Fronteiras: Revista Catarinense de História. DossFronteiras, migrações e identidades nos mundos pré-modernos. N 35, 2020/01
ISSN 2238-9717
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DOI: https://doi.org/10.36661/2238-9717.2020n35.11420
A Colonização Oriental e os processos de reformulação rural em Brandemburgo
(séculos XIIXIV)
The German East Colonization and the processes of the rural change in Brandenburg
(XIIthXIVth centuries)
Álvaro Mendes Ferreira
1
Resumo
Talvez a mais importante mudança promovida
pela Colonização Oriental (Ostsiedlung) tenha
sido a difusão e a consolidação do regime
senhorial, que transformou a paisagem rural
além do Rio Elba. O típico vilório eslavo foi
superado pela aldeia planejada, que era mais
populosa, mais dependente de cerealicultura,
organizada em lotes (mansus) e empregava
rotação de campos. A partir da análise de fontes
escritas (sobretudo o censual de 1375 a mando
do Sacro Imperador Carlos IV e de documentos
cartoriais compilados no Codex Diplomaticus
Brandenburgensis) bem como dos estudos
arqueológicos disponíveis na literatura,
procuraremos esquadrinhar os dois principais
processos de transformação do espaço rural em
Brandemburgo: a absorção dos vilórios eslavos
pelas aldeias cerealíferas alemãs e a
reestruturação endógena dos assentamentos
eslavos em aldeias cerealíferas de feitio alemão.
Nossa hipótese principal é que os
assentamentos eslavos cerealíferos foram
aqueles que, por suas homologias estruturais,
sofreram mais precoce e intensamente as
influências da aldeia alemã, promovendo no seu
bojo a germanização dos nativos, enquanto os
vilórios extrativistas puderam ocupar nichos
econômicos onde a hegemonia germânica não
se fazia sentir e puderam resistir por mais tempo
à aculturação. Uma hipótese secundária é que a
aculturação dos eslavos dentro da aldeia alemã
foi favorecida por sua presença significativa
como cabaneiros, posição social inferior
derivada, sobretudo, de limitações materiais
para a exploração plena como cerealicultor.
Concluímos pela importância de se entender,
para o medievo e além, os processos de
aculturação no seu vínculo com a resistência
camponesa à senhorialização.
Palavras-chaves: Colonização Oriental
(Ostsiedlung); senhorio; assentamentos rurais;
Marca de Brandemburgo.
1
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Historiador no Instituto de Terras e Cartografia
do Estado do Rio de Janeiro (Iterj). E-mail: alvarofigueiro@yahoo.com.br.
Abstract
Perhaps the most important change brought
about by the German East Colonization
(Ostsiedlung) was the diffusion and
consolidation of the manor beyond the Elbe.
The typical Slavic hamlet was superseded by
the German planned village, which was more
populous, more dependent on cereal farming,
was organized in hides and employed crop
rotation. By means of written sources
(especially the 1375 manorial survey at the
behest of the Holy Emperor Carl IV and notarial
acts in the Codex Diplomaticus
Brandenburgensis) as well as archaeological
studies, we will look upon the two main
processes of transformation of the Brandenburg
country: the incorporation of the Slavic hamlets
into the German villages and the endogenous
restructuring of the Slavic cereal farming
settlements into German-style villages. Our
primary hypothesis is that the Slavic cereal
farming settlements, due to structural
homologies, suffered influences from the
German villages earlier and more intensely than
the fishing and extractivist hamlets which,
occupying a different economic and ecological
niche, managed to resist acculturation for a
longer time. A secondary hypothesis is that the
acculturation within the German village was
speeded up by the significant presence of Slavs
as cotters. We conclude stressing, for the
Middle Ages and even latter centuries, the
importance of understanding acculturation in
connection with peasant resistance to
manorialism.
Keywords: German East Colonization
(Ostsiedlung); manorialism; rural settlements;
March of Brandenburg.
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Introdução
A Colonização Oriental (Ostsiedlung) tem sido pouco tratada na medievalística brasileira.
Este artigo propõe-se, portanto, a apresentar as linhas gerais do processo, cuja comparação com
outros movimentos de expansão da sociedade feudal, como a Reconquista Ibérica bem mais
conhecida na nossa historiografia , poderá ser muito profícua. A essa exposição sumária da
Colonização Oriental dedicamos a primeira seção do artigo, que também trata das
problemáticas imbricações entre historiografia e nacionalismo.
1
A segunda seção, após esboçar a colonização germânica da Marca de Brandemburgo a
partir de sua fundação em 1157, propõe-se a estudar, a partir de fontes arqueológicas e escritas
(censuais, crônicas, forais e documentos cartoriais), como ocorreu a reformulação do espaço
rural brandemburguês até o fim do século XIV. Nossa hipótese central correlaciona a
aculturação dos eslavos à maior ou menor homologia dos assentamentos nativos com a aldeia
cerealífera planejada alemã: quanto mais dependente da cerealicultura era um assentamento
eslavo, mais rapidamente ele tendia a reformular-se ao feitio da aldeia alemã e,
concomitantemente, a germanizar-se; por outro lado, os assentamentos organizados em
atividades econômicas extrativistas, como pesca e exploração florestal, tendiam a resistir à
reformulação, de maneira que neles, até o fim do século XIV, perdurarão de maneira mais clara
traços culturais que permitiram às fontes coevas caracterizar seus habitantes como eslavos.
Também abordaremos o processo de aculturação dos eslavos a partir da estratificação social
dentro da aldeia cerealífera. Concluímos com uma breve reflexão sobre a relação entre
resistência camponesa ao processo de senhorialização e de aculturação.
A Colonização Oriental
A partir do ano 1000, a Europa Ocidental vivencia crescimento populacional a taxas
incomuns aos regimes demográficos pré-industriais. A curva da expansão acentua-se no século
XII, retardando-se apenas em fins da centúria seguinte para ruir estrondosamente a partir de
1347 com irrupção da Peste Negra. No breve intervalo entre 1000 e 1300, demógrafos estimam
que a Europa Ocidental saltou de 23 milhões de habitantes para 50 milhões (HENNING, 1994,
p. 13; FOSSIER, 1970, p. 118-119). A expansão foi tão significativa que certas regiões
atingiram densidades demográficas que nunca mais voltariam a ser repetidas. As manifestações
de tal crescimento foram múltiplas: num plano mais comezinho, a arroteia de florestas e
charnecas, a drenagem de pântanos, a construção de pôlderes nos Países Baixos, a ocupação de
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terras marginais, a construção dos grandes templos góticos; num plano mais amplo, as
Cruzadas, a Reconquista na Península Ibérica e a Colonização Oriental (Ostsiedlung)
(RÖSENER, 1985, p. 50).
Por Colonização Oriental entende-se o movimento emigratório de centenas de milhares
de alemães para os territórios a leste dos rios Elba e Saale, regiões habitadas por povos falantes
de línguas eslavas e, mais restritamente, bálticas ou fino-úgricas. A emigração germânica
começou timidamente em meados do século X, mas veio a ganhar grande impulso nos
séculos XII e XIII. Entre os emigrantes, preponderavam os oriundos das zonas onde se falavam
os diversos dialetos alemães sobretudo, do médio-baixo-alemão , mas também estavam
presentes flamengos, dinamarqueses e suecos. Para fins de comodidade, neste artigo nos
referiremos a esse grupo de emigrantes simplesmente como “alemães” e “germânicos”. Embora
o entendimento predominante hoje seja o de que a implantação do colono germânico não tenha
significado o extermínio da população balto-eslava, de modo que a colonização se teria
desenrolado num cuo demográfico (HOERDER, 2010, p. 31-33), é inegável que sobretudo
nas zonas onde se instalou a hegemonia de uma aristocracia germânica por meio de campanhas
militares, como na Prússia, o processo se revestiu de caráter de conquista e resultou em
mecanismos de discriminação contra a população nativa.
