autora em muitos de seus trabalhos, a opção por utilizar a autora deve-se à qualidade da etnografia realizada no
assunto, tornando o trabalho imprescindível para o artigo aqui proposto.
33
Conforme Arthur Isaia aborda, as práticas ritualísticas afro-ameríndias aparecem num aspecto conciliatório que
acompanha uma lógica cristã e espírita (2012, p.5). Esse novo grupo organizará essa nova religião e relacionará
seus ideais com os preceitos hinduístas, como o conceito de reencarnação, lei do karma, além de conceitos
advindos do espiritismo kardecista e da moral cristã. Essa Umbanda, não por acaso, terá a denominação específica
de Umbanda Branca, em contraponto a relação com as macumbas, os candomblés e toda especificidade relacionada
com Magia Negra.
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Os artigos 156 e 157 criminalizavam o curandeirismo e o espiritismo respectivamente no Código Penal de 1890
e sob os art. 11, parágrafo 2º o curandeirismo e art. 73, parágrafos 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 28º e 29º o espiritismo, na
Constituição de 1891.
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Calundu é um termo possivelmente advindo dos próprios colonizadores, dentre tantos termos pejorativos da
época. Ele definia as diversas práticas religiosas dentro da cosmovisão afro-diaspórica - ou seja, dos grupos étnicos
africanos sequestrados para as Américas - e que se encontravam em oposição às práticas católicas ou ameríndias
(PARÉS, 2007, p. 115).
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A umbanda segundo Cristiana Tramonte tem seus primeiros vestígios na década de quarenta, com Terreiros
localizados em regiões menos populosas, como Estreito, Saco dos Limões, Coloninha, até então regiões menos
habitadas. A autora aborda que as práticas que existiam eram duramente reprimidas pelos órgãos públicos,
principalmente por polícias. Sendo assim, o que era possível para os pertencentes da época era através de uma rede
de negociação e estratégias tomar medidas paliativas e atenuantes que identificavam suas práticas como
afrodiaspóricas. A retirada dos atabaques durante as ritualísticas, a não identificação como Umbanda, a atuação
individual como curandeiras denotava o quanto a repressão policial demandava medidas que contornavam os
olhares: [...] em Florianópolis, a Umbanda enfrentará dificuldades imensas e seus adeptos serão considerados uma
“ameaça”. Entre estes, estará principalmente a população negra e pobre, impedida de manifestar suas práticas
culturais espirituais de cura - ainda que isolada e discretamente - e mais ainda suas "africanidades". Esta
população, invisível pela força da exclusão provocada pela herança escrava dos séculos anteriores e pelas práticas
“higienizadoras e modernizadoras” do século XX será totalmente estigmatizada e a cultura da qual é portadora
será impiedosamente reprimida. (TRAMONTE, 2012, p. 117-118).
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Refere-se, pois, àquilo que inerente aos orixás, como conceitos, mitologias, arquétipos, rezas e ritualísticas.
38
Aqui nos referimos, como exemplo, aos constantes ataques aos terreiros e espaços de culto das religiosidades
de matrizes africanas. Mesmo se tratando de espaços privados e, portanto, demarcados, ainda assim estes são
invadidos, e também, vítimas de atos de vandalismo e, não raro, destruição completa dos bens e símbolos materiais
ali existentes.
39
Relativo a comida de Orixás.
40
Não são poucos os relatos de crianças e adolescentes de terreiro, que são discriminados e até mesmo atacados
de forma violente, por conta da demonstração pública de sua religiosidade, principalmente atrelada à questão do
uso de trajes e objetos ritualísticos nos ambientes fora do terreiro, como escolas, por exemplo. Para maiores
informações ver CAPUTO (2012). CAPUTO, Stela Guedes. Educação nos Terreiros: e como a escola se relaciona
com crianças de Candomblé. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.
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Nos referimos à uma visão cartesiana, que categoriza as experiências sociais em situações e parâmetros distintos.
Assim, os sujeitos ocidentais contemporâneos conseguem viver a partir de delimitações específicas, que passam
pelo campo público, privado, de trabalho, de lazer, de sagrado, de profano, entre outras premissas geralmente
binárias. Para muitas comunidades africanas tradicionais, cujos preceitos permeiam ainda hoje comunidades afro-
diaspóricas dispersas pelo Brasil, por exemplo, há uma visão de mundo, que é experimentada por outros sentidos
que não só a visão, mas o paladar, o olfato, o tato, que define outras formas epistemológicas de perceber o ciclo
da vida, a relação entre passado e futuro, a condição ancestral, as vivências a partir de conceitos ligados a
orixalidades e outras entidades do panteão afro-brasileiro. Essas relações se pautam pela transversalidade e total
integração entre os diferentes âmbitos da vida dessas populações. O sujeito afro-diaspórico, ou seja, as pessoas
que vivem sob os conceitos afroperspectivista que definem aspectos de suas experiencias cotidianas, são
extremamente ritualísticas, já que, em constante contato com a natureza e com aspectos espirituais, tem suas
vivências definidas a partir de sua relação com o outro e com sua ancestralidade, aspectos esses que são sagrados
em sua totalidade. Em suma, as comunidades de matrizes africanas experenciam sua espiritualidade em vários
ambientes, seja dentro ou fora dos terreiros, já que é seu corpo que carrega a sacralidade ritualística.
42
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11635.htm>. Acesso em: 26
set. 2020.
43
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm>. Acesso em: 26
set. 2020.