Fronteiras: Revista Catarinense de História. Dossiê Fronteiras, migrações e identidades nos mundos pré-modernos. N 35, 2020/01
ISSN 2238-9717
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DOI: https://doi.org/10.36661/2238-9717.2020n35.11440
A fronteira entre cristãos e muçulmanos: uma terra de ninguém?
The border between Christians and Muslims: a no man's land?
Marcio Felipe Almeida da Silva
1
Resumo
O presente artigo tem por finalidade apresentar
uma breve discussão historiográfica sobre a
fronteira entre cristãos e muçulmanos na
Peninsula Ibérica. Pretendemos também, neste
trabalho, estabelecer uma reflexão sobre o
conceito de terras de ninguém com base na
documentação produzida ao longo do século
XIII. Diferente do mundo atual, em que os
Estados modernos nescessitam de fronteiras
precisas e estabelecem linhas de demarcação tão
estreitas, que é impossível habitar sobre elas, a
fronteira castelhana foi durante o medievo uma
faixa de terra larga o suficiente para ser
compreendida como um território, cuja
autoridade não estava completamente definida,
um espaço sujeito a investidas tanto de cristãos
como muçulmanos.
Palavras-chave: Castela; Fronteira; Idade
Média.
Abstract
The purpose of this article is to present a brief
historiographical discussion on the border
between Christians and Muslims in the Iberian
Peninsula. We also intend, in this work, to
reflect on the concept of nobody's land based on
the documentation produced throughout the
13th century. Unlike the modern world, in
which modern states need precise borders and
establish lines of demarcation so narrow that it
is impossible to live on them, the Castilian
border was, during the medieval period, a strip
of land wide enough to be understood as a
territory, whose territory authority was not
completely defined, a space subject to attacks
by both Christians and Muslims.
Keywords: Castile; Border; Middle Ages.
Já faz algum tempo que a historiografia tem se preocupado em responder se a fronteira
da Andaluzia foi ou não uma linha de separação física. A documentação produzida ao longo do
século XIII nos impede de enxergar os limites entre cristãos e muçulmanos como qualquer coisa
que não seja um conjunto de franjas territoriais frequentemente atravessadas por comerciantes,
aventureiros e cavaleiros interessados em devastar o território inimigo ou que rompiam seus
laços de fidelidade com as monarquías feudais. Mesmo se a documentação cronística deixasse
alguma dúvida sobre o caráter espacial da fronteira, os pesquisadores estão cada vez mais certos
de que ela foi uma zona ampla, permeável e transitável. O próprio conceito de espaço enquadra-
se melhor à área colonizada pelos castelhanos em al-Andalus, do que a uma noção de linha fixa
e imutável aplicada às fronteiras de hoje. Diferente do mundo atual, em que os Estados
1
Doutor em História Medieval pela Universidade Federal Fluminense. Professor da UNIABEU-Centro
Universitário e membro do grupo de pesquisa Translatio Studii (UFF). E-mail: marcio.castela@gmail.com.
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modernos nescessitam de fronteiras precisas e estabelecem linhas de demarcação tão estreitas,
que é impossível habitar sobre elas, a fronteira castelhana foi, durante o medievo, uma faixa de
terra larga o suficiente para ser compreendida como um território, cuja autoridade não estava
completamente definida, um espaço sujeito a investidas tanto de cristãos, quanto de
muçulmanos. Logo, como propôs Philippe Sénac, a fronteira era, neste período, a negação da
propria ideia de limite (SÉNAC, Apud: GONZÁLEZ JIMÉNEZ, 2001. p. 294).
Embora estejamos certos de que foi um espaço impreciso, afirmar somente que a
fronteira foi uma membrana permeável e dinâmica não contribui para o entendimento das
questões históricas levantadas. Tanto é que Renata Vereza, adotando a perspectiva de que a
fronteira em si não existe, defendeu ser “necessário que a aproximação ao fenômeno supere a
mera descrição formal das suas características” (VEREZA, 2016, p. 52). Partindo desta posição,
a autora entende que a adoção da fronteira como um objeto histórico só é possível se levarmos
em consideração que foi o resultado de um movimento ou uma transfomação, realizada pela
sociedade responsável por sua construção. Dessa forma, “a fronteira em si não determina a
realidade e sim a evolução das formações sociais que a produzem” (VEREZA, 2016, p.53). Por
razões como essas, Thomas F. Glick (1993, p.83) concluiu que a fronteira não foi somente uma
entidade real, mas um conjunto de percepções que influenciaram nas atitudes e nas ações de
cristãos e muçulmanos, sendo capazes de modelar o enfrentamento político e cultural entre os
dois lados.