Entre as consequências da migração germânica, esteve a expansão e a consolidação para
a Europa Oriental das estruturas sociais existentes mais à oeste (p. ex., Igreja Católica, senhorio,
feudalismo, novos regimes agrários, economia mais monetarizada). Embora a historiografia
mais recente não considere que as vagas migratórias tenham sido caudalosas (teriam sido
200.000 imigrantes no século XII e outros tantos no seguinte), o impacto do colono alemão foi
grande e, em certas zonas, tão significativo a ponto de ter desembocado na germanização quase
integral da população nativa, produzindo aquilo que se conhece como Germania Slavica, a
Alemanha surgida sobre o substrato eslavo (RÖSENER, 2006, p. 327; SCHLESINGER, 1975,
p. 23-24). A própria capital alemã, Berlim, situa-se em território dessa Germania Slavica e o
mesmo se podia dizer daquele reino que veio a unificar a Alemanha como Estado moderno, a
Prússia.
Por volta do ano 1000, de forma geral os eslavos eram ainda pagãos, seminômades, não
contavam com uma estratificação social pronunciada, praticavam agricultura incipiente,
dedicavam-se com mais intensidade à pecuária, à pesca e ao extrativismo, resultando em
densidades demográficas inferiores às da Europa Ocidental. Em vários aspectos, essas
sociedades eslavas assemelhavam-se às germânicas do começo da Era Cristã. E, da mesma
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forma como o mundo germânico incorporou e reelaborou as instituições romanas, nos séculos
IX e X assiste-se um movimento tímido de “aproximação estrutural” da Europa Oriental à
sociedade feudal (SCHICH, 1992). Surgem uns poucos núcleos de centralização política, como
o Grande Império Morávio, o Reino da Polônia e o Principado de Kiev. A influência ocidental
na organização dessas monarquias, sobretudo na zona onde as conversões se fizeram sob o
catolicismo romano e não sob o cristianismo ortodoxo, manifesta-se no próprio léxico que teve
de pedir emprestado ao alemão e ao latim palavras para funções políticas ou estruturas de poder:
do alemão derivam palavras como “rei” em serbo-croata, “duque” em russo e “lote” em várias
línguas eslavas (GIMBUTAS, 1970, p. 149).
2
No século XI, intensifica-se a emergência de
principados eslavos (obodritas, polabianos, pomerânios etc.), sobretudo na fronteira com os
seus homólogos germânicos.
Essa integração da Europa Oriental dentro do sistema de trocas simbólicas e materiais
do feudalismo só pôde ocorrer pela disseminação da célula econômica do período: o senhorio
rural (RÖSENER, 1997, p. 106; FOSSIER, 1970, p. 145) e o senhorio rural que transitava de
uma modalidade dominial, em que a terra indominicata era vasta, a sujeição pessoal dos servos
era severa e a corveia era principal forma de extração de sobretrabalho, para uma modalidade
rentista, que provavelmente foi um dos principais fatores para o desenvolvimento econômico e
demográfico experimentado na Idade Média Central. O senhorio rentista caracteriza-se por: a)
produção rural fortemente reorientada para cerealicultura (Vergetreidung, “cerealização”); b) o
controle da produção pelo próprio camponês; c) lotes maiores em função de incremento técnico
que permitia cultivar áreas mais extensas; d) vínculo pessoal mais frouxo com o senhor; e)
generalização da rotação trienal onde climaticamente eram factíveis duas semeaduras anuais; f)
a concentração demográfica em aldeias (Verdorfung, “aldeamento”); g) a generalização de
paróquias nas aldeias; h) o surgimento de instâncias aldeãs de controle social, que, entre outras
tarefas, regulavam a rotação dos campos; e i) incremento da economia monetária
(KUCHENBUCH, 2003).
Seguindo o modelo pull and push para explicar as migrações, a difusão do senhorio
rentista propiciou excessos demográficos em certas zonas quer pela impossibilidade de
expansão horizontal do espaço cultivável, quer pelas restrições dos regimes de herança integral.
Nesse último aspecto, mencionemos que, pela Alemanha, preponderava a Anerbe, que excluía
a subdivisão do lote, obrigando os secundogênitos a se submeterem ao irmão mais velho ou a
irem buscar terras noutro lugar (HENNING, 1994, p. 38-40). Esses eram os fatores favoráveis
à emigração pelos alemães. Os fatores favoráveis à imigração para além do Elba eram a
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disponibilidade de terras férteis ainda por se cultivar e os incentivos oferecidos pelos senhores
aos colonos. Havia terras a cultivar, porque a densidade demográfica era ainda baixa e porque
os eslavos favoreciam os solos arenosos por não terem ainda generalizado técnicas e tecnologias
para drenar e lavrar os solos mais férteis, argilosos e amiúde encharcados. Não à toa o lote
típico da Colonização Oriental seria chamado de “flamengo” (flämische Hufe) pelo papel dos
imigrantes dos Países Baixos, então peritos em secar pântanos (ESCHER, 1987, p. 318-319).
Também atraindo os colonos estavam as vantagens como lotes maiores (o lote flamengo, orçado
em 16 hectares, era o dobro do usual), menos exações senhoriais, corveias quase nulas.
Para a arregimentação dos colonos e a criação da aldeia, o senhor geralmente contratava
os serviços de um locator (conhecido na Alemanha meridional como Reutmeister e na
Pomerânia como possessor, geralmente um pequeno nobre, um ministerialis, mesmo um
burguês, mais raramente um camponês abastado) que, em paga dos seus serviços, recebia
benefícios como lotes isentos de ônus senhoriais, algumas prestações dos camponeses, o direito
a explorar a taverna e/ou a chefia da aldeia (praefectura, Schultheiß, Meierei). Como tais aldeias
eram fruto de planejamento, a própria interrelação espacial entre lares, agros, pastos, baldios,
igreja paroquial etc. seguia uma lógica prévia, em muitos casos até hoje discernível (p. ex., as
Angerdörfer, onde o casario rodeava um rossio geralmente elipsoidal em cujo centro se
encontrava a igreja paroquial e os pastos comunais, às vezes um viveiro de peixes e outras
construções; ou as Straßendörfer, onde o casario se alinha nos lados de uma rua).
3
O fato de a aldeia nascer praticamente pronta a partir da iniciativa do senhor e do plano
do locator autores que os consideram, talvez com exagero, quase especuladores
imobiliários (SCHLESINGER, 1975, p. 26-27) implica em que aquelas transformações que
no senhorios da Europa Ocidental tinham de ocorrer de forma orgânica, com idas e vindas, com
conflitos e negociações (p. ex., a concentração das moradias na aldeia ou a organização dos
campos para o sistema trienal), puderam implantar-se na Europa Oriental sem resistência de
estrutura prévias, pois o senhorio inexistia ou era muito embrionário. consenso na
historiografia em considerar que foram nas zonas coloniais do Leste Europeu onde não o
senhorio rentista se apresentou na sua roupagem mais completa como também onde o
campesinato fruiu de melhores condições (PERKINS, 1986, p. 292; CERMAN, 2014). Perry
Anderson retomando as teses sobre o caráter dinamizador da fronteira por Frederick Jackson
Turner e por James Westfall Thompson observou um paralelo com o capitalismo, que pôde
envergar as vestes mais modernas não na Europa, cheia de vestígios feudais, mas nas regiões
“abertas”, “de fronteira” como os Estados Unidos e a Austrália (ANDERSON, 1982, p. 243).
