
Fronteiras: Revista Catarinense de História. Dossiê Fronteiras, migrações e identidades nos mundos pré-modernos. N 35, 2020/01 –
ISSN 2238-9717
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tais como contexto, objetivos do autor e gênero – interpreta o referido documento não somente
como produto de apropriações do passado, mas, também como produtor de novas
representações, servindo como veículo de transmissão e ressignificação da memória. Vemos,
então, uma problemática envolvendo História e Memória. É o que faz Erick Carvalho de Mello,
mas, agora, abordando a temática do celtismo e da celticidade. Sua reflexão, proposta no artigo
O Mito e a cultura de memória Celtas: Uma convergência de imaginários, parte do campo da
Memória Social, não da Ciência da História, mas, em um constante diálogo interdisciplinar,
aborda o papel das diferentes apropriações do que se entende por “cultura celta” na formação
das identidades nacionais de grupos como irlandeses, escoceses e bretões franceses. O autor
procurou identificar como o mito do celtismo é construído na História recente e como a partir
deste mito uma cultura de memória é formada e nos possibilita ter uma compreensão mais
aprofundada sobre os conflitos históricos que esses grupos enfrentam hoje, sem deixar de
dialogar com a forma como a temática tem sido tratada quando o foco são as populações pré-
modernas, se decidirmos denominá-las de "celtas" ou não.
O artigo Multiculturalidade e a Christiana Civilitas na Britannia de Guildas (s. VI),
escrito a quatro mãos por Helena Schütz Leite e Renan Frighetto, se propõe a discutir sobre as
transformações observadas no século VI na Britannia do século VI não sob o prisma da
decadência e destruição do mundo romano no Ocidente europeu, visão muito presente na
tradição historiográfica sobre o período. Diferente disso, os autores propõem, através do estudo
da obra De Excidio Britanniae, de Gildas, perceber a pluralidade cultural que é possível
observar ali, e a busca por uma identificação que aproximasse dos diferentes reinos da Britannia
na Antiguidade Tardia.
Outro artigo que também lida com a questão das identidades e historiografia é A
fronteira entre cristãos e muçulmanos: uma terra de ninguém?, escrito por Márcio Felipe
Almeida. Entretanto, o ponto central das análises do autor está no espaço de fronteira disputado
por populações cristãs e islâmicas no século XIII. Vale ressaltar que a fronteira, neste caso, não
é uma linha divisória entre dois territórios, como se pode pensar à primeira vista. Diferente
disso, neste artigo, Márcio Almeida discute a fronteira como sendo, ela mesma, um território
pretendido pelos dois grupos em questão.
O último artigo deste dossiê é aquele que avança mais próximo do fim do período
chamado de pré-moderno, intitulado A Colonização Oriental e os Processos de Reformulação
Rural em Brandemburgo (séculos XII–XIV). Neste artigo, Álvaro Mendes Ferreira se dedicou
a analisar o processo de transformações no espaço rural do Europa oriental, ocorridas no