Se no mundo atual um país pode tocar o outro, na Antiguidade, e sobretudo no medievo,
a fronteira tende a ser imaginada como uma zona “tampão” de soberanias incertas, caracterizada
pela escassez populacional e pela alta probabilidade de conflitos militares que, a partir da ação
dos Estados nacionais, foi recuando lentamente até o seu completo desaparecimento. Na Grécia
Clássica, por exemplo, quando um rei espartano dirigia-se à guerra, era acompanhado de um
portador do fogo que o escoltava até a fronteira e ali fazia um sacrifício para garantir as bênçãos
dos deuses em sua passagem pela zona limíte (GENNEP, 2013, p.35). No mundo romano, a
existência de uma série de círculos concêntricos que irradiavam a cultura romana para além de
suas fronteiras, contribuiu para a formação de uma zona tampão entre o limes e a Germânia
Livre. Segundo Michael Kulikowski, enquanto a diferença entre romanos e bárbaros era mais
contrastante longe da fronteira, era difícil distinguir a cultura dos povos nativos e de seus
vizinhos dentro da faixa fronteiriça (KULIKOWSKI, 2008, p.52).
Nos primeiros séculos da ocupação islâmica, o Império Omíada impôs sobre o território
peninsular uma divisão baseada em três marcas fronteiriças: uma superior, com capital em
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Saragoça; outra média, cuja sede localizava-se em Toledo; e uma inferior, com capital em
Mérida (Imagem 1). Com a desintegração da administração omíada, as marcas fronteiriças
foram ultrapassadas pelos movimentos de expansão das monarquias cristãs ou tiveram seu
território reconfigurado, à custa das relações políticas entre os reinos do norte e as taifas
islãmicas. No início do século XII, o sistema de marcas utilizado pelos omíadas acabou sendo
desarticulado, uma vez que elas não pareceram compatíveis com a maneira centralizada como
o recém chegado Império Almorávida adminstrava seu território. A partir desse período, o al-
Andalus passou a contar não com um sistema marcas centralizadas, como o que foi estabelecido
pelos omíadas, mas com a existência de uma série de regiões defensivas que modelavam o
espaço fronteiriço controlado pelos muçulmanos, e eram mantidos graças à proximidade das
estruturas urbanas instaladas perto da fronteira ou das fortificações erguidas neste espaço.
Imagem 1 As marcas hispânicas
Fonte: RUCQUOI, 1995, p. 78.
Ainda que a historiografia tenha se inclinado a enxergar a fronteira como uma zona
neutra, não estamos certos de que as marcas que separaram cristãos e muçulmanos durante a
Alta Idade Média, ou mesmo a fronteira entre Castela e Granada no século XIII, possam ser
classificadas como um território neutro. Embora o afastamento do centro, o declínio
populacional e a redução do número de assentamentos tenham mostrado que extremidades
possuíram um controle mais frouxo por parte do poder real, é necessário levar em consideração
que os castelhanos possuíram um consciência de fronteira muito viva frente aos adversários
muçulmanos e, portanto, uma análise historiográfica sobre o espaço que se sustente frente às
críticas deve ultrapassar alguns conceitos de ordem meramente alegórica como zona neutra.
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José Angel García de Cortázar (2004, p.138), discutindo sobre o estreito relacionamento entre
a sociedade e o território, afirmou que o espaço físico é sempre um espaço social. Logo, o
território, que a princípio não passa de um fenômeno da natureza, pode ser entendido como um
produto histórico construído pela sociedade que se instalou nele para alimentar uma estrutura
de poder baseada em laços territoriais e em relações de produção alojadas no solo. Ainda nessa
questão, parece-nos um tanto inadequado qualificar o território fronteiriço como uma zona
neutra, que a existência de toda uma arquitetura militar, como castelos, muros e torres de
vigilância, indicam tentativa de representação do poder real, ou mesmo dos senhores locais, de
controlar o espaço fronteiriço e reunir grupos humanos em torno de um símbolo de poder. Sendo
assim, as fortificações instaladas na fronteira, mais do que estruturas militares planejadas para
conter o avanço adversário, foram elementos de enraizamento do poder no solo e sobre os
habitantes do entorno que dependiam de sua proteção. Como bem destacou Jean-Marie Pesez:
O castelo é primeiramente uma casa, uma residência aristocrática que abriga um homem
que é um senhor, um dominus, (...) o poder e até a segurança do senhor residem no
controle que ele exerce sobre um território mais ou menos vasto, sobre homens mais ou
menos numerosos. O castelo é assim, também, a cabeça de um domínio cujas muralhas
abrigam as colheitas e a sede do poder de comantar outros homens (2006, p.153).