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Se há regiões como a Península Ibérica, onde houve colonização por iniciativa exclusiva
dos camponeses (presúria, presura, aprisio) (MÍNGUEZ FERNÁNDEZ, 1985, p. 15-18;
RUCQUOI, 1993, p. 136), no Leste Europeu a implantação de agricultores sempre é promovida
por um grande potentado como margrave ou arcebispo ou por uma ordem religiosa ou por um
aristocrata de menor envergadura. O principal móvel parece ser a geração de rendas monetárias
e cerealíferas: nos territórios orientais, na fundação de aldeias, ao contrário do Oeste, não se
preveriam sequer pastos. A interrelação entre o promotor da colonização, que podia ser tanto
alemão quanto eslavo, e a natureza do colono serão determinantes para a complexa evolução
política e para a dramática emergência dos Estados-nações orientais no século XX.
Desde 948 as elites germânicas tentavam penetrar em território eslavo com a fundação
dos bispados de Brandemburgo e de Havelberg, ambos sufragâneos a Magdeburgo. As
tentativas de se impor tributos aos eslavos, ainda pagãos, foi repelida em 983, mas no século
seguinte as emergentes aristocracias eslavas dos territórios fronteiriços ao Sacro Império
começam a se germanizar. Em 1147 é deflagrada, no bojo da Segunda Cruzada, uma campanha
organizada contra os eslavos pagãos (o que, como era de se esperar, não poupou cidades
episcopais de ataques), que mobilizou forças saxãs, dinamarquesas, suecas, e também
polonesas, eslavos cristãos. Embora essa Wendekreuzzung tenha malogrado nos seus propósitos
de conquista e de conversão, ela assinala a intensificação do processo de aculturação
(CHRISTIANSEN, 1997, p. 50-72). Até meados do século XIII, uma parte significativa do
território além do Elba terá sucumbido a aristocratas alemães (os Ascânios em Brandemburgo
e depois na Lusácia) ou às ordens militares germânicas (Teutônica e da Espada na Prússia e na
Livônia).
Onde as estruturas de poder eram mais complexas, alguns potentados eslavos
conseguiram fazer frente às agressões germânicas. Contudo a resistência da aristocracia eslava
em territórios como a Polônia de modo nenhum fechou a porta aos imigrantes alemães, pois
provavelmente havia a percepção de que apenas a generalização do senhorio poderia assegurar
bases econômicas mais modernas e mais sólidas: na Pomerânia as aldeias planejadas se
acumularam na década de 1240 justamente na faixa fronteiriça a territórios rivais como Rúgia,
Meclemburgo, Polônia e, o mais agressivo de todos, Brandemburgo (KUHN, 1975, p. 235). Ao
mesmo tempo, os alemães não se instalavam apenas como campesinos ou aristocratas, laicos
ou eclesiásticos, mas também como comerciantes, artesãos e mesmo mineiros (gente vinda dos
Montes Metalíferos para as minas boêmias). Invariavelmente as novas cidades emulavam os
forais de cidades alemãs, sobretudo Magdeburgo, Lubeque ou Kulm (ENGEL, 1993, p. 85-86).
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Tampouco os potentados eslavos deixavam de patrocinar a fundação de cidades alemãs
almejando mais rendas como ocorreu sistematicamente na Silésia do século XIII (ZERNACK,
1975, p. 793-794).
A junção de todos esses fatores na colonização produziu, no longo prazo, quatro grande
zonas étnico-culturais: a) Brandemburgo e Pomerânia: emigração significativa de aristocratas
e camponeses da Alemanha setentrional e dos Países Baixos; substancial germanização dos
eslavos durante o medievo; b) Prússia e Livônia: conquista por ordens militares; componente
alemão restrito às elites e à burguesia; germanização na Prússia completada no século XVIII;
c) Boêmia, Silésia e, em certa medida, Transilvânia: colonização rural e urbana pontuada por
núcleos dispersos mas bastante grandes; germanização limitada das populações nativas; d)
Polônia e Lituânia: colonização urbana mista por alemães e eslavos com hegemonia da
aristocracia balto-eslava; assimilação gradual dos alemães.
Os processos de dominação, assimilação, aculturação e resistência resultaram num
panorama étnico extremamente complexo que os nacionalismos do século XIX tornaram
explosivos. A relativa simplificação étnica dos atuais Estados-nações orientais decorre, em
grande parte, dos brutais e vastos remanejamentos de populações após o fim da Primeira e,
sobretudo, da Segunda Guerra Mundial. A historiografia o ficou imune a tais paixões
nacionalistas e, a bem dizer, foi completamente distorcida por ela após o fim da Primeira Guerra
Mundial, quando emergiram diversos países no Leste Europeu sem que neles estivesse
resolvida a questão das minorias étnicas. Do lado alemão e austríaco, que se viram privados
não de territórios, mas também de significativas populações germanófonas, as tendências
nacionalistas da historiografia descambaram para o revanchismo militarista, que, com a
ascensão do nazismo, vai-se concretizar num projeto político genocida. É a Colonização
Oriental que fornece não só o imaginário para as anexações e agressões no Leste, mas também
o próprio vocabulário: falava-se em Belehnung (enfeudação) para o assentamento de colonos
alemães que receberiam nos territórios conquistados um Hufe (o equivalente alemão do mansus,
o lote). De fato, Ostsiedlung e Drang nach Ost, termos científicos da medievalística, foram tão
abusados pela propaganda nazista que alguns estudiosos do pós-guerra sentiram a necessidade
de cunhar nova expressão que não soasse comprometida: assim se tenta falar às vezes em
deutsche Ostbewegung (“movimento alemão ao Leste”), suprimindo ademais as ideias coloniais
que porventura pudessem ainda pairar.
Ainda assim, a maioria dos corifeus da história agrária alemã, que se tinham alinhado ao
nazismo, jamais discutiram no pós-guerra os danos que o alinhamento ideológico produzira nos
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seus trabalhos. O artigo sobre a Colonização Oriental na prestigiosíssima Cambridge Economic
History of Europe, publicado pela primeira vez em 1941 e republicado na sua segunda edição
de 1971, foi escrito por Hermann Aubin que se engajou na politização das ciências socias sob
o nazismo (DEMADE, 2008, p. 176-180). Após 1945, a historiografia dos países eslavos
tampouco foi indiferente a uma instrumentalização política, pois havia o interesse em se
estabelecer um vínculo dos nazistas com a nobreza guerreira que, com a Ordem Teutônica,
conquistou a Prússia, como se a agressividade militar e o ódio aos eslavos fosse uma tara
nacional. Houve esforço sistemático de se minimizar o papel transformador da influência alemã
e vê-lo como mero processo de difusão de algumas instituições, sobretudo o direito. De
positivo, a historiografia desses países, pela própria influência ideológica do comunismo, deu
grande ênfase à arqueologia, ampliando bastante o leque de fontes à disposição do historiador
(GÓRECKI, 2008, p. 267-274). Entretanto, o balanço final dessas diversas formas de
historiografia foi torná-la bastante comprometida (GUERREAU, 1986, p. 1162).
Esforços mais sérios de enquadrar a Colonização Oriental fora de uma perspectiva
nacionalista aparecem na década de 1970, culminando com a coletânea de estudos organizada
por Walter Schlesinger em que a problemática se punha num âmbito europeu (SCHLESINGER,
1975). No entanto, os anos seguintes assinalam desinteresse crescente pela história econômica
e mais ainda pela história agrária, que, na Alemanha, se atrofia mais ainda (RÖSENER, 2006,
p. 335). Em certa medida, a reorientação geral das ciências sociais para temáticas identitárias e
o projeto de integração da União Europeia poderiam ter estimulado a historiografia sobre a
Colonização Oriental, que sem dúvida oferece problemas sobre etnia, aculturação e resistência.
