Fronteiras: Revista Catarinense de História. Dossiê Direitos humanos, sensibilidades e resistências. N 36, 2020/02 – ISSN 2238-9717
229
DOI: https://doi.org/10.36661/2238-9717.2020n36.11886
Ensino de História e muito me preocupa esse momento em que os jovens estão se afastando da
escola. Estão perdendo o gosto em estudar.
Esse vírus então virou tudo de ponta cabeça. Muitas falas cessaram e os debates, antes
presentes nas salas de aula, já não estão acontecendo mais. Sozinha em minha residência tento
elaborar estratégias para educar a distância, mas não é tão fácil assim! Não tenho como alcançar
os meus trezentos alunos/as de dentro de minha casa, muitos não tem os equipamentos
necessários para acompanhar as atividades. Preparo as aulas utilizando a tecnologia, mas é
difícil avaliar o alcance das ideias e reflexões que estamos propondo. Como poderíamos
imaginar educar no século XXI sem contato, sem troca, sem humanização?
Nesses dezoito anos de magistério, de ensino de História, dos quais dezessete anos
passei lecionando no Centro Educacional Municipal Antônio Francisco Machado
(Forquilhinhas, São José), escola na qual trabalho até hoje, nunca imaginei que passaríamos por
uma situação assim, tão crítica causada por uma doença. Eu achava que seria fácil para nós
resolvermos esta questão, encontrarmos uma vacina, mas a humanidade não é tão infalível
assim, não é mesmo? Nem este contexto tão difícil de pandemia conseguiu cessar o
negacionismo, que continua se refletindo no descrédito para com as descobertas científicas e
no desrespeito as medidas de proteção, prolongando mais e mais esta difícil situação
pandêmica.
Antes da Covid-19, em meu trabalho, eu não tinha monotonia, todo o dia era uma
surpresa, reações diferentes aos estímulos aplicados. Debates, expectativas, eu afetava os
estudantes e saía da escola todos os dias me sentindo sensibilizada por eles, por suas histórias,
por seus desafios, por seus ataques, pelas dificuldades que alguns viviam. Não era fácil, era
duro receber as agressões negacionistas que mencionei anteriormente, mas ao menos era
possível tomar providências, esclarecer, debater, conversar com as famílias. Mas se antes já
enfrentávamos dificuldades para fazer com que a História fizesse sentido, e de fato ensinasse
algo aos estudantes em um mundo repleto de informações instantâneas, agora as dificuldades
tornaram-se ainda maiores. Com a pandemia cessaram as provocações, as brincadeiras, os
enfrentamentos, mas também os abraços, as demonstrações de carinho, as trocas. Cessou tudo
e sobrou apenas eu, meus dois filhos e meu marido dentro de casa.
Fiquei muito assustada com o que estava acontecendo: o aumento no número de mortos,
os relatos de pessoas próximas que foram parar na UTI, o sistema de saúde saturado, o medo
pelos familiares mais frágeis, pessoas perdendo o emprego, morrendo, ao mesmo tempo em que
o governo federal negava (e ainda nega) toda a gravidade da situação sem tomar providências.
Em meio a esse turbilhão de informações e sentimentos, a minha vida se tornou uma tela, tudo