Em seu livro Cristianos y Musulmanes en La España Medieval, Thomas F. Glick
constatou que a sensação de insegurança e violência na Andaluzia, forjada à custa de incursões
e razias inimigas, gerou uma imagem dominante da fronteira como um local desabitado, o
locus desertus”. Para o autor, “el elemento de la percepción de la frontera por los castellanos
y leoneses de los siglos IX y X era la conciencia de la escasez de su propia población en
comparación con el gran número de adversarios musulmanes” (GLICK, 1993, p.81). Richard
Fletcher, ao tentar compreender o reino de Castela nos tempos de El Cid, também optou por
seguir a linha de pensamento de Thomas F. Glick. Em suas análises, Fletcher acredita que em
um mundo rude e duro, onde a guerra estava sempre por perto, é bem provável que uma das
características das zonas periféricas de Castela fosse a escassez de população. Para solidificar
sua hipótese, o autor cita um trecho de um poema de Fernán González que descreve o cenário
castelhano do século X como um local com “poucos homens reunidos numa terra pequena”
(FLETCHER, 2002, p.84).
Segundo André Bazzana, a debilidade demográfica, tanto do lado cristão quanto do lado
islâmico, transformou a fronteira em uma espécie de zona pouco ocupada, flutuante e imprecisa,
sendo considerada durante muito tempo como um espaço aberto a todo tipo de aventuras
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(BAZZANA, p.40). Do mesmo modo, Glick destacou que a historiografia recente tendeu a
construir uma imagem da fronteira escassamente povoada baseada em expressões extraídas da
documentação que, na verdade, poderiam possuir um valor retórico (1993, p.81), pois a
consciência de um espaço pouco habitado nasce da comparação entre a baixa densidade de
assentamentos cristãos e o progressivo aumento das habitações islâmicas quando se cruzava a
fronteira. Para Glick, a ideia de um território desabitado, ou de uma terra de ninguém, pode
significar também uma terra que carecia de uma organização política ou administrativa e que,
sendo assim, necessitava de uma colonização dentro da lógica de organização feudal do espaço
(1993, p.114).
Acreditamos ser perfeitamente compreensível uma classificação inicial do espaço
fronteiriço como uma terra de ninguém, que a existência de um povo com concepções
político-religiosas tão distintas dos castelhanos, como foram os muçulmanos, aumentava
constantemente a expectativa de confronto e a sensação de insegurança, que poderia facilmente
levar os grupos humanos instalados na fronteira a perceberem esse espaço como um local que
escapava do controle exercido pelo poder real. Todavia, ainda que exista um vácuo entre as
terras controladas pelos cristãos e o território ocupado pelos muçulmanos, o espaço fronteiriço
foi, durante a Reconquista, um local disputado, principalmente após o desenvolvimento da
noção de soberania, no século XIII, e com ele a concepção de que o poder real se manifesta não
mais sobre um conjunto de súditos, mas sobre um espaço físico determinado por fronteiras
específicas.
Muitos autores, a exemplo de José Rodriguez Molina e Richard Fletcher, caracterizaram
a fronteira como um espaço deserto e solitário, onde se encontravam homens maus,
aventureiros, criminosos e escravos fugitivos. Na região de fronteira, segundo as investigações
de Fletcher, “vastas extensões de terra ainda se encontravam em estado agreste (...), elas eram
habitadas também por gente voluntária ou involuntariamente marginalizada da sociedade
humana” (2002, p.85). Explorar uma fronteira como um espaço marginal não é uma novidade
da historiografia atual. No fim do século XIX, através da observação da expansão americana
para o Oeste, Frederick Jackson Turner revelou a fronteira como um amplo campo de estudo
para os historiadores, defendendo-a como “o pico da crista de uma onda o ponto de contato
entre o mundo selvagem e a civilização” (KNAUSS, 2004, p.24). Este ponto de contato, ou
seja, a zona de fronteira, recebeu nos estudos de Turner o nome de wilderness
1
. Por representar
uma natureza inóspita e remota da paisagem fronteiriça, o termo wilderness é o equivalente à
expressão tierras de nadie (terras de ninguém) utilizada na historiografia espanhola. A região
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inóspita de wilderness, quase sempre em contato hostil com os povos indígenas, foi responsável
pela promoção da nacionalidade americana, uma vez que, enquanto o litoral permanecia
preponderantemente inglês, a fronteira oeste atuou como uma espécie de escola de treinamento
militar, mantendo viva a força de resistência à agressão, desenvolvendo as qualidades vigorosas
e rudes do homem da fronteira” (KNAUSS, 2004, p.35).