Uma coletânea de artigos de 2002 buscou o enquadramento da Ostsiedlung dentro do panorama
da expansão centro-medieval, discorrendo sobre migrações e colonizações menos conhecidas
como a sueca na Finlândia e a polonesa na Lituânia (PISKORSKI, 2002). Contudo a falta de
uma base teórica comum e de um inventário das problemáticas conferem aos diversos estudos
caráter caleidoscópico. Ademais, como contraposição à retórica inflamada da historiografia
nacionalista, se enfatiza demasiado a cooperação sobre o conflito interétnico. Por mais que se
repita à exaustão que os nacionalismos estão superados na historiografia, uma visão bastante
excêntrica como obviamente sempre será a da medievalística brasileira pode às vezes ser
bastante profícua.
Na próxima seção, exploraremos sucintamente as interrelações entre o colono alemão
com o nativo eslavo na transformação do espaço rural em Brandemburgo. As questões
empiricamente tratadas a seguir podem servir a um debate mais amplo para as migrações que
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ocorrem durante a Idade Média Central, sobretudo na perspectiva da difusão do senhorio e da
dominação do campesinato: em qual medida as transformações sociais decorreram de
movimentos migratórios? em qual medida as estratificações sociais se formaram a partir de
etnias? em qual medida a etnia atua como um fator de resistência a essas transformações?
Breve estudo de caso: reformulação do espaço rural em Brandemburgo (séculos XII-XIV)
A Marca de Brandemburgo intensificou sua expansão em territórios eslavos a partir de
1157, consolidando conquistas no século seguinte. Na sua extensão máxima, Brandemburgo
era limitado a oeste pela Saxônia, a sul pela Mísnia, Lusácia e Silésia, a oeste pela Polônia e a
norte por Meclemburgo e pela Pomerânia. Ao contrário doutras regiões, a iniciativa
colonizatória dos mosteiros cistercienses e premonstratenses teria sido bem reduzida,
preponderando antes a da nobreza (ASSING, 1993, p. 118-119; ENDERS, 1995, p. 27). O
território de Brandemburgo raramente apresenta elevações acima dos 100 metros e dispõe de
rica rede hidrográfica e lacustre. Essas características, associadas ao clima frio e úmido, faziam
com que parte significativa das terras fossem pantanosas.
Como são escassas as fontes escritas, é muito difícil estabelecer a estrutura social da
sociedade eslava na região brandemburguesa mesmo para períodos mais avançados como os
séculos XI e XII. Uma combinação de arqueologia e história comparada permite entrever uma
classe dirigente que, a partir de fortalezas, controlava distritos geralmente abarcando entre 20 e
70 km². Junto às fortalezas viviam aglomerações de artesãos, forma de assentamento
tipicamente eslavo que viria a se conhecer em alemão como Kietz. Os agricultores viviam em
vilórios dispersos, geralmente sobre solos arenosos, mais fáceis de se trabalhar com
instrumentos aratórios leves. O cereal mais cultivado, de longe, era o centeio, seguido pelo
painço. Na escavação de uma fortaleza datada da segunda metade do século X, o centeio
corresponde a 69% dos pólens cerealíferos e o painço a 22%. Embora outras amostras dessa
mesma localidade sejam menos acachapantes (numa o centeio reduz-se a 36% e o painço a 6%),
palinogramas doutras escavações confirmam a importância de ambos os cereais, resistentes a
temperaturas baixas e tolerantes a solos pobres (como os arenosos) (KERSTING, 2007; STIKA,
2011). Além da pecuária, eram importantíssimas a pesca e a economia florestal, sobretudo a
recolha de mel silvestre. Em função dessa lógica econômica, os vilórios tendiam mais a se
situar junto às imediações dos rios e as clareiras do que sobre solos férteis, que, recordemos,
pressuporiam instrumentos aratórios mais pesados e/ou trabalhos de drenagem (RIBBE, 1987,
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p. 74-74; ENDERS, 1995, p. 267). Várias dessas características persistirão nos séculos
seguintes quando a colonização germânica já estiver bastante avançada.
A vinda do colono alemão junto com o senhorio resultou na importação de dois processos
que vinham alterando drasticamente a estrutura agrária europeia: a cerealização e o aldeamento
(SABLONIER, 1984, p. 730-732). A cerealização foi o processo de centralização maciça da
economia camponesa em favor do cultivo de quatro cereais: trigo, centeio, aveia e cevada. Sua
consequência foi reduzir bastante o peso tanto da economia pastoril e extrativista quanto o leque
das espécies cultivadas. Mesmo cereais outrora usuais como o painço e a espelta declinam ao
longo da Idade Média Central e da Baixa Idade Média para praticamente desaparecerem na
Idade Moderna. Como os cereais são um tipo de alimento facilmente estocável, facilmente
divisível e facilmente mensurável, seu comportamento pode ser aproximado ao do dinheiro. Na
transição para o regime rentista parece que a conversão das corveias em pagamentos
frumentários foi mais relevante que a conversão em pagamentos monetários (KUCHENBUCH,
1997, p. 133). Do ponto de vista senhorial, a cerealização permitia uma apropriação do
sobretrabalho campesino que se podia estocar como valor e não se dispender no consumo
imediato. Do ponto de vista campesino, a cerealização expandia a oferta de calorias, pois a
produtividade dos cereais era relativamente alta em face doutros cultivos, ainda mais quando
praticada conforme os sistemas agrários mais eficientes então existentes.
A implantação desses sistemas agrários, porém, pressupunha o aldeamento. Não se trata
apenas da substituição dos vilórios típicos da Alta Idade Média com cinco ou seis lares ou
mesmo da moradia isolada por concentrações demográficas mais significativas, com vinte,
trinta ou mais lares, mas também o surgimento de instâncias locais de controle do trabalho
aldeão e uma reformulação do espaço cultivado. À exceção das hortas, pequenas faixas de terra
em torno da sua casa, o camponês não dispõe de liberdade para plantar o que deseja no momento
que melhor lhe convier, pois é a aldeia que regula o calendário agrícola. Essa regulação, como
regra, visa a manter o funcionamento de sistemas de rotação cerealífera a fim de maximizar a
área de cultivo, repor a fertilidade dos campos pelo pousio e permitir alguma pecuária
(RÖSENER, 1999, p. 23). No limite, o sistema de rotação trienal (o mais difundido) mostrou-
se insustentável sem colapsos demográficos, mas funcionou bem enquanto houve espaço para
sua reprodução horizontal, isto é, pela ocupação de novas terras.
Em Brandemburgo, como alhures na Germania Slavica, o povoamento germânico se
caracterizaria por aldeias planejadas, de grandes dimensões, cerealicultoras, explorando solos
mais férteis e mais pesados graças à charrua submetidas a uma modalidade rentista de senhorio
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enquanto os assentamentos eslavos seriam menores, muito voltados à pesca e ao extrativismo,
às vezes sem mesmo uma divisão em lotes (Verhufung). No longo prazo, as estruturas trazidas
pelos alemães triunfaram como a forma dominante de organização no espaço rural. A questão
que se apresenta aqui é como se deu o estabelecimento do ponto de vista da interrelação entre
as estruturas alemãs importadas e as estruturas eslavas nativas.
A própria historiografia tem dificuldade de apresentar uma visão consistente para o
processo em Brandemburgo. Uma corrente defende reformulação radical da estrutura de
assentamento (GRINGMUTH-DALLMER, 1995, p. 264). Outra que diversas mudanças,
como a cerealização, teriam maturado antes da colonização germânica (IZDEBSKI, 2016).
