
Fronteiras: Revista Catarinense de História. Dossiê Fronteiras, migrações e identidades nos mundos pré-modernos. N 35, 2020/01 –
ISSN 2238-9717
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DOI: https://doi.org/10.36661/2238-9717.2020n35.11218
jornais, é possível analisar o comportamento dos alunos na escola, tanto durante as aulas
como em atividades externas ao colégio (BOSCHILIA, 2018, p.192). O Serviço de alto-
falantes também foi utilizado para animar os recreios e organizar eventos, como festas.
Uma das atividades muito frequentadas pelos estudantes e comunidade próxima era o
cinema Santa Maria, que iniciou seu funcionamento em 1950, como forma de utilizar a
modernidade em prol dos objetivos de uma instituição católica. As sessões eram organizadas
e adequadas pelo colégio que, com participação dos alunos, selecionavam e adequavam os
filmes à moral cristã. Em relação aos círculos religiosos, incentivados pela escola e pelo Guia
escolar, era formado apenas por alguns alunos de elite selecionados por processos de
aprovação. No meio desses grupos se mantinha a tradição religiosa, a pureza e a fé. As
atividades comuns ao grupo eram de catecismo, trabalhos sociais e recreativos. Por fim um
dos grupos de identificação com certa importância foi a Associação dos Antigos Alunos do
colégio Santa Maria, responsável em reunir os ex-alunos, a grande maioria de uma elite do
colégio, que mantinham as tradições e religiosidade.
No capítulo Construindo Memórias, Boschilia busca entender como os ex-alunos do
colégio Santa Maria reveem ou reconstroem as experiências vividas no colégio, focando tanto
na memória individual quanto na coletiva. Neste sentido, trabalha com o conceito de geração,
não apenas cronologicamente, mas também como forma de unir experiências. Revendo o
conceito de memória, Boschilia passa desde Aristóteles, para se apoiar em Michael Pollak,
Michel de Certeau e Paul Ricoeur, além dos nomes mais recentes como Jacques Le Goff e
Pierre Nora, para entender o trabalho do historiador com a memória. Relacionando a memória
com a identidade escolar, Boschilia busca nos estudantes do colégio Santa Maria rever a
memória construída por esses personagens. A autora trabalha, por meio das narrativas da
memória, sobre como lembravam os alunos da escola, nota que conforme o grupo em que se
encontrava o entrevistado e o período em que esteve no colégio, estes relembram a escola e as
motivações que os levaram a ela, de forma diferente.
Para a identificação e seleção desses estudantes, Boschilia separa em dois grupos
distintos devido às fases e processos diferenciados que o Santa Maria passou. O primeiro unia
desde a formação do colégio até 1942, e o segundo grupo a partir de 1943 que se inicia com
os projetos vindos pelo Estado Novo e final do governo Vargas. Boschilia afirma que, por
meio das memórias e noções de pertencimento, foi possível perceber a eficácia das redes
estabelecidas entre os antigos alunos do colégio, pois muitos alunos remeteram aos encontros
de antigos colegas e amigos de infância vindos do colégio (BOSCHILIA, 2018, p.269). Entre