No caso do medievo, Jacques Le Goff também insistiu que a violência e o desrespeito
aos mecanismos de enquadramento social permitem propor a fronteira como um mundo,
caracteristicamente, fora da lei. O desejo de aventura e de promoção social existente nas zonas
periféricas do mundo medieval tornaram-nas um terreno amplo de conquistas, penetráveis por
indivíduos com interesses econômicos e religiosos. Para o autor, “o mundo da fronteira é assim,
por excelência, o do aut law(LE GOFF, 2006, p.208). Curiosamente, um recente estudo de
Emílio Martín Gutiérrez, acerca da fronteira de Arcos no século XIII, levantou algumas dúvidas
sobre o conceito de terras de ninguém. Mesmo entendendo que o território fronteiriço estava
sujeito a constantes cavalgadas, com objetivo de interromper o trabalho agrícola e a exportação
da produção, Martín Gutiérrez deixa claro que não está totalmente convencido de que a
expressão terras de ninguém refletia a verdadeira realidade da fronteira entre Castela e al-
Andalus:
Sin embargo tengo mis dudas en relación con la equiparacíon de esta zona fronteriza
con una zona de nadie o un espacio vacío. Apesar de que la Frontera fuese un lugar
inseguro, el aprovechamiento de los recursos en esos espacios continuó durante los
siglos bajomedievales (2016, p.183).
Certamente, os achados arqueológicos encontrados na zona de fronteira, como pontas
de lanças, punhais e flechas, que evidenciam sua função bélica e o clima de insegurança que
pairava na região, sugerem que travessia da fronteira era mais frequente do se imagina.
Para os castelhanos, a área situada entre a borda das terras islãmicas e o extremo de seu
território era considerada completamente hostil. Sem dúvidas, os principais fatores que
acentuavam essa percepção negativa sobre o espaço fronteiriço foram a sensação de
insegurança que dominava o ambiente e a presença de um grupo humano considerado de baixa
índole, em virtude de um relacionamento mais estreito com os muçulmanos do outro lado da
fronteira. Dentro das análises de Thomas F. Glick, a consciência da escassez de sua própria
população, em comparação ao grande número de muçulmanos foi o elementoe básico de
percepção da fronteira pelos castelhanos, pelo menos entre os séculos IX e X (1993, p.81). Para
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o autor, foi somente com a morte de al-Mansur, em 1002, e o deslocamento da balança de poder
em favor dos cristãos que o sentimento de percepção da fronteira começou a mudar. Os reis
castelhanos aumentaram constantemente sua força e iniciaram a concessão de foros ou cartas
de titularidade para terras que ainda estavam sob o domínio islâmico (Imagem 2).
Imagem 2 As campanhas de al-Mansur
Fonte: GARCÍA DE CORTÁZAR, 2007. p.153.
Cronologicamente, a ocupação do espaço em al-Andalus pode ser compreendida se a
perspectiva de García de Cortázar estiver correta, através de algumas etapas distintas:
Seguimo aceptando, por ello, cinco fechas clave: 912, llegada de los castellanos al
Duero; 1085, llegada al Tajo y consolidación del espacio entre Duero e Tajo; 1212,
llegada a Sierra Morena y consolidación del territorio entre el Tajo y aquélla; 1264,
control de la Andalucía bética; 1492 domínio de la Andalucía penibética. Las
diferencias de tirmos entre las distintas etapas de ocupacíon del espacio permiten
plantear la hipótesis de la incidencia que uma mayor o menor duracíon de cada una de
ellas pudo tener en la configuracíon social y económica de los distintos espacios como
amplias unidade regionales (2004, p.19).
Nesse fenômeno, em que uma necessária alteridade positiva se espalhou pela Andaluzia
semelhante a uma mancha de azeite (GARCÍA FERNANDEZ, 2016, p.144), os castelhanos
iniciaram uma lentíssima marcha em direção ao Estreito de Gibraltar, empurrando a faixa
fronteiriça para o sul da Península Ibérica, contribuindo, assim, para transformar um espaço
sócio-político, que praticamente não existia e, que se diga de passagem, era atravessado
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majoritariamente pelos muçulmanos, em uma extensa área de mobilidade territorial e
sociocultural que não pertencia, inteiramente, nem às autoridades islãmicas e nem aos reis
cristãos.