De um lado, considera-se as aldeias alemãs surgindo sem nucleação nenhuma de vilórios
eslavos; do outro, que os nativos haviam desenvolvido estruturas muito próximas às alemãs e
simplesmente convergiram ao tipo de assentamento colonial. Embora deva haver casos em que
tais desenvolvimentos extremados tenham ocorrido de fato, o mais provável, a nosso ver, é que
o processo teve organicidade similar à transição do regime senhorial dominial para o rentista
na Europa Ocidental, com a diferença de que a organicidade às vezes apareça como ruptura em
função da maior discrepância entre o sistema agrário que se implantava e aquele preexistente.
Sem dúvida no último quartel do século XIV, o campo em Brandemburgo é amplamente
dominado pela empresa cerealífera como atesta o estudo do grande censual de 1375 que
inventariou todas as aldeias da Marca (a seção correspondente à Neumark, a mais oriental das
províncias, perdeu-se, mas podemos entrever algo da sua estrutura agrária por um censual mais
sumário e mais antigo, o de 1337) (FERREIRA, 2017). Embora no censual de 1375
encontremos algumas aldeias agrícolas especializadas p. ex., plantando ervilha, lúpulo e até
a vinha , um número mais significativo de vilórios dedicados à pesca e à economia florestal.
Mesmo nessa data tardia, após mais de dois séculos de colonização, a presença eslava nas
aldeolas pesqueiras e florestais é marcante a ponto de as fontes as descreverem em termos
étnicos. Essas aldeias extrativistas podiam chegar ao limite de sequer possuir campos
cultivados: “Gustebiss é aldeia eslava sem ter campos cultivados” (“Gustebiss est Slauica villa
non habens agros”) (LMB: 82).
4
Às vezes a atividade agrícola existe, mas é de tal forma
secundária que não há organização em lotes: Czyten é uma aldeola sem ter lotes, mas apenas
um quê de campos cultivados e aí vivem pescadores.” (“Czyten est villula non habens mansos
sed modicum de agro, et sunt ibi piscatores”) (LMB: 102). Quando existe alguma forma de
repartição espacial, ela ocorre baseada em superfícies mais modestas do que o lote como a jorna.
Também faltam as estruturas de beneficiamento típicas da aldeia cerealífera como o moinho e
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a taberna. Embora essas aldeias sejam também senhorializadas, as exações parecem bem mais
frouxas e não tão bem organizadas num sistema conforme se observa nas aldeias cerealíferas.
É comum que os pagamentos sejam cobrados não por unidade doméstica, mas pela aldeia
inteira. Na economia florestal, além da lenha, tinha grande importância a recolha de mel
silvestre, que, ao contrário da pesca, chegou a vir integrar o sistema de rendas senhoriais como
um tributo delimitado, a mellicidia. A presença eslava se ressalta nessa atividade que
germanizou uma palavra nativa, bardenicker, embora houvesse termo vernáculo, Zeidler. Em
certos casos, uma mesma aldeia participa das duas frentes de extrativismo, nos rios e nas
florestas: Smewitz pagava rendas tanto em pescado quanto em mel (LMB: 101). Se ainda
persistência bem visível de eslavos organizados para atividades extrativistas em fins do
Trezentos, reforça-se a tese de que a inflexão para a cerealicultura em Brandemburgo deveu
bastante à colonização alemã, mas, conforme logo veremos, é preciso tornar o quadro mais
complexo.
Esse período de fins do século XIV também conhece aldeias cerealíferas caracterizadas
como eslavas. Quase sempre se situam na vizinhança de uma aldeia alemã e até lhe repetem o
nome. Para distingui-las, as aldeias alemãs são adjetivadas como “grande” (große ou, em latim,
magna) enquanto as eslavas como “pequena” (kleine ou parva). De fato, as aldeias eslavas
costumam apresentar menos lotes que as alemãs (conquanto haja casos de inversão em que o
assentamento descrito como menor possua na verdade mais lotes). Embora raras em fins do
Trezentos, ainda é possível respigar menções ao lote eslavo, de dimensões mais modestas do
que o flamengo: em 1375 em Cotzyn fala-se em mansi theutonicii e slavici e o mesmo ocorrerá
em Lögow para datas avançadas como 1437 e 1491 (LMB, p. 187; KRENZLIN, 1952, p. 90).
No mosteiro de Eldena, na Pomerânia Ocidental, as razões dos tamanhos diferentes explicitam-
se nos próprios termos latinos que designam os lotes: uncus (arado leve) eslavo e o aratum
(charrua), este medindo o dobro daquele (HENNING, 1994, p. 221). Helmoldo de Bosau, na
sua crônica sobre os eslavos escrita no último quartel do século XII, afirma que o instrumento
aratório na região imediatamente a leste do Elba dependia de um ou dois cavalos ou de um par
de bois, quantidade de animais muito inferior à necessária para a tração da charrua
(VERHULST, 2002, p. 68).
5
Mesmo regiões que conservaram idiomas eslavos sentirão a
influência germânica na generalização do lote dimensionado para a charrua como o módulo
agrário por excelência, pois o conceito tomou de empréstimo um vocábulo alemão (p. ex., o lan
tcheco e o łan polonês derivam, numa semântica indireta, de Lehen, “feudo”).
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Embora compondo fração minoritária do espaço rural brandemburguês em fins do século
XIV, os assentamentos eslavos, tanto os cerealíferos quanto os extrativistas, permitem entrever
nas suas características vestigiais os elementos originários sobre os quais o processo de
colonização teve de atuar para produzir as grandes aldeias cerealíferas alemãs planejadas.
dois grandes mecanismos de reestruturação: a) a absorção dos vilórios eslavos nas aldeias
planejadas alemãs; e b) a reformulação gradativa e endógena dos vilórios eslavos em aldeias
cerealíferas de feição germânica.
A absorção é muito bem documentada pelas escavações arqueológicas em Zehlendorf.
Trata-se de aldeia-praça, planejada, cujo surgimento e cuja expansão coincidem
cronologicamente com o fim de quatro vilórios das redondezas. Primeiro, quando Zehlendorf é
fundada em 1220, desaparecem duas aldeolas num raio de cerca de um quilômetro. Depois, ao
expandir-se para o sul por volta de 1300, somem mais duas aldeolas, um pouco mais distantes
e um pouco maiores que as anteriores como se a atração centrípeta de Zehlendorf fosse
aumentando ao longo do tempo. Os quatro vilórios existiam desde fins do século XII, portanto
eram anteriores à aldeia alemã, e tinham solos arenosos à margem de lagoas enquanto
Zehlendorf se situava distante d’água e justamente onde começavam as terras argilosas. A
lógica da supressão dos vilórios aponta não só para a reorientação do povoamento, mas também
da estrutura agrária, pois a aproximação aos solos argilosos, pesados, presumem intensificação
da cerealicultura enquanto o afastamento das lagoas, declínio relativo da pesca. Num dos
vilórios desaparecidos, onde se realizou a maior escavação arqueológica tocada na Alemanha,
não se encontrou nenhum vestígio de charrua, de modo que se pode presumir que a localização
distante dos solos argilosos implicava também em que não eram explorados antes da fundação
de Zehlendorf (MÜLLER, 1975, p. 322, 325-326).
