortes, desafiadoras, provocativas. Na década de 1980, o ácaro vermelho tornou-se um dos principais inimigos dos produtores. Já a Anastrepha fraterculus, nativa da América do Sul e habitante comum dessas florestas, desenhava atitudes enérgicas do ponto de vista humano para seu enfrentamento. A mosca-da-fruta transitava por mais de 30 espécies vegetais nativas em 16 famílias, entre elas Anarcadiacaea e Myrtacaea. Isso significa que em locais como Fraiburgo, São Joaquim e Vacaria, habita a pitangueira (Eugenia uniflora), a guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa), a cerejeira-do-mato (Eugenia involucrata), guamirim (Myrcia rostrata), camboim (Myrciaria tenella) ou a goiabeira-serrana (Acca sellowiana) (THUM; COSTA, 1998-9). Delas, voavam e ainda voam para as macieiras. Mas a essas frutíferas, também, populações humanas locais recorriam e ainda recorrem, acionam memórias e lembranças de um passado anterior à maçã, de trânsito despreocupado entre florestas, ou ainda experimentam a sensação de caminhar, colher e saborear aromas, cores e texturas dessas frutas em seus próprios lugares e momentos.

A produção convencional de maçãs parece ter começado a sofrer alguns reveses entre a virada do século 20 para o 21 em toda a região sul do Brasil, especialmente devido a elementos de ordem climática, que têm comprimido a existência de pomares a regiões cada vez mais altas e que ainda garantam quantidades específicas de horas-frio para uma fruta suculenta. A constatada redução no número de municípios catarinenses aptos para a produção e alterações no período de cultivo é sentida desde a década de 2010 (MASSIGNAM; PANDOLFO, 2016, p. 13-4). Se as maçãs domésticas apresentam uma agricultura arriscada dada a sua escala e aos desafios climáticos que agora se apresentam mais pronunciados, talvez uma das chaves para o futuro seja uma atenção mais generosa a plantas do futuro que são, na verdade, as nativas e resistentes do passado pré-pomicultor de parte significativa de Santa Catarina.

Entre as alternativas que têm sido buscadas para mitigar situações-problemas como essa, o mundo das mirtáceas começou a despertar atenção da comunidade científica agrícola desde os anos 1980, inclusive de pesquisadores que, movidos pela maçã, acabaram abraçando quase que thoreauvianamente uma narrativa neonaturalista que positivava algumas frutas nativas de Santa Catarina como maneiras sustentáveis de, ao mesmo tempo, criar alternativas econômicas para pequena agricultura, enquanto preserva a diversidade genética. No caso das alternativas à maçã, em áreas como São Joaquim, a goiaba-serrana (Acca sellowiana) ou feijoa viria a ocupar, com uma certa similaridade, o território que Thoreau destinou à Malus coronaria nos EUA da metade do século 19. Um agrônomo francês (mais um), migrante em função da maçã exótica que chegava ao Brasil nos anos 1960, veio a ser uma das principais autoridades na pesquisa em torno da goiaba-serrana (DUCROQUET, 2007; MORETTO, 2014).

As narrativas que giram em torno da goiaba-serrana e sua relação com a maçã nos territórios da pomicultura de Santa Catarina envolvem profissionais da agronomia, da biologia, da história, da nutrição e geografia. Essa planta começou a habitar o cenário naturalista na metade do século 19, quando Sellow construiu sua taxonomia. Como a araucária ou a imbuia, essa planta seria encontrada pela maçã moderna nos anos 1960. Ela não sofreu o ataque de máquinas que a desmataram para dar lugar a pomares na mesma proporção que a araucária; permaneceu por vezes silente nos remanescentes de floresta, guardando suas interações com outros seres e ainda continuando a ser consumida por populações locais, acostumadas a caminhar pelas florestas para colhê-la e também o pinhão. Parte significativa dessa presença foi narrada historicamente por Samira Peruchi Moretto (2014), em tese de doutorado na qual pôde construir os trajetos, a circulação global da planta e os consumos da fruta desde o século 19. Para a historiadora, a preocupação foi narrar uma planta que é intensamente comercializada e consumida em escala em países como Colômbia e Nova Zelândia, mas que, na América do Sul, especialmente no planalto serrano, ela vive em seu centro difusor e só agora começa a adentrar o mercado. Uma planta nativa, do passado, fez um caminho inverso de conquistas territoriais, climáticas e etográficas, saindo do sul da América do Sul para outros continentes, mantendo-se, contudo, uma resistente silenciosa localmente.

 

Considerações finais

Thoreau e Delbard buscaram cada qual a sua maneira, defender posturas opostas sobre projetos de identidade em momentos históricos extremamente sensíveis, envoltos em tensões sobre autonomia, desenvolvimento, presente e futuro alimentados por suas imaginações ambientais.

Nas narrativas de convivialidade de Thoreau, uma planta ‘nativa’ ofereceu, ao mesmo tempo, resistência e personificou seu lococentrismo como parte constitutiva de uma identidade estadunidense marcada por ideais como resistência, autenticidade, rusticidade. Delbard advogou a necessidade de sempre buscarmos ‘plantas melhores’, construindo uma pomicultura que beirava, por sua técnica e racionalidade, um ideal cosmopolita.

No meio desse turbilhão de encontros e desencontros e experiências humanas interconectadas com plantas e outros seres, algumas das respostas aos desafios do fim anunciado da produção de maçã como a conhecemos em Santa Catarina hoje, em virtude dos desafios das mudanças climáticas, acabam repousando na apropriação de conceitos de Thoreau para a revalorização da biodiversidade regional, que foi tão atacada pela pomicultura desde os anos 1960: rusticidade e resistência, itens possíveis de serem lidos quando nos deparamos com a construção de uma nova relação com plantas nativas como a goiaba-serrana no Planalto Serrano Catarinense sob a ótica anticolonial. Seria ela, uma nova maçã particular, num enunciado de novas cores, novos sabores e aromas, para um futuro valorizador da biodiversidade?

 

 

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Recebido em 02/12/2021.

Aceito em 04/01/2022.

 

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[1] Doutor em História (Universidade Federal de Santa Catarina, 2007), com pós-doutorado em História Global no Friedrich-Meinecke-Institut, da Freie Universität, Berlim (2017). Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Guarapuava, Paraná, Brasil. E-mail: jo@unicentro.br | https://orcid.org/0000-0002-5110-9028

[2] Ao longo do artigo, utilizo trechos de Wild Apples, sem paginação, na medida em que uma tradução qualificada e cuidadosa do texto está sendo preparada no Brasil para 2022 e o texto está disponível, na íntegra, em diferentes meios e formatos. Ver: EGGENSPERGER, Klaus (org.) Entre botânicas decoloniais: as frutas de Henry David Thoreau e frutas brasileiras. Curitiba: Appris, 2021. [no prelo].