O arcebispo Rodrigo Jiménez de Rada, descrevendo a tomada do castelo de Ferral, que
ficava na região fronteiriça de Jaén, conseguiu preservar em sua crônica parte deste ambiente
hostil que fugia do controle dos líderes cristãos. Na Historia de Rebus Hispanie, Rodrigo de
Toledo narrou que depois da ocupação do castelo de Ferral:
Un destacamento de moros vigilaba el passo de los cristianos durante ese día y parte del
siguiente, y alse produjeron aquel día bastantes escaramuzas entre los nuestros y ellos,
de manera que hubo algumas bajas, pero no muchas, por ambos os bandos (JIMÉNEZ
DE RADA, 1989. Livro VIII, Capítulo VII, p.317).
Os cronistas reponsáveis pela composição da Primera Crónica General de España,
talvez inspirados pelo texto do Toledano, também deixaram transparecer que, além de existir
uma certa noção dos limites por onde se extendia o poder real castelhano, havia, inclusive, uma
clara consciência de que ultrapassar este limíte impreciso significava adentrar em um território
desfavorável e submeter todo o grupo humano que realizou esta transposição a uma possível
pressão militar contínua, a exemplo do que suportaram as tropas comandadas pelo mestre da
Ordem de Santiago fora do território castelhano:
Don Pelay Correa maestre de la orden de Vcles, con su caualleria, que eran entre freyres
et seglares dozientos et ochenta caualleros, fue pasar el rio, et paso allende de la outra
parte so Eznalfarax, a gran peligro de si et de los que con el eran, ca mayor era el peligro
desa parte que de la outra; ca abenmafot, que a esa ssazon era rey de Niebla, les estaua
desa parte punaua de los enbargar quanto mas podia, et toda la outra tierra desa parte
era estonçes aun de moros (AFONSO X, 1977, cap. 1081. p. 750-751).
Através da análise das fontes, fica claro que a expressão terras de ninguém é uma
construção própria da historiografia a partir das características da fronteira que a documentação
permitiu enxergar. Portanto, essa expressão não poderá ser encontrada literalmente nas crônicas
latinas ou mesmo na Crónica General, ainda que a maneira como seus autores descreveram o
imaginário fronteiriço, como acabamos de evidenciar pelas citações acima, permita-nos
entender as razões que levaram os pesquisadores a formular este conceito. De maneira geral, as
crônicas do século XIII nem sempre utilizaram a palavra fronteira para indicar a transposição
de um espaço para o outro. Para os cronistas castelhanos, o mais importante era descrever os
resultados de um confronto militar e não a maneira como os cristãos chegaram a um
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determinado ponto estratégico, tanto é que a infiltração no território adversário foi
frequentemente generalizada por expresssões como intrauit in terram Maurorum
2
(BREA,
1984, p.79).
José Rodriguez Molina, analisando a convivência entre cristãos e muçulmanos na
Península Ibérica, assumiu que existe uma tendência em considerar a zona de fronteira como
um deserto estratégico onde criminosos e renegados de ambas as religiões viviam e conviviam.
Mas, para além desse mundo de excluídos (2007, p.35), o autor salienta que nesse espaço
também viveram numerosos pastores com seus rebanhos, lavradores que trabalharam em terras
arrendadas do outro lado da fronteira, caçadores que procuravam suas presas nos limites de um
povoado vizinho e mercadores que exploravam as rotas comerciais cortadas pela fronteira.
Assim como fez Rodriguez Molina, o historiador Jacques Le Goff também defendeu que as
transformações nas zonas periféricas não possuíram um sentído único, dentro de seus multiplos
objetivos, tais como a demografia, a economia ou a religião, pois o que houve foi espaço para
trocas e simbioses (2006, p.209).
Analisar a convivência entre mouros e cristãos dentro da Peninsula Ibérica, certamente,
não é uma tarefa tão simples quanto aparenta. A princípio, a suposta convivência entre cristão
e muçulmanos na Península Ibérica, uma temática muito influênciada por Américo Castro, foi
construída a partir das atitudes tomadas pelos califados islâmicos frente à população hispano-
goda submetida após as conquistas do século VIII. No início da ocupação muçulmana, a vida
política em al-Andalus esteve condicionada ao equilíbrio de forças entre duas minorias não-
muçulmanas e três grupos islâmicos culturalmente distintos. Quando se trata da temática da
convivência em al-Andalus, os cristãos moçarabes e os judeus são sempre mencionados como
exemplos de minorias não-muçulmanas que habitaram as terras islamizadas na Península
Ibérica. Em relação à população islâmica que fixou-se no al-Andalus durante o início de sua
colonização, acredita-se que estava subdivida entre três camadas sociais: Los árabes, que,
aunque pocos en número, constituían la élite dominante políticamente muy poderosa; los
bereberes, muy superiores en múmero a los árabes y una gran potencia militar; y los
neomusulmanes, muwalladun, que con el tiempo constituirían la mayoría de la populacíon”
(GLICK, 1993, p.217).