Os mecanismos concretos que operavam a supressão de vilórios eslavos não são muito
explícitos na documentação. Embora alguma aproximação espontânea deva ter acontecido,
graças às novas possibilidades técnicas de se explorar os solos mais férteis como no caso de
Zehlendorf, entrevê-se aqui e ali nas fontes escritas mecanismos de coação e esbulho. Em 1159,
o mosteiro de Ballenstedt vendeu a colonos flamengos dois vilórios eslavos que foram fundidos
numa única aldeia, repartida em 24 lotes, portanto seguindo alguma forma de planejamento
(HELBIG; WEINRICH, 1975, p. 62). Tendo remanejado os camponeses eslavos, o mosteiro
pôde interferir mais ativamente no espaço circundante e reconvertê-lo à lógica da aldeia
cerealicultora. Essa transação que envolve aldeamento, venda e colonização decerto se
justificou pela implantação de uma igreja paroquial, em torno da qual deveriam morar os
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camponeses. É bastante sabido o papel que a Igreja, mediante as paróquias, teve no processo de
aldeamento e, por tabela, de expansão do senhorio pela Europa afora, sobretudo nas zonas de
fronteira do feudalismo (RÖSENER, 1999, p. 18; BLOCH, 1968, p. 36).
Há exemplos que corroboram essa hipótese de a Igreja promover a expansão do senhorio
pelo enquadramento do espaço rural nas malhas da rede paroquial. Em 1246, o bispo de
Halberstadt instava a ereção de uma igreja para quatro aldeias, onde alguns camponeses,
embora vinculados a uma freguesia, ainda persistiriam em práticas pagãs (HELBIG;
WEINRICH, 1975, p. 156).
6
Esse tipo de acusação, por mais implausível, teria fumos de
verossimilhança se parte significativa dos aldeões fosse eslava. Curiosamente os nomes das
quatro aldeias são alemães, ou seja, nalguma medida procuraram emular os modelos alemães,
mesmo quando acaso por iniciativa de potentados eslavos e povoada por eslavos. Ademais a
aldeia se situa a oeste do Elba, em zona de germanização antiga, e a data da queixa é tardia em
face do processo de cristianização. Diante de todos esses elementos, o mais provável é que o
bispo identificou como paganismo os ritos agrários e as práticas culturais de assentamentos
cristianizados que ainda discrepavam do que se reputava como a aldeia típica como justificativa
para reformulação mais radical das relações sociais, espaciais e econômicas. A nova paróquia
decerto se situaria numa das quatro aldeias e colaboraria no processo de enquadramento e de
controle socioespacial desses camponeses “pagãos”, cujo produto final provavelmente seria a
nucleação numa única aldeia. É muito significativo que uma das características recorrentes das
aldeias eslavas brandemburguesas, sobretudo as extrativistas, é não contarem com paróquia
mesmo em fins do século XIV (ASSING, 1993, p. 117-118).
As exações senhoriais também exerciam um papel na reconversão do espaço rural.
Quando o senhor exigia irrevogavelmente o pagamento em certo produto e não em dinheiro
, o camponês, mesmo quando o cultivo lhe fosse desinteressante, não poderia deixar de plantar
uma parte das suas terras para atender as exações. Como cada vez mais no senhorio rentista, as
exações perdem o caráter pessoal e sua cobrança só varia em função da quantidade de lotes que
a empresa camponesa explora, a produção da aldeia inteira acaba, em maior ou menor grau,
determinada pelos interesses senhoriais. Os cistercienses de Amelungsborn, que tinham vários
abadengos na Pomerânia na fronteira com Brandemburgo, em começos do Trezentos chegaram
a definir pagamentos para áreas desocupadas que sequer lhes pertenciam ainda. Na aldeia de
Randow, além dos pagamentos de um dízimo agrário e de um frango, os monges esperavam
cobrar um moio de centeio. Os lotes submetidos aos mosteiros nessa aldeia pagavam seis
moios de centeio. A cobrança de uma quantidade inferior de centeio pode decorrer de as
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superfícies serem menores ou de os monges proporem um incentivo à ocupação, mas escancara
a intenção de reconverter o agro à cerealicultura; o próprio termo usado para descrevê-las
(“area”) dá a entender menos searas do que hortas (CDB: I, 453).
7
Evidentemente quando as exigências eram demasiado inconvenientes, os camponeses
burlavam-nas. Em 1295, o bispo de Magdeburgo exigiu que três aldeias voltassem a pagar a
trigésima em cereais e não em dinheiro como fizeram no ano anterior (CDB: VIII, 181). Além
do ônus do carreto com os cereais, os aldeões decerto queriam evadir-se da inflexibilidade da
produção cerealífera e explorar as possibilidades de cultivos mais especializados que o mercado
abria, sobretudo nas proximidades de cidades. Em casos mais extremos, até os senhores mais
recalcitrantes tinham de ceder, como o bispo de Brandemburgo em 1351 que aceita receber
dinheiro no lugar da trigésima cerealífera “por conta da esterilidade dos ditos lotes” (propter
sterilitatem dictorum mansuorum”) (CDB: VIII, 268-269).
Além da absorção por aldeias alemãs, os assentamentos eslavos também sofreram
processos internos de mutação. Em dois séculos e meio de existência, Diepensee revela quatro
fases em que se lhe alteraram a extensão, o número de casas e o formato. Na sua fase inicial,
por volta de 1200, distribuição aleatória das casas e a uma paliçada circular, indício de
assentamento eslavo. Antes de ser abandonada em meados do século XIV, Diepensee possuía
conformação de aldeia-praça, inclusive com uma igreja de pedra, material nobre por escasso
em Brandemburgo (WITTKOPP, 2013, 2014). Aqui estamos diante de um processo endógeno
de aproximação gradual e não de uma criação ex nihilo embora sua fase final apresente o feitio
de uma aldeia planejada. Essa mutação bem cadenciada embora relativamente rápida, afinal
o povoado não durou nem um século e meio talvez esteja ligada à resistência de se converter
à cerealicultura um espaço rural que parecia orientar-se por outra lógica econômica (há grande
presença de plantas têxteis e tintórias nas fases iniciais) e ainda à condução do processo pelos
eslavos, que se aproximavam do modelo da aldeia alemã conforme iam aculturando-se,
desembocando inclusive na germanização do topônimo. vários outros casos de
assentamentos que primeiro aparecem como vilórios irregulares e transmutam-se em grandes
aldeias planejadas apenas no século XIII (ZERNACK, 1975, p. 784).
A toponímia assinala a interpenetração étnica no aldeamento. Embora o mais comum seja
a substituição de nomes eslavos por alemães, isso não significa sequer que o promotor da
colonização era germânico: na Prússia muitas aldeias eram batizadas com o nome alemão do
locator e posteriormente o próprio senhor que patrocinou a fundação da aldeia tomava o nome
germânico como seu (p. ex., o báltico Jone Sargini transmutou-se em Johann von Schillingdorf)
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(WENSKUS, 1975, p. 426). Em Brandemburgo, atestam-se mesmo casos de reversão do
alemão para nome eslavo como um documento de 1217 que esclarece que Prescele se chamava
“no seu antigo nome” (antiquo nomine) Tesenkerdorp (GRINGMUTH-DALLMER, 1999, p.
257). Essa terminação dorp é a forma do médio-baixo-alemão para Dorf, “aldeia”, que é um
elemento toponímico usual para as aldeias planejadas. Em 1375, uma aldeia chamada
Nyemcke, que decerto deve ser um adjetivo cognato nas línguas eslavas para “alemão” (LMB:
365). Não nenhuma indicação de que a essa altura a aldeia seja eslava. Esses exemplos,
alguns anedóticos, são ilustrativos das diversas marchas pelas quais caminham os processos de
colonização, de germanização e de assentamento planejado. Esses processos acabam
paradoxalmente obscurecidos pela abundância documental durante a segunda metade do
Trezentos, sobretudo graças ao grande censual de 1375. Nas fontes desse século os povoados
eslavos que discrepam bastante da aldeia cerealífera alemã seriam, por essa nossa interpretação,
na verdade apenas os vestígios de uma miríade de outros povoados que se amalgamaram nas
aldeias planejadas ou se reestruturam no feitio da aldeia planejada (germanizando-se
concomitantemente).
Cabe agora se perguntar a qual grau de subordinação social se atrelou a germanização dos
eslavos. Aqui também a historiografia se cinde. A corrente mais recente julga não haver
discriminação contra os eslavos nas aldeias, a começar pela própria lógica senhorial que
promovia a colonização. Sendo o lote, para o senhor, uma unidade fiscal cujo fim precípuo é
gerar renda monetária e cerealífera,
8
sendo a sujeição pessoal do camponês cada vez mais
próxima à de um arrendatário, é-lhe indiferente quem ocupará a terra desde que disponha dos
recursos para a produção. Um eslavo com família numerosa, charrua, cavalos, bois e sementes
seria muito mais bem vindo à mais teutônica das aldeias do que um alemão despossuído,
incapaz de lavrar o lote. É difícil, porém, determinar em qual grau essa interpretação da
condição parelha entre eslavos e alemães não é, por sua vez, reação a uma historiografia mais
antiga que, mecanicamente por injunções nacionalistas e políticas, equiparava posição social e
etnia. Que na Germania Slavica houvesse mecanismos discriminatórios é bastante evidente,
pois em diversas cidades existia cláusula que vetava o acesso dos eslavos à cidadania ou às
guildas (o Wendeparagraph). Mesmo cidades alemãs fora do território colonial, como
Lunemburgo, adotavam tais medidas discriminatórias (GLÜCK, 2002, p. 61; ENGEL, 1993, p.
157-158, 230). Mais ao sul, nas fronteiras orientais da Baviera e da Áustria, que também
experimentam expansão colonial rumo ao leste, a palavra que se disseminou para designar a
corveia (Robot), fenômeno social obviamente conhecido pelos camponeses bávaros e
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austríacos, derivou do vocábulo eslavo que pura e simplesmente significava “trabalho
(DEMADE, 2000, p. 20-21).
Mesmo que no campo não houvesse mecanismos formais de discriminação contra os
eslavos, o que de fato parece ser o caso, na prática o grupo dominante, em técnicas e capitais,
era o camponês alemão, que, em regiões como Brandemburgo, vinha amparado num poder
político composto por aristocratas e instituições alemãs ou germanizadas. Como a imigração,
embora significativa, não criou zonas etnicamente homogêneas em Brandemburgo senão em
enclaves bem restritos, os recursos, culturais e materiais, para a exploração nas grandes aldeias
cerealíferas acabaram tendo de ser aos poucos difundidos também pelos eslavos, que, ao
assimilá-los, se iam germanizando. Noutras regiões, como a Polônia, a existência de estruturas
de poder dominadas por eslavos assegurou que a importação cultural que trazia o senhorio, as
novas técnicas, a aldeia e a Igreja Católica não redundasse na perda do idioma em favor do
alemão e, consequentemente, a perda do nexo étnico. Nesse processo de difusão cultural que
está por trás da reformulação da estrutura rural do campo brandemburguês, o nativo tenderia a
entrar em desvantagem em face do colono, que dominava as técnicas, dispunha das
tecnologias e teria algum pecúlio.
Dentro da aldeia cerealífera alemã, havia um espaço para o camponês que carecesse dos
recursos para se configurar como mansionário: eram os cabaneiros. Essa oposição entre
mansionários e cabaneiros é constante na estrutura agrária da Europa medieval e persistirá
mesmo na Idade Moderna (HILTON, 1973, p. 33-34; DUBY, 1977, p. I, 312). Ambas as frações
de classe campesina são conhecidas pelos mais diversos nomes, mas, limitando-nos às fontes
brandemburguesas, o léxico sempre evidencia os mansionários como os camponeses por
excelência (agricolae, Buren, isto é, Bauern) capazes de explorar a superfície extensa do lote
(mansus) enquanto os cabaneiros são caracterizados pela moradia precária (cossatus,
latinização de Kötner) e pela exígua posse fundiária que lhes veda a cerealicultura e lhes
permite a modesta horta (ortulari). Ambos os grupos mantinham estreita dependência na
medida em que os mansionários sem mão-de-obra familiar suficiente para explorar os lotes
precisavam recorrer aos cabaneiros enquanto os cabaneiros dependiam dos salários, pois suas
hortas raramente bastavam para sustentá-los.
Embora parte integrante da aldeia, os cabaneiros sofriam restrições no acesso aos recursos
coletivos. Em certas aldeias, a inferioridade dos cabaneiros perante os mansionários era
reforçada, numa emulação senhorial, pela exigência de pagamentos. Em Brusendorpp, Rudow
e Schekendorpp, cada cabana efetuava um único pagamento monetário e isso em favor não
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do senhor, mas dos mansionários (LMB: 80-82).
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No foral de fundação de Rixdorf, de 1360,
cada cabana devia pagamento pecuniário aos mansionários (CDB: Suplementum, 238). Embora
a rubrica de cabaneiro mascare às vezes grupos em posições sociais mais confortáveis os
artesãos p. ex. , é certo que o grosso dos cabaneiros pode-se entender como grupo bastante
pauperizado. As corveias sobre cabaneiros também costumam ser mais indefinidas do que as
incidentes sobre os mansionários, estas geralmente caracterizadas em função de uma ferramenta
(carreto, tantos dias de aragem ou de ceifa). Nas aldeias abadengas de Messeritz, os
mansionários carreavam estrume e lenha enquanto o serviço exigido dos cabaneiros era definido
conforme as circunstâncias de interesse senhorial (CDB: XXII, 75-77). Além dessa indefinição
quanto ao tipo de trabalho, em casos extremos, a corveia cabaneira, num traço arcaico para o
regime rentista, sequer apresenta limites temporais. Em Nachterheyde, os serviços de oito
cabaneiros são requisitados pelo senhor “sempre quando o quiser” (“Octo cossati Alberto pro
servicio, quamdiu vult”) (LMB: 302).
Em qual medida os cabaneiros se compõem de eslavos? Noutras palavras, em qual medida
a aculturação dos eslavos ao modelo da grande aldeia cerealífera ocorreu por meio de uma
posição social subalterna? Para o século XIV infelizmente as fontes não são muito eloquentes.
Em Zäckerick em 1355 se discriminaram quatorze cabaneiros eslavos (kossati slavi) e apenas
um cabaneiro alemão (cossatus theutunicus) (CDB: XIX, 79). Zäckerick, porém, ficava às
margens de um rio e talvez se tratasse de aldeia pesqueira, onde, conforme vimos, ainda no
Trezentos o componente eslavo era predominante. Indício muito mais indireto e também mais
instigante temos na venda que dois cavaleiros fizeram ao mosteiro de Diesdorf em 1319. A
transação envolvia “dois eslavos, nossos servos, a saber, Bernardo e Ricardo (duos slauos
nostros subditos, scilicet bernardum et richardum”). Cada qual dispunha de um lote, mas a
inferir pelas prestações não se dedicavam à cerealicultura, pois não pagavam cereal nenhum e
sim 6 marcas, dois porcos no valor de 16 sólidos, 8 frangos, 8 queijos, 40 ovos et 40 medidas
de linho (CDB: XXII, 114). Essas são exações pesadíssimas mesmo para a Altmark, região
onde o senhorio brandemburguês tinha características mais arcaicas, mais próximas ao regime
dominial. Também muito interessante é o fato de os dois eslavos, Bernardo e Ricardo, terem
nomes inegavelmente alemães. Não podemos afirmar se no caso dos dois eslavos estava
ocorrendo a transformação de cabaneiro em mansionário, mas tal movimento transparece
alhures. Em Berlinchen, cabaneiros cultivam lotes: case sive koten duos habuerunt mansos,
de quibus cultores dant II talentum slavicale pro pacta e censu(CDB: I, 453). Em 1358, o
vigário em Perlenberg arrendou a um aldeão em Ünze não um lote, mas também uma cabana,
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cada qual devendo pagamentos típicos às respectivas modalidades de exploração agrícola
(cereais num caso e frangos noutro) (CDB: I, 154). Nesse processo de ascensão social, que
pressupunha maior integração com as instâncias de controle da comunidade aldeã, é de se
presumir que os cabaneiros eslavos adotassem definitivamente o idioma alemão.