Ao contrário do que se pensa, a imagem que podemos construir da sociedade califal que
dominou o al-Andalus nos primeiros séculos de ocupação não é de uma sociedade integradora,
mas sim de uma sociedade excludente, pois, como insistiu García Fitz, as relações entre essas
comunidades distintas, tanto por laços religiosos como por laços culturais, nunca se
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desenvolveram em de igualdade, sendo marcadas por uma clara e inquestionável
superioridade de um grupo sobre o outro (2003, p.23). Embora os argumentos construídos por
Christopher Tyerman sobre a interação na Península Ibérica mereçam um certo
reconhecimento, principalmente quando o autor afirma que a sociedade de al-Andalus “não
produziu nem um apartheid cultural nem um Éden de harmonia multicultural” (2010, p.801), a
demasiada insistência em um califado omíada como uma terra de diversidade e de convivência,
onde cristãos viviam lado a lado com os vizinhos árabes requer uma revisão.
Se cristãos e muçulmanos permaneceram tolerados no al-Andalus foi, certamente,
devido às necessidades políticas e econômicas dos conquistadores árabes e bérberes, que
reconheceram a impossibilidade de impor seu domínio e submeter a população local com um
efetivo militar tão baixo, como o que havia atravessado o Estreito de Gibraltar durante a invasão
da Península. Para Garcia Fitz, ainda que cristãos e judeus tenham conseguido viver sob
domínio muçulmano sem ter que renunciar as suas crenças e seu modo de vida, isso não
significa que estamos diante de uma sociedade que procurou integrar culturas distintas. Afinal,
“el statu político, social y económico de los cristianos e de los judíos de al-Andalus esta
caracterizado por el signo de la exclusíon y de la inferioridad” (2003, p.24).
De qualquer maneira, a chegada de novas hostes vindas do Magreb nos culos XI e XII
reduziu drasticamente a possibilidade de sobrevivência de grupos cristãos dentro de al-Andalus,
uma vez que tanto o império almorávida quanto o império almôada trataram de acentuar o
caráter sagrado da guerra contra os reinos cristãos. Durante a dominação de ambos impérios
sobre o al-Andalus, a mais simples possibilidade do coexistência tornou-se impossível
(GARCÍA FITZ, 2003, p.27). No século XIII, quando Castela avançou para o sul, a convivência
nas terras islâmicas havia cessado por completo ou encontrava-se moribunda
(WHEATCROFT, 2004, p.102). Essa relação entre dominadores cristãos e dominados
islâmicos fora frequentemente interpretada como sintomas de tolerância e convivência entre
comunidades distintas. Contudo, a sociedade cristã reproduziu o mesmo fenômeno de
coexitência em um plano indiscutivelmente desigual, para não dizer de segregação ou de
exclusão social, que a sociedade muçulmana tinha práticado séculos antes, pois, partindo das
análises do autor, muitos muçulmanos permaneceram vivendo nas cidades conquistadas pelos
cristãos e puderam continuar praticando sua religião, a exemplo do fenomeno mudéjar.
Entretanto, quando se observa o cerne das relações produzidas neste período, devemos evitar
deixar-nos conduzir para o engano. Ainda que os grupos islâmicos tenham conservado parte de
sua estrutura social e religiosa, eles continuaram em uma situação de submissão político e
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militar com os castelhanos, que exigiam o vínculo vassalático, o pagamento de tributos e a
implatação de guarnições cristãs nas fortalezas muçulmanas (GARCÍA FITZ, 2003, p.30).
Infelizmente, o silêncio das fontes em relação à coexistência nas cidades próximas da
fronteira ou mesmo a carência de investigações sobre as relações comerciais com o mundo
islâmico, impedem-nos de entender com clareza como se deu o processo de interação entre
mouros e cristãos na fronteria durante o século XIII. O próprio Rodrigo Jiménez de Rada, na
condição de autor da Historia de Rebus Hispanie, não mencionou, em sua crônica, que no ano
de 1234 o papa Gregório IX respondeu a uma petição sua autorizando os habitantes de Quesada
a comercializarem bens de subsitência com os muçulmanos (COCA CASTAÑER, 2009,
p.370). Se por um lado as crônicas castelhanas deixaram de apresentar as possibilidades de
interação pacífica entre os grupos humanos que habitaram na fronteira, por outro lado elas não
pouparam esforços para destacar que o cotidiano nos limites da Cristandade tendeu a ser um
tando desafortunado.