Conclusões
Em Brandemburgo a falta de fontes escritas abundantes antes do século XIV, quando o
processo colonizatório já estava bastante avançado, favorece uma perspectiva de reformulação
do espaço rural sem a participação eslava. Como nessa altura o assentamento mais
caracteristicamente descrito como eslavo são as aldeolas pesqueiras e extrativistas, a
tendência a se desconsiderar o papel da aldeola cerealífera nativa nos períodos anteriores. As
aldeolas pesqueiras e extrativistas puderam conservar-se como eslavas até o fim do Trezentos
porque ocupavam um nicho na economia que não concorria diretamente com a aldeia
cerealífera alemã. As aldeolas eslavas mais voltadas à cerealicultura, ao contrário, pelas
próprias homologias estruturais, teriam sentido com muito mais força a influência dos
assentamentos alemães, de maneira que ou acabaram sendo incorporados às aldeias planejadas
ou elas mesmas, em sucessivas mutações, se reformularam no feitio de aldeias planejadas.
A posição discrepante do nativo em face dos recursos do colono alemão, que, ademais
contava com um aparato institucional que favorecia sua cultura, acabaria, em maior ou menor
medida, a levar os eslavos a ocuparem posições subordinadas, ao menos nas fases iniciais da
colonização. A rápida assimilação à germanofonia provavelmente foi favorecida pela situação
mais precária da cabaneiro talvez menos no que tange à economia do que à estrutura familiar.
No século XIV, é possível inferir que os lares cabaneiros apresentam famílias muito menos
numerosas que as mansionárias e que, em certos casos, se encontravam reduzidos a um único
indivíduo. Nos censuais, há indicações recorrentes às corveias que se exigirão da cabana acaso
haja nela uma esposa ou mesmo um marido (CDB: I, 455). A chefia feminina dos lares
cabaneiros entrevê-se com muito mais frequência do que nos lares mansionários. Trata-se de
uma subversão da lógica do próprio sistema de parentesco europeu a partir da Idade Média
Central que tinha no homem o seu cerne, inclusive como centro de referência das exações
senhoriais. No caso dos eslavos, as estruturas familiares menos extensas dos cabaneiros sem
dúvida dificultariam a reprodução da cultura nativa e favoreceriam a assimilação pela cultura
dos mansionários alemães ou germanizados.
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As questões que se procurou trazer à baila neste artigo podem contribuir ao debate sobre
os mecanismos de resistência camponesa ao avanço do senhorio. Sabe-se que certas
comunidades camponeses resistiriam com tanto vigor à senhorialização que não apenas
conservaram certo grau de autonomia como chegaram a constituir aquilo que a historiografia
alemã chama de “repúblicas camponesas” (p. ex., a Frísia, a Suíça, Diethmarschen e Stending)
(RÖSENER, 1985, p. 237-240, 249-251; HERLIHY, 1985, p. 44). No longo prazo, essas
comunidades acabaram absorvidas, se não plenamente pelo regime senhorial, ao menos pelo
Estado moderno. Em casos singulares, a evolução foi no sentido de elas próprias virem a
constituir Estado, cujo exemplo mais clássico é a Suíça, que desde o século XIII tinha uma
posição muito independente em face do Sacro Império e que até hoje conserva particularidades
na sua organização política localista. O rechaço a uma senhorialização plena por vezes ajudou
a conservação de traços étnicos, sobretudo a língua, mesmo em face da instrução pública e dos
meios de comunicação: é o caso dos bascos e, em menor medida, dos frísios.
A senhorialização e a resistência a ela sem dúvida envolvem multiplicidade de fatores
estrutura familiar campesina, condicionantes geográficos, atividades econômicas
predominantes, formas de assentamento, coesão da classe senhorial etc. e, decerto, a
interrelação étnica entre colonos e nativos nos movimentos migratórios da Idade Média Central
tem também seu lugar para a construção de um modelo que conta da dinâmica da expansão
e reprodução do senhorio.
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Recebido em 31/03/2020.
Aceito em 24/05/2020.
1
O artigo aqui publicado elabora algumas questões que ficaram por explorar na minha tese de doutorado A
Colonização Oriental e o Senhorio Rural em Brandemburgo (séculos XIIXIV). Nela um desenvolvimento mais
amplo da terminologia, da problemática geral, das fontes e do contexto histórico, elementos que, pela limitação do
espaço, muitas vezes tivemos de tratar de forma sumaríssima neste artigo.
2
Cf. também TSYGANENKO, G. P. Etimologicheskii Slovar’ Russkoga Jazika, v. “knjaz’”, p. 180.
Fronteiras: Revista Catarinense de História. DossFronteiras, migrações e identidades nos mundos pré-modernos. N 35, 2020/01
ISSN 2238-9717
130
DOI: https://doi.org/10.36661/2238-9717.2020n35.11420
3
Para esquemas, cf. DETTELBACH, Werner. “Alltagsleben in Hochmittelalter”. IN: PLEITCHA, Henrich (org.).
Deutsche Geschichte. Gütersloh: Bertelsmann, 1993, pp. 165-180, v. III; KOEPF, Hans. Bildwörterbuch der
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4
Por comodidade, por LMB abreviamos a edição do censual de 1375 publicado por SCHULTZE, Johannes (ed.).
Das Landbuch der Mark Brandenburg von 1375: Brandenburgische Landbücher.Berlim: Gsellius, 1940.
5
HELMOLDO. Chronica Slavorum, liv. I, cap. 12, p. 25: “Sclavicum vero aratrum par boum aut unus conficit
equus”, LXXXVIII, p. 174: "Porro Slavicum aratrum perficitur duobus bubus et totidem equis.".
6
cum homines quidam quarundam villarum, videlicet Cuzeresdorp, Honlege, Modenburg et item Modenburg, ad
ecclesiam Distorp pertinentium nondum fidem catholicam ad plenum susceperint, sed adhuc quibusdam teneantur
paganis ritibus irretiti”.
7
Para fins de comodidade, abreviamos por CDB a coletânia de fontes brandemburguesas em vários volumes
editada por RIEDEL, Adolph (ed.). Codex diplomaticus Brandenburgensis: Sammlung der Urkunden, Chroniken
und sonstigen Geschichtsquellen für die Geschichte der Mark Brandenburg und ihrer Regenten. Berlim: 1838
1869. O algarismo romano designa o volume.
8
Obviamente simplificamos muito aqui a função do senhorio fundiário na aquisição de status e outras exações
para a manutenção da classe senhorial, mas o ponto é enfatizar, para o senhor, sua função imediata do lote era a
renda. Na própria crise da Baixa Idade Média, o elemento disruptivo foi justamente a queda das rendas, não a
contestação do poder senhorial.
9
“Octo sunt curie cossatorum, quilibet dat unum solide um agricolis.”; “Curie cossatorum sunt 16, quorum quilibet
dat 1 solide um agricolis.”; “Cossatorum curie sunt 10, quelibet dat 1 solide um agricolis.”