Na Chronica Latina Regum Castellae, por exemplo, a transposição pela zona de
fronteira foi marcada pela necessidade de abrir caminho entre as fortificações vigiadas pelos
muçulmanos e a travessia por lugares de dificil acesso entre as florestas ou entre as montanhas
desertas (BREA, 1984, p.38). O próprio rei Fernando III, segundo esse documento, cavalgou
de Mérida a Córdoba através de uma terra inviável e deserta, entre a ameaça de ataque das
tropas islâmicas e os caminhos cobertos por lodo e por rios que haviam transbordado em função
do grande volume de chuvas (BREA, 1984, p.95).
No final do século XIX, Miguel Mancheño y Olivares, tentando valorizar o papel de
Arcos da Fronteira no contexto da Reconquista, concluiu que a vida naquele período devia ter
sido sobretudo azarada. Em sua obra intulada Apuntes para una historia de Arcos de la
Frontera, o historiador procurou imaginar o contidiano dos homens de Arcos através das
características que as crônicas indicavam:
Siempre alerta y vigilantes los que guarnecían los diversos castillos y atalayas que
avanzados en las alturas distantes servían de centinela perpetuo a la ciudad, hacían
señales com hogueras y ahumadas desde el momento que divisaban fuerzas com moros
por los campos. A aquel signo temeroso, los pastores y ganaderos recogían
inmediatamente sus ganados acercándose a la más próxima fortaleza, bajo cuya
protección se ponían, mientras que la mesnada de la cuidad, armándose a toda prisa salía
siguiendo su bandera a acometer los infieles y hacerlos huir despavoridos, en tanto que
las madres y las esposas corrían a las iglesias a pedir a Dios por la vida de sus hijos y
esposo. Cerrábanse todas las noches las puertas de la villa, que quedaba con segura
custodia, y hasta el amanece elaban sobre torres y murallas los vecinos armados, a cuya
hora abriéndose las puertas, salían por ella destacamentos de jinetes que verificaban una
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cuidadosa descubierta por todos las inmediaciones a fin de evitar una sorpresa del
enemigo (2016, p. 229).
Embora a historiografia tenha enxergado no despovoamento um dos principais aspectos
da fronteira, classificá-la como uma terra de ninguém ou um espaço desértico, sem submeter
seu conceito às reflexões necessárias, é arriscar-se a comprender sua realidade de forma
equivocada. Alguns autores, como García de Cortázar e André Bazzana têm optado por
considerar a fronteira como uma “terra de quase ninguém” ou um espaço “semivazio” entre
dois mundos rivais, uma vez que os limites entre al-Andalus e os reinos cristãos não foram
simplesmente uma terra vazia, embora seu frágil equilíbrio tenha contribuído para uma
permanente debilidade demográfica. Para Thomas F. Glick, a imagem dominante da fronteira
como um local deserto ou inabitável, dadas as usuais condições de insegurança e as ameaças de
incursões, possui um valor retórico (1993, p.75). Em suas análises, a baixa densidade de
assentamentos cristãos e a consciência da escassez de sua própria população em relação ao
grande número de adversários muçulmanos interferiram na forma como os castelhanos
observaram o espaço fronteiriço (1993, p.81). Sendo assim, a noção de terras de ninguém é uma
perpectiva que pode ser levada em consideração se tentarmos observá-la do ponto de vista
dos castelhanos que se deslocavam para sul, tendo em vista que os próprios cronistas do século
XIII sugerem que a população islãmica dentro da franja fronteiriça era relativamente maior do
que o contingente cristão.
Os clérigos responsáveis pela composição das crônicas latinas, através do uso de
metáforas e do provável desejo de inflamar a luta contra os mouros, categorizaram as tropas
inimigas como um enxame de abelhas (TUY, 1926, p.434) ou uma multidão comparável a areia
do mar, que em sua passagem pela fronteira era capaz de destruir os pastos com os cascos dos
cavalos e fazer os rios secarem (JIMÉNEZ DE RADA, 1989, p.299). O chanceler Juan de
Osma, dono de uma escrita menos alegórica do que Lucas de Tuy e Rodrigo de Toledo, optou
por uma descrição pouco romantizada das hostes muçulmanas, mas que, de maneira geral,
contribuiria para a super valorização do número de adversários: “Terribiles quidem erant
castrorum acies ordinate; nunquam tot et talia arma ferrea in Hispaniis uisa fuerunt” (BREA,
1984, p.30)
3
.
A super valorização do efetivo adversário não é uma novidade nas crônicas castelhanas.
Desde a antiguidade, tem sido comum a estratégia de fazer o número de inimigos paracer
infinito para destacar que a valentia e as bênçãos de Deus pairavam sobre os vencedores.
Embora seja difícil oferecer dados demográficos confiáveis para o período medieval, devido à
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inexistência de recenseamentos regulares ou registros de nascimentos e mortes (BASCHET,
2006, p.100), é bem provável que as cidades muçulmanas fossem mais populosas que as cidades
castelhanas em virtude das constantes ondas migratórias vindas do Magreb e por sua inserção
nas grandes rotas comerciais islãmicas desde o período omíada.
A este respeito, Richard Fletcher notou que, quando comparadas, as cidades cristãs que
ficavam entre o Tejo e o Guadalquivir pareciam pequenas e escassas frente às cidades prósperas
e maiores que existiam em al-Andalus (2000, p.164). É possivel também que a percepção do
cronista em relação ao exército islâmico estivesse relacionada às inovações táticas introduzidas
pelos almorávidas e almôadas na guerra de fronteira. Segundo Ricardo da Costa, os impérios
marroquinos acrescentaram às tropas regulares três fileiras de arqueiros, garantindo a
superioridade da infantaria e da arquearia sobre a cavalaria cristã. Além disso, renovaram a arte
da guerra através da utilização dos “sons escatológicos” (1998, p.91), geralmente com grandes
tambores, cuja função era amendontrar o inimigo.
Essa nova forma de fazer a guerra deve ter causado o pavor esperado em um grupo de
cristãos, que, até o limiar do século XIV, ainda não dispunha de um exército permanente. Reunir
um grande número de homens foi uma constante preocupação do poder central castelhano, uma
vez que a utilização de exércitos sazonais e de números variados o colocava em certa
desvantagem quando comparado ao mundo de al-Andalus.
Em última análise, o despovoamento da zona limítrofe e o abandono das áreas de
cultivo, que levaram os historiadores a classificá-las como uma terra de ninguém, possuem uma
tênue relação com o modelo de ocupação do espaço utilizado pelos castelhanos durante a Idade
Média Central. Tanto é que García de Cortázar chamou atenção para as características da
ocupação territorial que formou entre os cristãos uma imagem do espaço fronteiriço (2004,
p.20).
Para o autor, a maneira como os muçulmanos ordenaram o espaço através de grandes
aglomerados urbanos levou os castelhanos a aplicarem um modelo de ocupação, que começava
pelas incursões de devastação, para privar a população dos bens necessários para seu sustento,
seguia pela captura das fortificações, que constituíam sua defesa avançada e concluía com o
assédio da cidade (GARCÍA DE CORTÁZAR, 2004, p.20). Certamente, o processo de
ocupação do al-Andalus e a reação militar que a invasão cristã produziu na sociedade islãmica
acabaram contribuindo para o abandono da região de fronteira, tendo em vista que a população
inerme, por sua vulnerabilidade, era geralmente a mais afetada pelas incursões de saque no
território inimigo.
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Manuel Alejandro Rodríguez de la Peña defendeu uma posição particularmente
interessante para nosso estudo. Dentro de suas análises, a população civil do Ocidente latino
que habitou os territórios limítrofes com outras civilizações, durante a Idade Média, esteve
imersa em uma continua espiral de violência, uma vez que as expedições de saque, realizadas
com o intuito de amedrontar e desmoralizar a população civil, eram uma forma característica
de fazer a guerra pelos grupos que viviam de ambos os lados da fronteira (RODRÍGUEZ DE
LA PEÑA, 2009, p.32).
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Recebido em 04/04/2020.
Aceito em 20/05/2020.
1
Wilderness: Em uma tradução literal significa terra inculta, deserto ou selva. Deriva da palavra inglesa wild, cuja
tradução seria selvagem, no que se refere à paisagem (Livre tradução).
2
Entrou nas terras dos mouros” (livre tradução).
3
Em verdade, terríveis pareciam as filas ordenadas dos acampamentos; nunca tantas e tais armas de ferro se haviam
visto nas terras hispânica (Livre tradução).